O vexame da Copa de 2014 sob o olhar de oito contistas

A goleada de 7x1 rende oito contos no livro Sete a Um. São sete autores brasileiros e um alemão

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  • Roberto Midlej

Publicado em 1 de maio de 2018 às 19:24

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marcelo Frazão/divulgação

Poucos dias após o Brasil ser goleado pela Alemanha na Copa de 2014 por 7x1, o escritor baiano Luís Pimentel propôs a uma turma de colegas que escrevessem contos sobre aquele vexame. Mas, como o trauma era ainda muito recente, eles recusaram. Passados quase quatro anos, mas ainda longe de estarem curados daquela vergonha, os escritores finalmente aceitaram a proposta.

O livro Sete a Um, uma coletânea de oito contos escritos por sete brasileiros e um alemão, será lançado sábado (5), às 15h, na Biblioteca do Instituto Goethe, no Corredor da Vitória. Os contistas que representam o Brasil são Claudia Tajes, Carlos Barbosa, Elieser Cesar, Lima Trindade, Luís Pimentel, Marcus Borgón e Mayrant Gallo. O escritor e professor alemão Hans-UlrichTreichel, da Universidade de Leipzig, conta a história sob o olhar dos vencedores. Há ainda um ensaio sobre futebol escrito pela dramaturga alemã Dagrun Hintze. A organização é de Tom Correia e Lidiane Nunes. A publicação é uma parceria de duas editoras: a baiana Dália Negra e a capixaba Cousa.   (Foto: Reprodução) Tom Correia diz que os autores escolhidos têm um interesse particular por futebol. Além disso, alguns dos contistas já haviam participado de outro livro sobre o tema:  82: Uma Copa, Quinze Histórias, sobre a derrota do Brasil para a Itália na Copa da Espanha. "Os escritores gostam de futebol e, além disso, os escolhemos por causa da qualidade deles, que têm um trabalho consistente". Tom acrescenta que os organizadores fizeram questão de incluir mulheres entre os autores.

Os contos, no entanto, não se restringem à partida de futebol. Não se trata, portanto, de crônicas esportivas. O conto de Mayrant Gallo, O Que Houve Depois, aborda a distopia, a partir da ficção científica. "A história se passa um tempo depois da derrota de 2014, numa circunstânica especial em que o 7x1 é lembrado", diz Mayrant, que prefere não revelar que "circunstância especial" é essa, para não estragar o prazer do leitor.

Mayrant é um dos que havia colaborado para o livro sobre 1982. O autor compara as duas derrotas: "Eu não gostava da seleção de 2014. Achava fraudulenta e se sustentava em torno de Felipão e de Neymar, que é uma das pessoas mais egocêntricas que conheço. Hoje, sou mais crítico que em 1982 e não vejo só a Seleção, mas tudo que está em volta dela, como uma CBF (Confederação Brasileira de Futebol) corrompida".

Outro conto, O Hexa de Meu Pai, de Elieser Cesar, é a história de um homem muito doente, que é fanático pela Seleção e sonha em ver o Brasil hexacampeão. "O personagem não torce por nenhum clube, mas é apaixonada pela seleção brasileira. Da mesma forma que existe um poeta bissexto, brinco dizendo que ele é um torcedor quadrienal", diz o autor. Elieser afirma que seu tem certa afinidade com uma história de Julio Cortázar (1914-1984), A Saúde dos Doentes.

Para Elieser, a literatura brasileira deveria se aproximar mais do futebol: "Uma vez, entrevistei Jorge Amado e ele disse que a nossa literatura já tinha o 'ciclo do cacau' (representado pelo próprio Jorge) e o ciclo do açúcar (José Lins do Rêgo). Ele dizia que faltava alguém apra escrever sobre o ciclo do café. Eu brinco, dizendo que falta se escrever sobre o ciclo do futebol. Como o café e o cacau, o futebol é uma commoditie da atualidade".