O moço não estava pedindo dinheiro, estava mendigando serviço

Senta que lá vem...

Publicado em 7 de maio de 2019 às 10:37

- Atualizado há um ano

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entra esse moço no ônibus lotado agora de manhã e dá bom dia. ele mostra um saco preto e diz que ali está um equipamento para coletar gás (foi o que entendi de longe). não é nada de fazer mal a ninguém, explica. mas o preço que o gás está, ninguém tem como pagar. o moço conta que trabalha e sempre trabalhou em obra. "fiz minha vida toda com cimento". mas está difícil de achar. apenas hoje de manhã, ele tinha ido na boca do rio e atrás do jornal a tarde, mas ainda não tinha encontrado nada. a esposa fica agoniada quando ele quer sair de casa às quatro da manhã para procurar serviço. a depender de onde a gente mora, a hora de entrar e sair de casa não é uma escolha nossa. o moço disse que não estava ali pedindo dinheiro às pessoas, estava mendigando serviço. ele usou essa palavra, mendigando. se alguém tivesse um terreno que ele pudesse limpar, algo para construir ou fazer, ele faria. e, se ao fim do serviço, as pessoas virassem para ele e dissessem "seu antônio, estou sem ter como pagar o senhor", que ele aceitaria um prato de comida. era esse homem baixinho, com um rosto sofrido, dizendo a gente que queria trabalhar por um prato de comida. nenhum passageiro do ônibus ficou indiferente a isso, coisa que acontece quando estamos nos carros, com medo de abrir o vidro e ver a vida que incomoda a todos. todos deram a ele um pouco de dinheiro e frases de incentivo. o homem ia guardando os papeis e moedas com uma humildade de quem já tentou muitas formas de sobreviver. esse é o lugar onde estamos em 2019. gente que voltou a sentir fome.

Texto originalmente publicado no Facebook e replicado com autorização da autora