O silêncio dos culpados

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  • Miro Palma

Publicado em 23 de novembro de 2018 às 08:48

- Atualizado há um ano

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O zagueiro rubro-negro Aderllan teve uma noite daquelas que merecem ser esquecidas. Anteontem, ele contribuiu com o triunfo do Cruzeiro por 3x0 contra o Vitória com um gol contra, um pênalti cometido e uma falha na marcação que culminou no último gol da equipe mineira, marcado pelo centroavante Fred. Lamentável.

Se olharmos com um pouco mais de atenção, Aderllan personificou a realidade do clube que defende desde o início do campeonato. O Vitória, assim como o zagueiro, vem cometendo um deslize atrás do outro e, com isso, não conseguiu se afastar por muito tempo da zona de rebaixamento. E quando entrou, foi se enterrando cada vez mais até chegar à vice-lanterna, com as mínimas perspectivas de se salvar.

Por mais dolorosa que tenha sido – e foi bastante –, a partida contra o Cruzeiro foi importante para que os torcedores enxergassem, através das escorregadas de um atleta, como todo o clube patinou durante a campanha no Brasileirão. Aliás, não só nessa competição. Foi assim no Campeonato Baiano, Copa do Nordeste e Copa do Brasil. 

A única diferença nessa nossa analogia é que, diferentemente dos gestores do time, capitaneados pelo presidente Ricardo David, Aderllan não se escondeu. Quando o juiz apitou o fim da partida, e alguns dos seus colegas evitaram a imprensa na saída para o vestiário, o zagueiro parou em frente ao microfone e, emocionado, pediu desculpas. “É pedir perdão aos meus companheiros e aos torcedores. É o pior dia da minha vida no futebol. Todo mundo sabe da minha luta. É pedir perdão, não tem o que falar. É noite para esquecer”, disse à equipe da TV Bahia.

Não só pediu desculpas, como, também, chamou a responsabilidade do desastre em campo para si. Mesmo o time inteiro, com poucas ressalvas como o goleiro João Gabriel, tendo jogado muito mal durante os 90 minutos de bola rolando. Aderllan teve a hombridade que os dirigentes do Vitória perderam há um bom tempo. Faltou planejamento e capacidade para gerir o clube, não há como negar. 

Eu ainda tive que ouvir no rádio um cidadão dizer que as lágrimas derramadas pelo zagueiro eram “de crocodilo”, como se o profissional não pudesse errar ou fizesse aquilo com intenção de prejudicar o próprio clube. Meus caros torcedores do Vitória, antes de crucificar o jogador, parem para pensar qual é a postura que vocês esperam do time que carregam no peito: uma atitude acovardada diante do revés ou a decência de quem, mesmo falho, encara as consequências dos seus atos.

Aderllan não merece a condenação de ninguém. Ele teve um desempenho deplorável, isso é um fato. Uma mancha que vai carregar na sua carreira. Mas, não merece pagar a conta por uma gestão inexistente que, em vez de cumprir as promessas de campanha, contribuiu ainda mais para enterrar na lama um clube do tamanho do Vitória. Muito menos, merece responder pelos 55 jogadores utilizados pelo clube no ano. Ele pode apenas falar por si e, apesar de tudo, depois da derrota diante do Cruzeiro, ele falou bem.

O que resta ao rubro-negro? Fechar a casa pra balanço, admitir os erros e planejar o futuro de forma profissional. Enquanto isso ficar só no discurso, os torcedores continuarão sofrendo. 

* Miro Palma é jornalista e subeditor de Esporte.