‘O coronavírus não sequestrou a trama’, diz autora de Amor de Mãe

Manuela Dias fala sobre temporada que estreia dia 15, perda de bebê e centro cultural que terá no Santo Antônio

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  • Laura Fernades

Publicado em 12 de março de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Jorge Bispo/TV Globo

A novela Amor de Mãe ficou quase um ano parada por conta da pandemia da covid-19, mas sua autora, a baiana Manuela Dias, 43 anos, manda um recado sobre a segunda temporada que estreia na segunda-feira (15): “O coronavírus não sequestrou a trama”. Ou seja, apesar das máscaras e dos protocolos intensos que aparecem na tela e nos bastidores, Amor de Mãe “não virou uma novela sobre a pandemia”.

Em entrevista ao CORREIO, a autora conta como será a segunda fase da novela que marcou sua estreia na TV e no horário nobre da Globo, fala sobre a perda de um bebê e sobre o que sente falta em sua terra natal. Manuela também revela planos já em andamento para criar um centro cultural no Santo Antônio Além do Carmo, conta como será a segunda temporada da série Justiça e fala sobre maternidade.

“Acho que o amor de mãe é a única coisa mais forte do que o instinto de sobrevivência”, diz, fazendo referência ao nome da trama que voltou a ser exibida no dia 1º de março, em edição compacta de duas semanas. Sem revelar detalhes sobre os capítulos inéditos, Manuela declara seu amor por Lurdes, personagem de Regina Casé, e conta o que a fez a voltar a escrever apenas quatro dias depois de perder um filho. Confira. A baiana Manuela Dias é autora de Amor de Mãe e da série Justiça (Foto: Jorge Bispo/TV Globo) Você disse em entrevista coletiva que ainda não tem o distanciamento necessário para avaliar sua estreia na novela das 21h. Mas o que dizer sobre fazer parte desse momento histórico em sua estreia no horário nobre? Quando entreguei a sinopse pro Silvio [de Abreu, diretor de dramaturgia da Globo], ele leu e disse que era pro horário das nove. Estrear como autora de novela no horário nobre era um imenso desafio mas, naquela hora, eu não fazia ideia do que me aguardava. Tenho a nítida percepção de que estamos passando por um momento histórico, na TV e no mundo. Entreguei toda minha vida pra dar conta desse recado, espero que o público goste! 

A pandemia tem aguçado a sensibilidade das pessoas. Como essa emoção se traduziu nos bastidores das gravações de Amor de Mãe? Como autora, não gosto de estar no set, não acompanho as gravações. É a única parte do processo na qual acho que a minha presença não tem a acrescentar e, ao contrário, pode causar alguma trava no processo criativo do diretor com os atores. Acompanhei tudo à distância, falando mil vezes por dia com o Zé Luiz (diretor artístico da novela). E foi muito emocionante ver a novela realmente voltando…

Sua preocupação desde o início foi não trazer a pandemia para o texto. Por quê? Quando paramos, era só por duas semanas, lembra? Foi nesse momento que pensei em manter a covid fora da trama. Mas logo ficou claro que a pandemia não seria um capítulo rápido na História. 

Pode nos contar como está estruturada a narrativa da segunda fase da novela? Ela começa com o marco de 9 mil mortos e como segue a partir daí? A narrativa se estrutura como na primeira fase, entre as três protagonistas. O cruzamento da história das três fica cada vez mais claro. Apesar do intenso protocolo-covid durante as gravações, os espectadores vão rever a novela que foi interrompida. Narrativa engatilhada, alta carga emocional e reviravoltas. O coronavírus não sequestrou a trama, Amor de Mãe não virou uma novela sobre a pandemia, segue sendo sobre a busca de Lurdes por Domênico, sobre tudo o que Thelma é capaz de fazer para não perder seu filho e sobre como a maternidade mudou completamente a vida de Vitória.

Já que durante a entrevista coletiva não foi revelado quase nenhum detalhe sobre a nova fase da novela, pode contar o que está por vir? Desafio… negado. Desculpe, mas não posso adiantar nada da trama. 

Lurdes te conecta, de alguma forma, com a Bahia? O que te encanta nessa personagem que faz da toalhinha sua extensão? Lurdes pra mim é o Brasil. Uma mulher que cria sozinha seus filhos, com garra, humor e afeto. O Brasil é uma mátria. E a Bahia, pra mim, é o berço de tudo. Berço do Brasil e o meu.  (Foto: Jorge Bispo/TV Globo) O que é amor de mãe, para você? Como descrever esse tipo de afeto e como ele se materializa em sua vida? Eu demorei e batalhei muito pra ser mãe. Hoje existe esse mito “Dona Jura” que a mulher pode engravidar com 40, 45, 50… A Dona Jura engravidou com 56! Mas, pela minha experiência? Não é assim tão simples. Perdi dois bebês antes da minha filha nascer. Eu tinha muitas expectativas sobre ser mãe, mas o nascimento de Helena superou todas elas. Acho que o amor de mãe é a única coisa mais forte do que o instinto de sobrevivência.

O que você mais sente falta na sua terra natal? Eu? Sinto falta de tudo. E sinto falta diariamente. Voltar a morar na Bahia é uma coisa que está sempre no meu radar. Eu comprei um sobradinho ali no Santo Antônio, um sonho de adolescência. Quero que Helena tenha contato com a cultura, com a família, com o mar quentinho. Levei minha filha pra Salvador, com meses, pra que o primeiro banho de mar dela fosse aí, porque isso é muita bênção! 

Conte mais sobre essa vontade... Essa vontade é tão forte que estou concretizando, com dois sócios, outro sonho antigo. Essa é uma novidade boa… Nos reunimos, eu, meu compadre, amigo desde os 14 anos no Teatro Vila Velha, o empresário Marconi Patterson, e outra grande amiga, a empresária mineira Angela Castanheira, e compramos um casario no Carmo para fazer um centro cultural. A ideia é ter um espaço que abrigue teatro, galeria de arte, bistrô, sala de leitura com cursos rápidos, além de residência artística e gastronômica. Claro que ainda estamos ajustando o conceito, mas o projeto é trabalhar com um sistema de ocupação em todos os espaços. A Bahia tem uma identidade cultural forte e uma clara vocação cosmopolita, nós queremos fomentar esse diálogo artístico de Salvador com centros e movimentos culturais do mundo, sem perder nossa maior referência que é a cultura baiana, claro. 

Você comentou que Justiça terá uma segunda temporada. O que pode nos contar? Nesse momento estou empenhada em dois projetos, em momentos distintos de desenvolvimento. Uma minissérie inspirada no livro da minha madrinha de vida, a grande e saudosa Conceição Senna. Um livro espetacular sobre as memórias dela em Canudos dos anos 1940. Ao mesmo tempo, vou contar a Guerra de Canudos, um dos maiores exemplos de crueldade do poder e, ao mesmo tempo, de resistência que eu já pesquisei. Ao mesmo tempo, estou engrenando no Justiça 2, que é um projeto pelo qual sempre estive ansiosa! Sobre as histórias, não posso adiantar nada, mas posso dizer que vou usar o mesmo formato de personagens que vão presos e saem da prisão anos depois, além das cenas de cruzamento que são parte fundamental no formato. 

Você mencionou na coletiva que perdeu um bebê e dias depois estava escrevendo. Por que contar histórias é algo tão forte em sua vida? Escrever me ajuda a pensar. Mais do que isso, me ajuda a saber o que eu penso e o que estou sentindo. É uma ferramenta de expressão e organização desse mar revolto que vive dentro da gente.