O dia em que Shakespeare desembarcou em Salvador

Estreia de Sonho de uma noite de verão recriou, no Gregório de Matos, clássico shakespeariano

Se um dia ficou aborrecido por ter uma de suas clássicas obras adaptadas para o Carnaval de Salvador, William Shakespeare finalmente deu o aval do perdão.  “Shakeaspere deve estar feliz com a gente”, brincou Adriana Falcão, roteirista e escritora que, em 2006, assinou a primeira paródia do shakespeariano Sonho de Uma Noite de Verão. Nesta sexta-feira (29), no Teatro Gregório de Matos, a obra foi transformada no musical Sonho de uam Noite de Verão na Bahia, assinado por João Falcão, e Salvador virou terra de semideuses. 

A adaptação de João Falcão, conhecido por trabalhos como o filme A Máquina e a minissérie O Auto da Compadecida, venceu,  junto ao grupo baiano Coletivo 4, um edital do projeto Fábrica de Musicais lançado pela Gregório de Matos, em setembro de 2018. A ideia era justamente impulsionar o teatro musical na Bahia. No caso, a um teatro encenado por semideuses gregos que chegam à folia soteropolitana, por acaso, dispostos a descobrir se existem mesmo seres-humanos. Descobrem muito mais. Você duvida?

A saga é acompanhada por clássicos musicais. Uma mistura dirigida pelo músico Yacoce Simões. É Bossa Nova com pagodão, pagodão com Axé e Axé com Michael Jakson. “Acho que o musical é muito rico. Porque é preciso desenvolver todas as habilidades de um artista. Esperamos que venha cada vez mais projetos como esse. É mais uma possibilidade para nós, artistas baianos”, falou a cantora Cláudia Cunha, parceira de Yacoce em outro espetáculo meio teatral e totalmente musical, o Duas e Dois.

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O teatro lotado viu o grande herói ateniense Teseu como um corrupto espertalhão baiano, Demeter como um digital influencer chifrudo, rei e rainha com dilemas mortais e as brigas de amores correspondidos e não correspondidos. Também viu o carnaval revelado em suas estrenhezas e belezas: o barulho eterno, as pulseirinhas de Camarote, os abadás, a fantasia do Ilê Ayê, vestida por Oberon, interpretada pela baiana Ana Mametto. Sem falar na Praia da Gamboa, cenário de um amor proibido. O resto é spoiler.“Acho que o projeto da Fábrica de Musicais é um bom ponto de partida. Os musicais precisam ser bem produzidos, porque precisa de corpo técnico, de aparato, o que requer dinheiro. As produções precisam de dinheiro para brilhar. As produções precisam de suporte para brilhar”, afirmou o diretor musical Luciano Bahia, parceiro de João Falcão na peça A Ver Estrelas.  O presidente da Fundação Gregório de Matos, Fernando Guerreiro, compartilhou a ideia, quando convidado ao palco depois do espetáculo. E incentivou os artistas a persistirem em seus projetos: "Isso aqui é só o ponto de partida. É uma ideia minha de muito tempo incentivar os musicais. Eu acho um gênero fantástico que tem tudo para dar certo aqui. Vocês, artistas, é que têm que segurar os projetos, briguem pelos projetos".

Os artistas personificaram uma baiana shakesperiana, mas ainda completamente baiana. “Acho que temos uma riqueza muito grande, somo um celeiro musical. A música, o musical, já está na gente”, metaforizou o ator Frank Menezes, antes do início da peça. O espetáculo segue em cartaz até o dia 28 de abril. 

O diretor João Falcão agradeceu à plateia, que aplaudiu de pé: “Salve, Salvador. Bahia, salve”. Antes, as fadinhas de Oberon descobriram que não conheceriam apenas os humanos, mas os humanos soteropolitanos. Tudo bem. A essa altura, já eram todos baianos.  

Serviço

ESPETÀCULO: Sonho de uma Noite de Verão na Bahia, um musical de João Falcão.

DIREÇÂO: João Falcão

ONDE: Teatro Gregório de Mattos (Praça Castro Alves s/n – Centro, Salvador/Ba)

QUANDO: 29/03 a 28/04 (quinta a domingo), às 19h - estreia no dia 29/03 para imprensa e convidados | sessões vespertinas: 30/03, 06/04, 13/04, 20/04 (sábado) e 28/04 (domingo) – às 16h

QUANTO: R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia-entrada) mediante apresentação de documento oficial com foto

VENDAS: www.sympla.com.br/sonhonabahia

Informações: A bilheteria funciona nos dias de espetáculo, duas horas antes da apresentação. Telefone: (71) 3202-7888 Classificação indicativa: Livre

*Com supervisão do editor Roberto Midlej