O dia mais longo do ano

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  • Kátia Borges

Publicado em 3 de novembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O dia mais longo do ano anuncia noventa e três dias de Verão. Não há obrigação alguma em ser feliz, ou registrar o riso em fotos, só essa preguiça enorme de sofrer que empurra para fora da cama mal a manhã aponta. Considera-se adiado o processo em curso desde o último Inverno: elaborar as razões de estar triste, justificar para si mesmo as culpas outras noventa e três vezes, lamentar as perdas, cada fracasso, toda angústia.

Viveremos dessa felicidade doce que nossos pais ensinam nos veraneios desde a infância, quando até os tios mais sisudos mostram as pernas, molham os pés, bebericam e perdem a compostura. É preciso parar um pouco, de vez em quando, feito o Sol no céu no dia mais longo do ano. Como no belo poema de Maiakovski, que virou pop pela mão dos Irmãos Campos, é imperativo criar versos luminosos em um mundo escuro.

Enquanto descansamos esse tumulto, como um lençol graúdo no quarador, projetaremos na areia relógios mecânicos. E, de areia, faremos clepsidras e ampulhetas. E os mais antigos erguerão obeliscos em direção ao azul. E os mais antigos dançarão para acalmar os ventos. E o Tempo, visto assim, como algo maior, será a medida que oscila entre inércia e movimento, será a vida que oscila entre a sombra e o Sol.

Na tempestade, desenharemos com giz nas calçadas como na infância. E aguardaremos, contando os segundos, para que o tempo abra. Porque o dia mais longo do ano nos ensina sobre como o Sol ameniza a letalidade de seus 40 trilhões de megatons. E bem ali, morando na utopia, na periferia da Via Láctea, aconchegado no Braço de Orion, ainda restam bilhões de anos, e de hidrogênio, e de energia.