O lugar delas é no controle: mulheres dominam perfil de jogadores

Representando 58,9% do público que consome jogos eletrônicos, meninas enfrentam machismo do mundo dos games

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  • Laura Fernades

Publicado em 24 de julho de 2018 às 06:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Basta a mulher estar identificada com seu nome ou apelido na hora de jogar videogame online para ouvir frases pra lá de desagradáveis. “Cala a boca, menina não pode falar”; “seu lugar é na cozinha, fique lá”; e “você só é boa para fazer sexo” são apenas algumas delas. Diante de tanto machismo, nem parece que as mulheres dominam o perfil dos gamers brasileiros  pelo terceiro ano consecutivo, compondo 58,9% dos praticantes, como mostra a Pesquisa Game Brasil 2018.

Muitas até se escondem atrás de um nickname (apelido) masculino para evitar o assédio. “Se você botar o nick de menina, é certeza ganhar pelo menos uma cantada a cada dez minutos”, revela a designer e gamer baiana Evelling Castro, 36 anos, que joga RPG há mais de 20 anos. Por isso, em janeiro deste ano, a campanha americana MyGameMyName convidou diferentes youtubers homens a usarem apelidos femininos para sentir na pele o que as mulheres passam.

Bastou mudar o nome para eles ouvirem frases como as que abrem esse texto. “Ainda assim faço questão de usar meu nome sempre, porque acho um absurdo a gente não poder. Tenho direito de ser menina”, defende Evelling, que é apaixonada por tecnologia. “Sou gamer, realmente gamer”, diz orgulhosa. Envolvida com o cenário geek e de jogos em Salvador, a designer chama a atenção para a importância de destacar o protagonismo da mulher. Designer baiana e jogadora de RPG há mais de 20 anos, Evelling Castro defende o direito de usar apelidos femininos (Foto: Caio Lírio/Divulgação) Gamepólitan Entre os eventos que cumprem esse papel, está o Gampólitan, maior evento de jogos eletrônicos do Norte/ Nordeste, cuja sétima edição acontece sábado e domingo, a partir das 13h, na Unijorge da Paralela. Entre as atrações, está a youtuber paulista Malena Nunes, 23 anos, conhecida como Malena0202 ou Loira Noob, dona do maior canal de games comandado por uma mulher no Brasil (mais quase 5 milhões de inscritos e mais de 662 milhões de visualizações).

No bate-papo Mulheres nos Games, que acontece sábado, às 16h, Malena conta um pouco sobre sua trajetória que começou na infância, jogando por causa da mãe apaixonada por jogos, e que culminou na conquista de um espaço dominado por meninos. “Nunca vi isso como uma coisa só de menino. Sempre vi que a maioria era, mas não tinha nada de errado eu, menina, jogar. Fico feliz de ser referência no mundo dos games. Habilidade não se mede por gênero”, disse Malena, em entrevista recente à Escola de Criadores de Conteúdo do YouTube.

Para entender o universo de Malena, basta se conectar às suas redes sociais e acompanhar a youtuber jogando, ao vivo, clássicos como The Sims, GTA, Jurassic World, Minecraft e League of Legends. Reações, comentários e até lanches em tempo real alimentam a curiosidade do público que sempre interage e com a gamer e dá dicas para que sua performance seja a melhor possível.

“A gente não pode mais fechar os olhos quanto à representatividade feminina. O estereótipo de que jogo é só de menino e boneca de menina não cabe mais. A gente quer realmente quebrar esse paradigma. As mulheres têm uma representatividade forte nos jogos digitais e analógicos”, destaca Ricardo Silva, 35, diretor da empresa que organiza o Gamepólitan.“Se a gente não falar sobre isso, a gente não educa. Lugar de mulher é no controle. Por que não?”, diz Ricardo, categórico.Responsável por mediar uma palestra sobre as mulheres nos jogos, no Gamepólitan do ano passado, Evelling Castro concorda e acrescenta: “lugar de mulher é onde ela quiser e no controle sempre”. A partir do compromisso de trazer sempre o olhar feminino para dentro do universo dos games, a designer conta que as meninas de hoje têm mais material para se apropriar, com personagens femininas fortes.

Apesar disso, ainda há muito preconceito. Ao jogar com o marido, por exemplo, que conheceu numa mesa de tabuleiro, Evelling sempre ouve alguém perguntar se aprendeu suas habilidades com ele. “Já a conheci jogando muito”, responde o marido. “Os meninos querem que a gente seja invisível, principalmente quando dizem que a gente não existe. Estou aqui há 20 anos, como não existo? Nós estamos em todos os lugares”, garante.

Entre no jogo O quê: Gamepólitan Onde: Unijorge (Av. Paralela, 6775 | 3206-8000) Quando: Sábado (28) e domingo (29), a partir das 13h Ingresso: R$ 56 | R$ 28 (no dia), R$ 40 | R$ 20 (antecipado); R$ 68 | R$ 34 + 1kg de alimento não-perecível (ingresso social); R$ 20 (alunos Unijorge, no dia); R$ 20 (alunos Unijorge, antecipado). Vendas: http://gamepolitan.com.br