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Da Redação
Publicado em 16 de dezembro de 2017 às 05:04
- Atualizado há um ano
Quarta-feira, dia 13, Santa Luzia de plantão, coisa de nove da noite e, graças ao inventor da urna eletrônica, já se sabia que o Esporte Clube Vitória tinha um novo presidente.
Desejar que Ricardo David tenha êxito em sua gestão é o óbvio, assim como o registro de que, para alcançar tal êxito, é preciso, efetivamente, profissionalizar o clube. Mandar pras cucuias quem está ali por compadrio, criar uma rede articulada entre planejamento, marketing e comunicação e, o mais importante, tratar o futebol com atenção.
Esta atenção também se baseia no óbvio, mas é bom escrever porque muitas vezes o óbvio é o que fica mais distante. Dar espaço ao setor de informações do clube, contratar a partir de dados concretos e uniformizar procedimentos na divisão de base e no profissional são, dentre outras, premissas básicas para um clube ser competitivo atualmente, e o novo presidente tem obrigação de mirar estas metas. Ele se diz preparado e a torcida espera que esteja.
Entretanto, ainda que possa parecer, Ricardo David não foi o protagonista do dia 13. A principal personagem não fez campanha nem agradeceu pelos votos, mas estava onipresente no processo eleitoral.
Desejada durante muito tempo por incontáveis rubro-negros, a protagonista começou a ganhar corpo em abril deste ano, quando os sócios do Vitória alteraram o estatuto do clube, estabelecendo a eleição direta para presidente. Agora, neste dia 13, uma quarta-feira útil, mais de 1.800 pessoas foram ao Barradão fazer jus a esta batalha. Fizeram.
Por volta das nove da noite, com Santa Luzia de plantão, fui fuçar o que escrevi em abril aqui neste mesmo espaço. São as palavras que seguem abaixo, porque, ainda que outros certamente conseguissem, eu não consigo expor de maneira melhor;
Por muitos anos, a gestão do Vitória foi objeto de revezamento entre amigos. As mesmas relações se refletiam no Conselho Deliberativo, que se acostumou a dizer amém.
No ano passado, entretanto, durante a gestão do presidente Raimundo Viana, o conselho rachou. Havia discordâncias quanto às ações administrativas, o que é perfeitamente justificável, mas havia, além disso, o desejo de muitos conselheiros de não mexer no status quo do Vitória. (...)
Na democracia, não existe relação de causa e efeito. Não é porque um dirigente é eleito diretamente pelos sócios que ele será melhor ou pior gestor do que aquele escolhido entre os mandatários de sempre. A democracia, porém, abre a chance de avaliação e escolha. Foi bem, o torcedor dá crédito. Foi mal, o torcedor manda pra escanteio. Simples assim.
O maior impacto da democracia é dar voz à torcida, ente mais importante dentre tudo que cerca uma entidade esportiva. Dirigentes passam, jogadores idem e um patrimônio imóvel pode até ser vendido, mas nada é capaz de fissurar o elo de um torcedor apaixonado com seu escudo de reverência.
A partir do momento que o torcedor ganha voz dentro do clube, este elo fica ainda mais firme, pois a sensação de pertencimento deixa de ser meramente simbólica. Repare que um torcedor de verdade não diz “eu torço para o Vitória” ou “torço para o Bahia”. Ele diz “eu sou Bahia” ou “sou Vitória”.
Na democracia, o estado de ser - e ter orgulho de sê-lo - ganha mais significado. Melhor ainda: ganha todo sentido.
Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados