O nome é 'puta' mesmo, vumbora falar direito

Flavia é produtora e mãe de Leo

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 8 de abril de 2018 às 14:52

- Atualizado há um ano

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Eu acho bem engraçado. Homens sempre vincularam sexo a dinheiro. Compram corpos, esposas, amantes e rapazes (claro, jurando que não são "viados"). Mas quem vende é que é execrado. Que cabecinhas esquisitas colocam em lugares tão distintos clientes e fornecedoras, na hierarquia moral? Pensar um pouco, nesse outono, não seria nada mal.

Por qualquer caminho, chegamos ao mesmo lugar: homem pode e mulher não. (Dããã... quem aguenta mais?) E pense aí que você pede bênção, bate papo, acha respeitável o cara que escolhe mulher no cardápio, que é freguês da traveca da esquina, que paga por sexo toda semana. Mas jamais receberia uma puta em sua casa.  

Essas coisas incompreensíveis. Porque pra mim, é tudo igual E, se olhar, você se dá conta de que esse subsolo onde as "pessoas de bem" põem as putas é mais um pouquinho da mesma ladainha, da mesma narrativa, uma ponta da mesma conversa que atinge a todas nós.

Mais um vez: o nosso valor é medido pelo lugar que reservamos aos homens em nossa história pessoal. Pela relação que estabelecemos com eles, em todos os âmbitos mas, principalmente, no sexual. Eles gostam de regalias, de reverência e exclusividade. Odeiam a possibilidade de comparação. E juram que uma mulher vale mais à medida em que satisfaz suas vontades. Com devoção. Mesmo quando eles oferecem pouco. Ou nada.

Virgens estão lá em cima (essa tara de ser o primero e único, claro), seguidas pelas pouco "rodadas". A partir daí, as "notas" são decrescentes. Quanto mais homem teve, quanto mais liberdade, quanto mais protagonismo... menos a mulher vale. E por que, com homens, é exatamente o contrário? 

O nome é "puta" mesmo, vumbora falar direito. Uma delas que me ensinou. E é muito sintomático até que essa palavra tenha virado palavrão. E que haja tanta "diferença" entre mulheres cheias de clientes e aquelas que passam a vida em casamentos horríveis para que sejam sustentadas. Também é por dinheiro, mas são vistas com bons olhos as putas de um homem só. Porque se adora e reverencia um macho, tá dentro da "legalidade".

Trepar pra ganhar dinheiro. É isso que elas fazem. Alugam o corpo que é delas. Muitas sofrem, outras adoram a profissão. Mas não é com isso que as pessoas estão preocupadas. É puramente moral, a parada. E putas são julgadas todo dia principalmente por quem nem consegue sexo de graça. Por quem deita em suas camas. Por quem chora, bebe e desabafa. Pelos caras mais carentes e frágeis. Por quem trepa igualzinho a elas. E ainda paga.