O Vitória é uma democracia sem qualidade

Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve às quintas-feiras

Publicado em 27 de julho de 2017 às 10:03

- Atualizado há um ano

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Sinval Vieira deixou o Vitória no dia 1º de junho. Erros, cometeu muitos na montagem do elenco, como se vê em campo e na planilha contendo o salário dos atletas que vazou em grupos de WhatsApp. Mas, como bom comentarista que era até voltar ao clube, acertou em cheio ao analisar o cenário rubro-negro no dia de sua saída. “O Vitória é uma democracia jovem. Com o tempo ela vai ganhar qualidade”, afirmou Sinval ao CORREIO na ocasião, justificando o momento político conturbado na Toca mesmo depois das eleições realizadas em dezembro de 2016.A verdade é que a democracia rubro-negra em si, como qualquer outra, não garante qualidade. O Vitória versão 2017 é o mesmo que o Bahia foi em meados de 2013 até o fim de 2014, na gestão de Fernando Schmidt. No afã de encerrar uma era sem abertura política, elegeu-se quem empunhou a bandeira da liberdade. Isso foi o bastante naquele momento. Havia apenas um dilema: votar na democracia ou colocar/manter no poder algum grupo que nunca quis eleições diretas? Não houve espaço para outros pré-requisitos.Na sequência, o primeiro da gestão de Ivã de Almeida: a montagem do governo rubro-negro não foi baseada em critério técnico, e sim na distribuição de cargos para quem ajudou na campanha. Depois de ganhar o bolo, era necessário dar uma fatia pra cada. E essa turma, que é muito boa na oposição porque tem articulação e ideias, se revelou muito ruim como situação, porque não sabe gerir. Nisso, infelizmente o Vitória do Torcedor é igualzinho ao Bahia da Torcida de três, quatro anos atrás. Só mudaram os nomes.Na esteira do que Sinval falou, a entrevista de Argel à rádio Transamérica na terça-feira foi direto na ferida. “Ano passado, a gente sabia que tinha um presidente, Raimundo Viana; um vice-presidente, Manoel Matos; um diretor de futebol competente, Anderson Barros. Começou o ano, era 50 gente (sic) querendo mandar no Vitória”, disse o ex-treinador. As consequências são nítidas agora, apenas sete meses depois. O presidente, dois diretores de futebol, o diretor jurídico, o diretor médico, o técnico que sucedeu Argel, alguns jogadores e funcionários, todos já deixaram o clube. A crise é tanta que, dos 50, uns 30 ficaram pelo caminho. Mas a preocupação não diminui: agosto bate à porta e o Leão ainda não conseguiu andar para frente neste ano de evidente retrocesso administrativo e técnico. O Vitória está em eterna campanha, com gente mesquinha guerreando internamente, vide a sequência de informações vazadas: a foto de Jorginho Sampaio dormindo em um sofá; o áudio do diretor médico Gilson Meireles falando que não contrataria o meia Carlos Eduardo; a planilha com os salários dos atletas; e, acredite, até a conta de luz do Barradão! Até quando?Falando em andar pra frente, o mandato interino de Agenor Gordilho mal começou e já dá motivo para desconfiança. Como é possível que o clube tenha ligado para Vagner Mancini no domingo e para Paulo Pelaipe na segunda? O torcedor não tem obrigação de saber que os dois se desentenderam no Grêmio, de onde o técnico foi demitido invicto, em 2009, e saiu na bronca com o diretor de futebol – uma briga tornada pública através de duras declarações de Mancini em rede nacional de TV, na época. Mas um dirigente que está à frente do Vitória deveria saber disso. Ou, como diz um amigo, pelo menos procurar no Google antes para saber quem está trazendo.Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve às quintas-feiras.