O povo quer pouco e menos do que a gente pensa

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  • D
  • Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2019 às 14:20

- Atualizado há um ano

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Já foi o tempo em que a gente cantava com o Titãs “...a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte...”

E lembro muito bem que esse era o discurso de uma juventude classe média do Brasil que tomou o pensamento dos jovens rebeldes e se espalhou pelo país reverberado nas vozes de muitos jovens que sonhavam com um país “igualitário”, sem ditadura e sem repressão nos anos 90.

Hoje, anos depois, temos um cenário horrendo quando se trata de querer saber o que esse mesmo antigo jovem quer. Se, antes, já queria pouco, agora menos ainda.

A “diversão” aclamada na voz dos Titãs saiu da esfera interpessoal que transitava em comunidade, onde você encontrava as pessoas para conversar, tomar uma cerveja, paquerar, assistir um filme no cinema, e entrou no mundo subjetivo da internet, onde cada um faz seu programa virtual. Me refiro à classe média, a mesma que outrora era jovem rebelde e agora diz que arte é coisa de vagabundo. Durma com um barulho desse e diga que passou a noite bem.

Os pobres que estão abaixo da classe média e que outrora também gritavam o mesmo verso, pairam numa nuvem tenebrosa do continuar querendo sem poder. Os pobres não têm condições de ter internet e assistir a programações no streaming como muitos de nós temos. E para eles tudo bem, afinal de contas o que importa é ter trabalho, comida e casa garantidos no dia-a-dia.

A velha cultura do “pão e circo”, bem satirizada por Juvenal, humorista e poeta romano que morreu por volta dos 100 a.c; essa, está instalada e preservado na plebe brasileira.

A nossa urgência urbana, que nos deixa próximos dos avanços no mundo globalizado capitalista, transformou-nos em meros pombos comedores de migalhas, batendo asas e sonhando com a felicidade, depois de resolvermos momentaneamente um problema ou outro -  fome e tristeza trocadas por pão e circo. É característico dessa urgência urbana o desejo do pobre que se baseia no que falei antes, pão e circo, e nem por isso culpemos os pobres brasileiros, eles são resquício de muitos sistemas perversos que já passaram no Brasil desde a escravidão, passando pela ditadura militar até os momentos atuais de gigantesca incerteza, sem futuro promissor.

Você pode até pensar e dizer que sou pessimista mas não sou. Realista, sim.

Realista porque vejo por essas e por outras que o sistema governamental brasileiro é pior do que pensamos e sabemos, porque se o pobre quer menos que o pouco e o governo não atende, significa que o nível de ignorância, miserabilidade e retrocesso é maior do que sabemos e pensamos.

E nós, classe média urbana que pensa o país por um outro viés, mas também não tem coragem de tomar algumas atitudes, pensamos que somos melhores que os pobres quando na verdade somos iguais. Somos tão mesquinhos quanto a burguesia tupiniquim. Estamos suportando uma classe média brasileira infeliz e contraditória, avarenta e gananciosa, consumidora de remédios controlados e casamentos falidos, conservadora e preconceituoso, com filhos drogados e empregadas negras nas cozinhas, como no período colonial, sonhando em ser Paris, Manhattan ou até Moscou, um dia.

Mas o povo quer pouco e esse pouco está trancado nas mãos dos grandes que regulam as migalhas para negociar a fidelidade do povo, estabelecer a ordem e garantir a ordem.

Por fim, um exemplo. Nunca nos importamos com as casas que abrigam menores à espera de uma paternidade. Em visita a OAF, no Bairro da Lapinha, fui informado de que há anos eles precisam de doações porque a participação financeira do governo é inadequada para uma atitude tão importante como é a da instituição.

Eles precisam de pouco como qualquer pobre: casa, comida, saúde e uma assistência psicológica.

Entendeu?