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Da Redação
Publicado em 30 de janeiro de 2019 às 10:15
- Atualizado há um ano
Na última semana, o Brasil ficou chocado com o que aconteceu em Brumadinho-MG por ser uma tragédia que matou centenas de pessoas em questão de minutos, acabou com parte das casas, matou animais, devastou… Fez miséria. Mas, uma coisa me chamou a atenção e com certeza alguns dos que leem jornais, veem noticiários e que, no mínimo, se informam sobre o que acontece no país ao longo da historia, sabem. Esse tipo de desastre sempre acontece e a gênese dele é, no mínimo, o descaso das autoridades responsáveis que, no “exercer da sua função”, não cumprem as obrigações nem sequer para planejar algo de mentirinha. A a solidariedade do povo que doa o que não te serve mais para as vitimas vem num ciclo que se completa. É natural.
Quando eu era criança e morava no Subúrbio Ferroviário de Salvador, lembro de vários desastres que mataram muitas pessoas. E o primeiro foi o desabamento do Motel Mustang, em maio de 1989, por conta das fortes chuvas que caiam na capital. Depois, lembro de ter assistido a reportagens sobre o deslizamento de terra no Arraial do Retiro, que aconteceu sob as fortes chuvas de junho de 95; depois tivemos outros deslizamentos seguidos de desabamentos no subúrbio e outros bairros periféricos de Salvador.
Se pararmos para analisar a relação desses acontecimentos, veremos que todos eles têm o mesmo perfil, a incompetência atrelada à falta de compromisso com a vida do povo e a desumanidade. Sem contar a corrupção que é encontrada em nosso DNA histórico. Esses acontecimentos são geralmente consequências da falta de planejamento das cidades que, na maioria das vezes, não têm condições de abrigar, naqueles lugares, a quantidade de casas com famílias morando em condições precárias e risco.
O “descaso” (segundo o dicionário leia-se “…procedimento próprio daquele que não dá importância ou atenção a; desconsideração, desdém, desprezo…”) é característica de todo e qualquer governo que depois que acontece o fato é o primeiro a convocar o segundo membro dessa familia. A “solidariedade”, segundo o dicionário leia-se “…sentimento de simpatia ou piedade pelos que sofrem. Manifestação desse sentimento, com o intuito de confortar ou ajudar…”. Essa dupla está presente e de mãos dadas na história e não é à toa que são os país da tragédia contemporânea na vida do povo brasileiro.
No caso de Brumadinho acontece o mesmo. A tragédia que aconteceu em Mariana ja tinha dado esse alerta e hoje, depois de centenas de pessoas desaparecidas e algumas encontradas mortas, lembraremos de uma lista revelada em 2015 que apontou 663 barragens de contenção de rejeitos de mineração e 295 barragens de resíduos industriais no Brasil com 77 rompimentos, embora a maioria dos casos tenha ganhado pouca repercussão ou quase nenhuma, segundo a EBC Brasil.
Para completar o raciocínio, cito aqui o terceiro componente dessa” família” que é o “povo pobre brasileiro”, filho do descaso e da solidariedade citadas antes. A esse povo resta a herança dos desastres, composta de mortes, desaparecimentos, perdas de bens, no caso das vítimas. No caso do “Povo pobre brasileiro Consternado”, - leia-se consternado segundo dicionário “… que se consternou; desolado, triste, abalado, pesaroso…” - com a catástrofe, a famosa solidariedade se manifesta fazendo campanhas em todo o território nacional para socorrer as vitimas da tragédia anunciada. Nesse furdunço há quem aceite esse comportamento do governo brasileiro com seu discurso dizendo que a natureza é imprevisível, tirando o peso da responsabilidade politica nesses eventos. Há quem diga que essas catástrofes não são criminosas. E há quem diga até que a culpa é de quem morreu por morar em lugares condenados.
É nítida a conivência dos que não sofreram nenhum acidente desse tipo ou sequer teve parentes tragados por esses eventos. Ricos e pobres se revezam nas mãos do descaso e da solidariedade, políticos e empresários sambam nas lamas de corpos deixadas pelas tragédias dizendo “…sinto muito mas a culpa não é minha…”. E assim, seguimos esperando a próxima tragédia acionada pelo descaso seguida da posterior solidariedade.
E por fim, sabemos que enquanto a televisão estiver mostrando o processo fúnebre estaremos sentindo a dor alheia provocada pelos pais do desastre - descaso e solidariedade. Bastar aparecer uma novidade e esqueceremos de tudo e de todos como fizemos com a tragédia no Morro do Bumba em Niteroi, no Rio de Janeiro em 2010, onde um deslizamento de terra matou 267 pessoas deixando um saldo de 48 corpos encontrados e muitos desabrigadas.
A “solidariedade” passou por lá depois do “descaso”, assim como passou em outras comunidades. Confesso, não suporto essa dupla.