O VAR é o STF do futebol: uma vez que decidiu está decidido

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  • Elieser Cesar

Publicado em 23 de abril de 2019 às 04:20

- Atualizado há um ano

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Entronizado no futebol na Copa do Mundo de 2018, o Video Assistant Referee (em português Árbitro Assistente de Vídeo), o popular Var – ou impopular, para os torcedores contrariados pelas interferências do supremo juiz - trabalhou muito no final de semana passado, durante as finais dos campeonatos regionais de futebol pelo Brasil. Somente na Arena Fonte houve interferência decisiva em dois lances capitais do jogo Bahia 1 x 0 Bahia de Feira, que deu o bicampeonato baiano de futebol ao tricolor de aço. Duas intervenções (temos que reconhecer) acertadas. A primeira um pênalti cometido em Ramires, do Bahia de Salvador, numa travada displicente de Vitor, do Bahia de Feira. A segunda, numa cobrança de falta de Vitinho, do time de Feira de Santana, em que a bola que viajava na grande área do goleiro Anderson foi interceptada de ombro pelo centroavante Gilberto, o autor do gol que deu o título ao time da capital.

Mesmo acertando cabalmente ou suscitando dúvidas, o VAR já nasceu sob o estigma da polêmica. Sua presença onisciente tira dos juízes e bandeirinhas o direito de errar, uma prerrogativa humana, demasiadamente humana, como diria um filósofo bigodudo que, se fosse técnico de futebol, apelaria em suas preleções para a vontade de potência, no caso específico do velho esporte bretão, a gana e a força para vencer incorporadas em campo pelos jogadores. Dentro de uma sala fechada, três árbitros de olho em monitores esquadrinham as jogadas de todos os ângulos possíveis, a fim de ajudar o colega em campo a tomar uma decisão depois de um lance que suscitou dúvidas. Foi mesmo falta? O zagueiro teve a intenção de meter a mão na bola dentro da grande área? A pelota ultrapassou a linha de gol? Aquela foi uma falta para cartão vermelho? São questionamentos que passam pela cabeça do juiz e também dos torcedores.

Estabelecida a dúvida e até a lambança em campo, melhor consultar o VAR, o STF do futebol, uma vez que decidiu está decidido. Cumpra-se a sentença (ou melhor a revisão da jogada feita pelo juiz com o auxílio da moderna tecnologia). E é justamente aí que reside a possibilidade de injustiça. O Var falha? Pode interferir no resultado do jogo como um juiz tendencioso? Muitos torcedores acham que sim. Entre as torcidas e os adeptos do futebol, há os que acreditam que árbitro eletrônico é uma poderosa arma que, eventualmente, pode ser usada a favor dos grandes times numa partida difícil contra clubes menores. Há ainda minoria barulhenta que não acha, mas tem certeza que a turma lá de dentro se omitiria ante o dever de acionar o árbitro de campo, para reavaliar uma marcação que prejudicou um time pequeno que estava prestes a eliminar uma grande equipe, num desses jogos raros, decisivos e surpreendentes de uma competição importante, como a Copa do Brasil. São questionamentos próprios do futebol, terreno preparado para a bola rolar e também propício a especulações, incluindo todo tipo de teoria da conspiração.

Em meio a toda polêmica, além da bola rolando, uma única certeza: com o auxílio do VAR, o que o juiz marcou está marcado e não adianta choramingas. Até porque se o jogador, o técnico ou cartola do time que se sentiu prejudicado, ou até “vergonhosamente roubado”, reclamar demais corre o risco de receber na caixa dos peitos um cartão (amarelo ou vermelho) e até de ouvir, do torcedor desbocado do time adversário, a sentença tão irrevogável quanto a apontada pelo próprio Árbitro Auxiliar de Vídeo:

- Var sifu!

Elieser Cesar é jornalista e escritor, autor de O azar do goleiro.

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