O legado do sol quadrado

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  • Da Redação

Publicado em 7 de outubro de 2017 às 05:00

- Atualizado há um ano

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“Os Jogos Olímpicos foram planejados, e efetivamente estruturados, tendo trazido um ciclo econômico bastante interessante para essa organização criminosa. E foi uma das melhores estratégias de capitalização política, e financeira também, para que essa organização criminosa pudesse atuar. A partir dos Jogos Olímpicos veio uma avalanche de investimentos, não só privados, mas públicos também”.

O parágrafo acima é uma fala da procuradora da República Fabiana Schneider, na quinta-feira, ao explicar os motivos que levaram para a prisão o já desmoralizado Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Graças a umas dessas coincidências da vida, encerrei a coluna passada, há uma semana, com a torcida para que o legado olímpico de Nuzman fosse uma estadia no xadrez.  Cinco dias depois, o todo-poderoso do esporte olímpico brasileiro foi despertado logo cedo por policiais federais que, gentis, ainda deram-lhe tempo de trocar o pijama pelo terno e gravata antes de ir em cana.

O raciocínio da procuradora Schneider casa exatamente com outro trecho da coluna passada, qual seja: “A lógica é simples: a propina que ele é acusado de distribuir para trazer a Olimpíada para o Brasil não chega nem perto da grana que ele movimentou para organizar os Jogos. E ‘movimentar’, claro, é só modo de dizer”. Não se tratava de grande interpretação. Era apenas o óbvio.

Qualquer pessoa que tenha acompanhado minimamente os bastidores do desporto no Brasil em algum período dos últimos 20 anos sabe que Nuzman – e não somente ele – é um pilantra de marca maior, que ergueu um patrimônio milionário às custas de atletas que dedicam a vida em treinamentos sem estrutura adequada e são reféns de dirigentes que só pensam em manter a engrenagem da qual fazem parte.

Após a prisão de Nuzman, Bebeto de Freitas, um dos grandes nomes do esporte olímpico nacional – e que nunca se curvou ao chefe da máfia -, chorou ao desabafar: “Estou triste. Trabalhei pra caramba. Não trabalhei para ele ser preso, não. Trabalhei pra c… para esse vôlei do Brasil. Essas coisas perduram por culpa nossa. A culpa é daqueles que não tiveram coragem do botar o dedo na ferida e falar. Era mais fácil dizer que eu estava maluco, doido. Esses anos todos sempre soubemos, sempre tivemos certeza de que coisas erradas aconteciam. Enfim, culpa de todos do esporte no Brasil. Culpa das confederações, federações, de todos. Essas coisas só acontecem quando as pessoas não se revoltam. A gente não tem indignação. Enquanto no Brasil esse sentimento não aflorar, a gente vai viver no país de merda em que a gente vive”.

A indignação desejada por Bebeto serve para Nuzman e para outros malandros do esporte, como os famosos do futebol (Ricardo Teixeira, Del Nero e Marín, entre muitos, na Bahia inclusive) e outros menos citados das mais diversas modalidades, como natação, handebol e tênis de mesa, só para lembrar de modalidades com escândalos recentes.

Ocorre que a indignação desejada por Bebeto deveria servir também para os políticos, aqueles que tentam todos os dias uma manobra para não ter o mesmo destino de Nuzman. É graças ao suporte político que nossos cartolas, em regra, são como são.

E, infelizmente, é muito graças aos nossos políticos que o país, como bem define Bebeto, vive na merda. Até quando aceitaremos?

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados.