O suicídio é um grave problema de saúde pública mundial

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Publicado em 19 de setembro de 2018 às 15:00

- Atualizado há um ano

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O suicídio é um grave problema de saúde pública e sua prevenção é priorizada por várias entidades internacionais como a Organização Pan Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS). Mesmo com expressiva subnotificação dos casos, estima-se que aconteçam cerca de 800 mil suicídios por ano, numa alarmante frequência de 01 morte a cada 40 segundos no mundo. Este quadro tornar-se ainda mais grave quando lembramos que, para cada caso de suicídio consumado, milhares de pessoas realizam tentativas de suicídio não registradas pelos sistemas de saúde.

Segundo a OMS, 79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda e, embora possa acontecer em qualquer fase da vida, esta já é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos. O Brasil é o 8ª país com maior número de casos e os meios mais comuns de suicídio são: 1º enforcamento, 2º lesão por armas de fogo e 3º autointoxicação por pesticidas.

Os dados nacionais apontam que o suicídio é mais comum entre os menos escolarizados, entre os indígenas (132% mais que a população geral) e entre maiores de 59 anos (29% mais casos que nas outras faixas etárias). Homens se matam três vezes mais do que mulheres em todas as regiões do país e existem mais registros de suicídio na região Sul. No entanto, observamos o maior crescimento percentual do número de casos entre as mulheres (35%) e no Nordeste (72,4%), provavelmente pela melhora na notificação.

Por que as pessoas se suicidam?

É comum ouvirmos pessoas dizerem que o suicídio é uma questão de coragem, ou covardia, ou falta de fé, ou irresponsabilidade, ou frescura, dentre muitas crenças que nada ajudam a pessoa em risco de cometer suicídio ou aos sobreviventes. Na verdade, o julgamento moral, a glamourização do ato ou evitar falar sobre o assunto podem gerar mais sofrimento.

Não existe uma causa única para o suicídio, cada caso deve ser analisado individualmente e entendido como um processo. O suicídio é um fenômeno complexo e envolve múltiplos fatores (genéticos, fisiológicos, psicológicos, sociais, ambientais, dentre outros), agindo simultaneamente ou não.

De modo geral, consideramos que existem fatores predisponentes e precipitantes do suicídio. Os fatores predisponentes aumentam a possibilidade do desenvolvimento de ideação suicida e de tentativas de suicídio, acontecem em momentos anteriores na vida e não parecem estar diretamente ligados ao ato. Os mais destacados pela literatura são: transtornos mentais prévios, tentativas anteriores de suicídio, casos de suicídio na família, abuso sexual na infância, tendência comportamental para impulsividade e/ou agressividade, isolamento social, lutos não reconhecidos, viver com doenças incapacitantes e/ou incuráveis, internação em hospital geral ou alta recente de internação psiquiátrica.

Em relação aos quadros psiquiátricos, os mais associados ao suicídio são a depressão, o transtorno borderline, o transtorno bipolar e a esquizofrenia, que são agravados quando

também há dependência de álcool e de outras drogas psicoativas. Vale lembrar que embora estes quadros clínicos estejam presentes na maioria dos casos notificados como suicídio, nem todas as pessoas que se suicidam apresentam algum transtorno ou fazem uso de drogas.

Os fatores precipitantes são aqueles que conseguimos perceber ou relacionar imediatamente com o suicídio, pois ocorreram num momento próximo ou simultâneo ao ato. A rigor, qualquer evento pode ser interpretado como o que “levou” à morte, mas os mais comuns são a ruptura de vínculos afetivos (desilusão amorosa, separação conjugal, conflitos relacionais, morte), colapso existencial, perdas financeiras, perda de emprego, desonra/ vergonha (bullying, rejeição), embriaguez e fácil acesso a um meio letal.

Quando prestamos atenção a estes fatores, entendemos por que integrantes de algumas categorias profissionais cometem mais suicídio, pois têm maior acesso a meios letais e são expostos a situações de elevado estresse como, por exemplo, agricultores, policiais/bombeiros e médicos. Conseguimos entender, ainda, por que populações discriminadas, vulneráveis e submetidas à violência extrema como indígenas, lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais (LGBTI) e pessoas privadas de liberdade têm números de suicídios significativamente maiores que a população geral.

Em relação à população negra, afetada pela maioria dos fatores sociais que predispõem ao suicídio, esta não recebe a análise devida nos estudos e tem seus dados afetados pela alta mortalidade por violência, particularmente o assassinato de jovens negros por armas de fogo. E, considerando a interseccionalidade com as questões de gênero/sexualidades e classe, é um grupo que merece por si um artigo específico.

A prevenção

É importante entender que o suicídio faz parte da história da humanidade e até a Idade Média não era sequer considerado pecado. Portanto, não poderemos evitar que todos os casos aconteçam, mas podemos contribuir para que muitas mortes sejam evitadas.

Para uma efetiva prevenção, são necessárias medidas em diferentes níveis. Em nível nacional, políticas públicas intersetoriais que melhorem a qualidade de vida da população em geral e que promovam saúde física e mental. São medidas que dizem respeito, ainda, à implantação efetiva das Redes de Saúde Mental, ao acolhimento adequado à pessoa com tentativa de suicídio durante a assistência hospitalar e aos demais níveis de atenção em saúde, e a dificultar o acesso indiscriminado da população aos meios letais como pesticidas e armas de fogo.

No contexto da comunidade e da família, ouvir e acolher a pessoa em sofrimento sem julgar ou criminalizar é fundamental para prevenção do suicídio. Vale a pena buscar ajuda profissional se você ou alguém com quem você convive apresenta: agressividade-irritação/ impulsividade, diminuição ou ausência de cuidados com o corpo, isolamento social, refere-se a si mesmos de forma depreciativa ou condenável (Ex: sou um fardo, um peso, sou inútil), apresenta alterações de humor, de comportamento ou de hábitos, pratica automutilação ou outros comportamentos autodestrutivos, manifesta interesse por sites e/ou redes sociais sobre suicídio, recusa ajuda e desiste de compromissos e acordos.

A busca por profissionais da saúde mental deve ser imediata se você ou algum conhecido refere: dor psíquica insuportável e necessidade de cessação da consciência para interrupção do sofrimento (sensação de urgência/impulsividade); Desesperança, sensação de sofrimento infinito (vazio); Desespero, percepção de que a vida entrou em colapso; Rigidez cognitiva (não consegue ver outra opção ao suicídio), pensamento dicotômico (tudo ou nada); Ideia de cometer suicídio que inicialmente parecia perigosa, angustiante e intrusiva, torna-se autônoma e tranquilizadora (há alívio de tensão), é uma ideia tolerada e bem-vinda (há sensação de plenitude); Se houver tentativa prévia ou planejamento e acesso a meios de cometer suicídio.

Por fim, cuidar de uma pessoa com ideação suicida é um processo complexo que exige a atuação de diferentes profissionais de saúde, pode durar muitos anos e pode ser extremamente desgastante para a família e amigos. No entanto, por mais que a pessoa evite contato ou apresente comportamentos irritantes ou inadequados, é importante mostrar-se interessado em apoiar, manter-se tranquilo, dedicar tempo a pessoa, não julgar, não dar conselhos. Perguntar, com gentileza e respeito, o que está acontecendo e se ela tem um plano, o que está desencadeando a crise. Ouvir e acolher o sofrimento, dizer claramente de que forma pode ajudar e colaborativamente buscar proteção e assistência profissional para a pessoa em crise e para os familiares envolvidos.

Referências:

BOTEGA, NJ. Crise Suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed, 2015.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM). Suicídio: informando para prevenir. Brasília: CFM, 2014.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). O Suicídio e os Desafios para a Psicologia / Conselho Federal de Psicologia. Brasília: CFP, 2013.

MACHADO, Daiane Borges; SANTOS, Darci Neves dos. Suicídio no Brasil, de 2000 a 2012. J. bras. psiquiatr. Rio de Janeiro, v. 64, n. 1, p. 45-54, março de 2015. http://dx.doi.org/10.1590/0047-2085000000056