O professor já era mal remunerado no séc. XIX mas tinha um certo status social

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  • Nelson Cadena

Publicado em 24 de agosto de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Na primeira metade do século XIX,  os interessados em aprender alguma matéria específica na Cidade da Bahia contavam com os mestres particulares, a exemplo de Dona Perpétua Rosa de Mello, na sua residência da Rua do Tijolo, 3, deve ter sido, se não a primeira, uma das primeiras mulheres a ensinar na cidade. Os alunos dispunham de poucos livros didáticos, alguns eram adaptações, é o caso da Gramatica Portuguesa do professor Martagão, compêndio extraído da Gramática de J. Barbosa. Também a Gramática Filosófica, de Jerônimo Soares. A Assembleia recomendava para as aulas de primeiras letras o livro escrito pelo Visconde do Cayru: Escola Brasileira Para a Educação da Mocidade.

Outro livro sugerido era Noções de Geografia para a Mocidade. A Tipografia de Silva Serva, pertencente aos herdeiros do pioneiro da imprensa da Bahia, imprimia várias obras didáticas que disponibilizava ao mercado. Livros como Arte de Compor; Gramática Portuguesa (de Pedro José Figueiredo); Catecismo de Doutrinas Cristãs; Elementos de Ortografia e Aritmética, Regras de Civilidade e Máximas Morais, dentre outros.  Imprimia até 1000 exemplares por título e propunha aos diretores dos colégios e professores condições melhores de preço, se adquirido um volumem considerado.

A Biblioteca Pública era uma boa opção para os alunos completarem as leituras necessárias, porém os usuários não faziam bom uso do estabelecimento. Queixavam-se da falta de catálogos e de uma ordem que facilitasse a procura. O estabelecimento, por sua vez, reclamava dos alunos que frequentavam o local e conversavam em voz alta, incomodando outros usuários. Havia um mau uso do espaço. Alunos que tomavam livros emprestados retornavam à biblioteca para consultá-los ali mesmo e não na sua residência, que esse era o objetivo do empréstimo.

Dos professores se exigia, naquele tempo, que tivessem o mais amplo conhecimento de humanidades e o domínio de outra língua, de preferência o latim e o francês. Era uma carreira disputada - mal remunerada pelo governo - já naquele tempo, mas conferia um certo status social. O ingresso no magistério se dava através de concursos rigorosos, com provas orais. Era inadmissível um professor despreparado, de poucos conhecimentos. E, consequentemente, não se tinha alunos semianalfabetos, ou de poucas letras, como se dizia naqueles idos. Quem estudava, de fato, aprendia.

Em 1836, o governo criou, através da Lei 37,  de 14 de abril,  a Escola Normal, com o objetivo de habilitar professores. Preparavam-se os mestres de primeiras letras e, embora na sua fase inicial contasse com poucos interessados, tornou-se, a partir de 1842, quando efetivamente funcionou, essencial para quem desejava ingressar no magistério. Se valeu inicialmente de um espaço improvisado do Teatro São João, com dois mestres apenas e pouquíssimos alunos, até obter a sua própria sede na Rua do Colégio, no Terreiro de Jesus.

A prioridade da Escola Normal era formar professores homens, ainda que admitindo formar professoras direcionadas para o ensino de prendas domésticas e algumas matérias do ensino primário. A duração do curso era de dois anos e a principal exigência era que os alunos, futuros mestres, tivessem comprovado bom comportamento. Alguns professores foram enviados para frequentar aulas da Escola Normal de Paris, com o fim de qualificá-los para o ensino mútuo. No primeiro ano de funcionamento da escola matricularam-se 85 alunos, 68 homens e 15 mulheres; porém, faltavam livros, mobiliário e os mestres ganhavam merreca, o que fez o governo rever, anos depois, o salário, sob o risco de inviabilizar a instituição.