O racismo e a indignidade da omissão

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Publicado em 28 de outubro de 2017 às 05:12

- Atualizado há um ano

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O fato aconteceu há quase uma semana e, como quase tudo de grave que ocorre por essas bandas, não deu – e parece mesmo que não vai dar – em nada.

Muito já foi dito sobre o assunto e, provavelmente, aqui não caiba nenhuma novidade, entretanto, como o tema já ganhou espaço nesta coluna em diversas oportunidades, quando ele bate na nossa porta é obrigatório registrar com toda clareza possível: racismo é crime e, neste quesito, se defender com meias palavras (ou nem isso) é sinônimo de acovardamento.

Como se sabe, depois do Ba-Vi, o tricolor Renê Júnior acusou o rubro-negro Tréllez de tê-lo chamado de macaco. Tréllez gravou um vídeo saindo pela tangente, pediu perdão, falou em discussão de jogo e botou o pai no meio.

No entanto, em nenhum momento afirmou, com todas as letras que o dicionário dispõe, que não chamou o tricolor de macaco. Pior: após o jogo, o colombiano saiu de fininho e um tanto apressado da Fonte Nova, querendo driblar os jornalistas. Vergonhoso.

Até que se prove o contrário, não há motivos para duvidar de Renê Júnior. E, até que Tréllez assegure claramente o contrário, o que fica é uma acusação de racismo contra alguém que sequer teve coragem de rebatê-la objetivamente. Outra vergonha.

Ao deixar a resposta em aberto, o atacante do Vitória deixou também aberta uma margem para todo tipo de asneira, como a do presidente rubro-negro, Agenor Gordilho, que usou o termo “mal-entendido” para tratar de uma acusação grave, e a do treinador Vagner Mancini, que tentou rebater um suposto crime previsto em lei com uma argumentação sobre devolução ou não de bola. Antes não dizer nada.

No meio dos absurdos, teve gente que meteu até o idioma entre as justificativas, mais ou menos desse jeito: Renê Júnior pode ter ouvido mal porque o colombiano não fala o português muito bem.

O Esporte Clube Vitória, por sua vez, na condição de instituição fundadora, não deu, oficialmente, um piu sobre o assunto, nem mesmo para se posicionar categoricamente contra o racismo, ainda que defendesse seu atleta. Mudez total.

Agarrado ao silêncio e ao subterfúgio de fingir que nada houve, o clube se coloca em mais uma situação vexatória, dentre tantas neste inacabável ano de 2017 – por óbvio, perder pra todo mundo dentro de sua própria casa pesa bem menos do que a indignidade da omissão.

O jogador tricolor optou por não registrar uma queixa do caso na polícia. Na súmula da partida, o árbitro do Ba-Vi indicou a acusação feita por Renê Júnior, mas deixou claro que não poderia ele mesmo atestar o fato. Ficamos todos então com a finta verbal de Tréllez, que falou uma coisa e outra, mas não disse o que era preciso dizer.

Em episódios desse tipo, quando as meias palavras ou a omissão prevalecem sobre a decência, o que fica é a tristeza.

E a retomada da constatação de que enquanto comunidade – já anotei aqui em outros momentos que este assunto surgiu -, formamos todos um bando de fracassados.