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Publicado em 13 de outubro de 2018 às 05:00
- Atualizado há um ano
Estatueta de 'São' Luiz Gonzaga em pedacinhos (Foto: Acervo Pessoal) É verdade que foi homicídio culposo, quando não há a intenção de matar. Eu, todo atrapalhado com o colar elisabetano (após ser castrado), esbarrei na mesinha da sala onde ficavam o telefone, o modem da internet e o São Luiz Gonzaga de meu pai. Resultado. Seu Lua voou direto para o chão. A casa toda acordou com o barulho. Facínora da melhor espécie, esquartejei o coitado em três pedaços. Cabeça, sanfona e as duas pernas. Lampião com o colar elisabetano após ser castrado (Foto: Acervo Pessoal) Meu pai ficou doido, mas em momento nenhum pensou em me castigar. Sabe que não faria isso de propósito. Apesar de não terem se conhecido, Virgulino e Luiz Gonzaga tinham muito em comum. Além de pernambucanos, tornaram-se mitos nordestinos. O primeiro, cangaceiro, ficou no imaginário popular como um misto de herói e bandido. O outro, sempre vestido com a indumentária do cangaço, virou gênio da música. Em várias de suas composições, Luiz cita Lampião e até fez músicas exclusivas para ele. Uma delas traz aquela letra que todo mundo conhece: “É Lampa, é lampa, é lampa; é lamparina, é lampião. Seu nome é Virgulino, apelido Lampião”.
No clipe de outra música, Luiz incorpora o próprio Lampião. Armado, acompanhado de Maria Bunita e de seu bando, invade um acampamento. Chega a dar tiros para o alto, mas, em vez de promover a matança, faz todo mundo dançar. Lua descreve até mesmo como foi a morte do bandido, no dia 28 de julho de 1938, na Fazenda Angico, em Sergipe, quando caiu numa tocaia da volante do Sargento Bezerra. Acabou decapitado, assim como a estatueta de barro.
Na letra, o que mais chama a atenção é o fato de Gonzaga usar Lampião para disparar sua ironia. “O criminoso era eu e os santinhos me mataram. Apagou-se o Lampião, outros lampiões ficaram”. Nas entrelinhas, Luiz critica mesmo é a violência do campo imposta pelos coronéis latifundiários e políticos corruptos: “O cangaço continua, de gravata e jaquetão. Sem usar chapéu de couro, sem bacamarte na mão. E matando muito mais. Tá cheio de Lampião”. Imperdível.
Quanto à quebra da estatueta, o mais curioso é que ela aconteceu dois dias depois da data que marca a morte de Luiz Gonzaga, em 2 de agosto (1989). Mas, meu pai disse que eu tava perdoado. Até porque, é para ocasiões como essa que existe super-bonder. Depois do remendo, valeu até acender a vela para mestre Lua com a cola-tudo bem do lado. Amém. Santa Super Bonder (Foto: Acervo Pessoal)