O sertão de Graciliano Ramos é destaque na Flipelô deste ano

Festa Literária do Pelourinho homenageia autor de Vidas Secas

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  • Roberto Midlej

Publicado em 10 de novembro de 2021 às 07:48

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: divulgação

Embora se chame "festa literária", a Flipelô - Festa Literária do Pelourinho, vai muito além da literatura. Por mais paradoxal que isso possa parecer, essas festas, que começaram a se difundir a partir da Flip, de Paraty, no Rio de Janeiro, ganharam charme porque promovem, durante sua realização, acontecimentos paralelos de arte e cultura, como a exibição de peças de teatro, apresentações musicais, atrações gastronômicas, cinema...

E a próxima edição da Flipelô, de 17 a 21 deste mês, vai ter tudo isso. As atrações têm como referência o homenageado deste ano, o escritor alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), autor de obras-primas como São Bernardo e Vidas Secas, ambientadas no sertão brasileiro. Por isso, será apresentada, por exemplo, a peça Graciliano um Brasileiro Alagoano – Memórias de Heloisa, com um elenco de atores alagoanos, sobre a vida do escritor. Ângela Fraga, diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, que realiza a Flipelô (Foto: Marina Silva) A rica gastronomia sertaneja também será destaque, com 28 bares e restaurantes do Centro Histórico integrando a Rota Gastronômica Amados Sabores, que terá pratos exclusivos inspirados pelo tema Amado Sertão - Comida Sertaneja da Bahia, com inspiração no livro A Cozinha Sertaneja da Bahia, de Guilherme Radel (1930-2019). Os pratos custarão entre R$ 23,90 e R$ 69,90.

Mas, claro, a literatura também é uma das estrelas da festa. Por isso, virão autores de diversas regiões brasileiras e também de outros países. Talvez a maior "estrela" desta edição seja mesmo o baiano Itamar Vieira Júnior, um dos maiores fenômenos editoriais do país neste século, que conseguiu aliar os elogios da crítica a excelentes números de venda: Torto Arado, seu romance que venceu o Prêmio Jabuti, passou dos cem mil exemplares vendidos, número surpreendente quando se trata de ficção contemporânea nacional. Itamar vai participar da mesa A Atualidade do Brasil Colônia, no dia 19, no Teatro Sesc Senac.

O escritor pernambucano Diógenes Moura estará no dia 21 em uma mesa para falar sobre seu novo romance, Vazão 10.8 - A Última Gota de Morfina, baseado nos últimos seis meses de vida de sua irmã, morta em razão de um câncer de pâncreas fulminante. "Mas não é sobre a morte. É sobre a existência", adverte o escritor, que fará em Salvador o lançamento nacional do livro.

Baianos e estrangeiros

Escritores locais, como Kátia Borges, Marielson Carvalho, Jovina Souza e Dejanira Rainha, também vão marcar presença. De fora do Brasil, participam remotamente Victor Gama (Angola), Marialuz Albuja (Equador), Natalia Toledo (México) e Rubis Camacho (Porto Rico), entre outros.

O poeta José Inácio Vieira de Melo é um dos curadores da Flipelô e diz como orienta suas escolhas: "O recorte é a partir do homenageado. Mas não se restringe a isso. Dia 20 é o Dia da Consciência Negra. Como não dar destaque a essa discussão?", questiona. José Inácio também explica por que a Festa vai além da literatura: "A literatura surge a partir da vida, da vivência e de todas as circunstâncias. Mesmo aqueles autores de livro de medicina fazem literatura. Então, uma festa literária não se restringe ao romance, à poesia, às crônicas... Paulo Freire [educador] nunca escreveu um romance, mas é alta literatura".

Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Matos, destaca a importância do Flipelô para o Pelourinho: "A Flipelô talvez seja hoje o evento que mais leva público para o Centro Histórico. E leva uma população que raramente vai ao Pelourinho. Além disso, é um evento democrático e inclusivo. É um modelo para o que tem que acontecer naquela região".

A Flipelô é apresentada pelo Ministério do Turismo, pela Secretaria Especial da Cultura e pelo Instituto CCR, com patrocínio máster da Rede MaterDei e Prefeitura de Salvador; patrocínio do Itaú Social, Bahiagás e Governo da Bahia; apoio do Sebrae,  apoio de  mídia da Rede Bahia, Salvador FM, Irdeb-Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia, ITS Brasil, Eletromídia e Ponto Outdoor e apoio institucional da Academia de Letras da Bahia. O evento é uma realização da Fundação Casa de Jorge Amado, em correalização com o Sesc e uma produção da Sole Produções.