O fascismo também se fortalece nas crises econômicas (e por que não de segurança?)

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Publicado em 9 de fevereiro de 2019 às 14:00

- Atualizado há um ano

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Umberto Eco, um famoso escritor e filósofo italiano, fez uma conferência intitulada Ur- Fascismo ou Fascismo Eterno, em 25 de abril de 1995, nos EUA. Eis alguns pontos que considero bastante importantes.

 O fascismo não é uma característica exclusiva de um período histórico. É verdade que ele se tornou institucional, e como tal atingiu o Estado. Mas, o fascismo mistura vários elementos e características multifacetadas, políticas, ideológicas e religiosas inarticuladas, confusas, que podem ser encontradas por aí. A fragrância do fascismo espera emergir das profundezas do tecido social; quando encontra solo firme pode instaurar-se duradoura, como no caso italiano.

O espírito fascistoide idolatra o culto à tradição, e tem uma indisposição ferrenha a novos saberes, ao avanço do conhecimento. Há também uma recusa à modernidade, ao Iluminismo, a visão racionalista de mundo; logo uma defesa do irracionalismo, do irrefletido.

O irracionalismo combina também com o culto da ação pela ação, esta valendo por si mesma, e qualquer tipo de reflexão é algo antinatural, perigoso. “Pensar é uma forma de castração, por isso a cultura é suspeita na medida em que é identificada com atitudes críticas” (p.48). Logo o anti-intelectualismo é outra faceta do fascismo. O espírito crítico, as discordâncias filosóficas ou científicas também são mal vistas, pois geram diversidades, diferenças, indo de encontro ao consenso, visto, a priori, como indispensável.

O Ur-fascismo é comum em diversas formas de ditadura, e uma forma de eliminar o pensamento crítico é a criação de um léxico pobre e uma sintaxe elementar (lembram-se de novilíngua, em Orwell) em textos produzidos. Tudo isso com a finalidade de limitar o raciocínio mais elaborado, complexo.

O fascismo também se fortalece nas fortes crises econômicas (e por que não de segurança?) que afetam grupos e indivíduos de classes médias; os inimigos podem ser os desfavorecidos, imigrantes, etnias, ideologias, estrangeiros. Um forte sentimento de nacionalismo em voga pode tender a destruir direitos civis em favor da apologia à homogeneidade de um povo, com uma “vontade comum”. O líder é o próprio intérprete dessa vontade. O populismo qualitativo se opõe aos governos parlamentares. “Cada vez que um político põe em dúvida a legitimidade do Parlamento por não representar mais a ‘voz do povo’, pode-se sentir o cheio de Ur – Fascismo” (p.58).

Há também um Complexo de Armagedom: uma forte crença que depois de derrotar os inimigos do povo haverá uma nova Era, uma Idade de Ouro.

Por fim, caros leitores, atualmente existe uma forte disposição para os elementos apontados acima, configurados em trajes civis.  A luta contra o fascismo eterno é a luta a favor da liberdade, resta saber se as pessoas a preferem ou desejam a servidão voluntária.

ECO, Humberto. Fascismo Eterno. Rio de Janeiro: Record, 2018.

Alan Rangel Barbosa é doutor em Ciências Sociais/UFBA e professor da Faculdade Fundação Visconde de Cairu

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