O Verde é o novo preto

Grifes famosas, como a esportiva Adidas, investem em moda sustentável, ampliando o rol de produtos com o mesmo conceito

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  • Da Redação

Publicado em 7 de outubro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Jaquetas de motociclista feitas de folhas de abacaxi, couro curtido com extrato de azeitona, malhas de couro feitas de sobras de extremidades rejeitadas por marcas de luxo, lã reciclada e poliéster feito de garrafas plásticas de água. A chamada moda ecológica está conquistando adeptos em todo o mundo e se transformou numa realidade nas passarelas, inclusive entre os estilistas de vanguarda e os representantes das grandes marcas.

Para se ter uma ideia do alcance da proposta de sustentabilidade na moda, no ano passado, a Adidas vendeu um milhão de seus tênis Parley - feito de plástico pescado no oceano - e a gigante esportiva alemã está aumentando a produção de uma variedade de produtos igualmente reciclados. Na semana passada, Yolanda Zobel, a nova designer da marca futurista francesa Courreges, declarou que estava eliminando o vinil, que tem sido o símbolo da empresa desde os anos 1960. Depois de uma coleção cápsula final chamada “Fin de Plastique” (O Fim do Plástico), que reduzirá seus estoques de vinil, a alemã tentará originar versões sustentáveis ou recicladas do material brilhante. “Um mundo melhor não virá se não tomarmos medidas hoje”, disse Zobel. O tênis da linha Parley vendeu um milhão de pares e instigou o mercado fashion. O produto é feito com plástico retirado dos oceanos (foto: Divulgação) Com uma postura semelhante, uma das administradoras da feira semestral parisiense Premiere Vision, Marina Coutelan ressaltou que atitudes em relação à moda ecológica mudaram totalmente nos últimos anos, especialmente com a chamada geração millennials (nascidos entre 1980 e 2000), que estão começando a ditar as regras na indústria da moda.  “Estamos vendo muitos produtos da moda de materiais sustentáveis porque eles cresceram com a ideia de que precisamos ser ecorresponsáveis”, completou Coutelan.Um bom exemplo são as estrelas em ascensão Rushemy Botter e Lisi Herrebrugh, a dupla holandesa que acaba de ser contratada para assumir a maison Nina Ricci Paris. “Sempre se falou da moda sustentável”, disse Herrebrugh, de 28 anos. “Agora é algo que podemos ver”.

O próprio Botter fabrica chapéus, cachecóis e jaquetas de sacolas plásticas recicladas e garrafas encontradas no mar. A causa é particularmente importante para o estilista que nasceu na ilha caribenha de Curaçao. “As cadeias de lojas podem ainda ser obcecadas com moda rápida e descartável, mas marcas de luxo estão liderando o caminho na tentativa de repensar o negócio”, completou Marina Coutelan, que aponta para a gigante francesa Kering (dona da Gucci, Saint Laurent, Balenciaga e Alexander McQueen, entre outras) como uma das pioneiras da sustentabilidade.

Vale salientar que a Kering reduziu o impacto ambiental da produção em um quarto e espera reduzi-lo em 40% até 2025. A empresa, até recentemente, possuía uma participação de 50% da Stella McCartney, a marca que mais rompeu barreiras éticas e ambientais, recusando-se a usar peles, couro ou penas. A designer britânica usa lã reciclada e poliéster feito de garrafas plásticas de água e pretende parar de usar nylon “virgem” dentro de dois anos e poliéster novo em 2025.

A jovem designer francesa Marine Serre transforma colchas velhas em vestidos de noite, desfilados na última Semana de Moda de Paris. Enquanto isso, a canadense Marie-Eve Lecavalier ganhou fama com jaquetas de motociclista feitas de folhas de abacaxi e couro curtido com extrato de azeitona, malhas de couro feitas de sobras de extremidades rejeitadas por marcas de luxo. “Dá muito trabalho, mas o resultado é ótimo. Na América do Norte as pessoas desperdiçam muito. Precisamos encontrar outro caminho”, defende.

Apesar disso, é importante não esquecer que a indústria da moda ainda é uma das mais poluidora do mundo. O processo de curtimento é um dos negócios mais sujos do mundo, alternativas ao couro como o Pinatex, feito das fibras das folhas de abacaxi, mas igualmente maleável e forte, estão ganhando terreno.  A Hugo Boss  fabricou tênis com o material, que está sendo comercializado pela empresa britânica Ananas Anam, que trabalha com cooperativas de agricultores nas Filipinas.

O grupo alemão Wet Green desenvolveu uma linha potencialmente revolucionária, chamada Olivenleder, de couros biodegradáveis curtidos com um agente feito de fibras de azeitona. Para Chantal Malingrey, da Premiere Vision, a moda totalmente sustentável ainda não é a norma, mas caminha para ser.