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Da Redação
Publicado em 16 de outubro de 2018 às 13:10
- Atualizado há um ano
O resultado das eleições apontou para um dado importante: o Congresso brasileiro é considerado o mais conservador desde a redemocratização. E este fato expressa algo que, à primeira vista, parece difícil conceber: os políticos eleitos, afeitos às pautas conservadoras, são expressão das demandas de parcela significativa da sociedade
Para começar é preciso entender que o brasileiro, no geral, é conservador no que tange aos costumes. E o que são estes costumes? São valores religiosos de matriz cristã bastante intolerantes, traços patriarcalistas, familísmo tradicional, xenofobia regional, patriotismo arcaico, paternalismo, machismo, racismo. Não nos enganemos: o ideal humanista, liberal e democrático, de origem europeia e norte-americana, que preza pelo progresso moral e científico, não foi muito bem assimilado pelo cidadão comum brasileiro. Em diversos sentidos, o tradicionalismo sobreviveu face à modernização!
Joaquim Nabuco, grande pensador e abolicionista brasileiro do século XIX, preocupou-se com a realidade tupiniquim após a Abolição da Escravatura, em 1888. O que seria do país após libertação dos escravos? Como tornar senhor e escravo cidadãos que, de um lado, vigorou o despotismo e a autoridade, e do outro o servilismo? Pois bem, a internalização dos ideais democráticos não seria dada de imediato. O político pernambucano acreditava que a escravidão foi muito mais do que uma relação senhor e escravo: ela atingiu toda a estrutura social e todas as classes. O espírito da escravidão assombraria a sociedade brasileira por longos períodos, pois capacitar um cidadão livre, autônomo, com uma consciência de tolerância, justiça, igualdade e liberdade individual, não se faria de um dia para outro.
Não bastou apenas libertar os escravos da barbárie criada pelo sistema escravista, alargar alguns direitos e estabelecer o trabalho livre; era necessário desenvolver bases estruturais voltadas principalmente para educação moral e cívica. O Estado brasileiro, historicamente paternalista, foi incapaz de incutir em todas as classes a virtude da igualdade perante a lei, da tolerância, liberdade e self government.
O fim da Monarquia no Brasil, a tentativa de estabelecer a ampliação da cidadania, numa perspectiva de incorporar a moral moderna calcada no respeito ao humano, desprovido de origem, cor, gênero, classe foi pouco efetiva. Também houve um frágil avanço na compreensão da res publica, do zelo à coisa pública e da diferença com o mundo privado. Quando olhamos para a realidade do país, percebemos uma desigualdade social abissal, que carrega ainda consigo valores hierárquicos muito enraizados na política e no cotidiano. A conclusão é óbvia: estamos ainda muito próximos do espírito secular de 300 anos de escravidão, com fortes sequelas históricas.
Alan Rangel Barbosa é Doutor em Ciências Sociais UFBA. e professor da Faculdade Fundação Visconde de Cairu.
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