OAB submete vídeo de torcedores na Rússia a Tribunal de Ética

Seccional da OAB em Pernambuco está tentando identificar todos os envolvidos

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Publicado em 19 de junho de 2018 às 08:13

- Atualizado há um ano

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Revolta não deve ser a única consequência do vídeo que circula nas redes sociais onde um grupo de brasileiros aparece gritando palavras obscenas a uma mulher estrangeira, na Rússia. Diante da repercussão do caso, entidades e pessoas públicas aproveitaram o dia de ontem para se manifestar contrárias à atitude. Em Pernambuco, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE) tenta identificar todos os envolvidos e entrou com um pedido de análise de conduta no Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem contra o advogado Diego Valença Jatobá – o único reconhecido até agora.

O pedido de análise foi encaminhado pela presidente da Comissão da Mulher Advogada no Estado, Ana Luiza Mousinho. “Primeiro, estamos tentando apurar quem são todos os envolvidos. Mas, como o primeiro a ser reconhecido é um advogado, vamos analisar a conduta dele, se há antecedentes, por exemplo”, explica Ana Luiza. Caso o tribunal entenda que os fatos embasam uma punição, as penas podem variar de uma advertência formal a uma suspensão temporária do direito de exercer a profissão ou, no caso mais extremo, a exclusão dos quadros da OAB.

Antes dessa decisão, no entanto, a Ordem publicou ontem uma nota de repúdio à atitude dos brasileiros, destacando que “as estatísticas (de violência contra a mulher) são alarmantes e nos levam a uma profunda reflexão sobre a necessidade de uma mudança urgente da cultura machista e patriarcalista em que nossa sociedade ainda está, infelizmente, inserida”. Confira o texto da nota na íntegra.

Crime O Brasil até atualizou este ano sua lei para prever crimes relacionados a misoginia na internet. Mas, do ponto de vista criminal, o grupo tem a seu favor o fato de a gravação ter acontecido na Rússia. “Para que se possa enquadrar o ato na lei que pune crimes cometidos na internet, seria necessário comprovar que foram aqueles homens os responsáveis por disseminar o conteúdo”, afirma Ana Luiza. Sobre o ato, apenas a justiça russa poderia questionar ou punir.

Procurado pela reportagem, o Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, não se posicionou sobre o caso, mas afirmou por meio de nota que havia elaborado, junto ao Ministério dos Esportes, um guia com orientações de comportamento para o torcedor brasileiro. A cartilha destinada aos turistas que iriam acompanhar a Copa do Mundo na Rússia menciona, junto a questões como infrações por ingestão de bebidas alcoólicas, que “comportamento interpretado como assédio sexual enseja multa e prisão de até um ano”.

Houve também reações no meio artístico, a exemplo da atriz e comediante Mônica Iozzi, que afirmou em seu perfil no Instagram estar “Indignada ao ver mais uma mulher sendo tratada com tamanho escárnio e desrespeito”. 

Machismo Para a especialista em gênero e desenvolvimento de políticas públicas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Paty Sampaio, é preciso refletir sobre a intenção que o grupo teve de tornar o momento uma brincadeira. “É muito recorrente a tendência de transformar a violência em humor, e isso acontece todos os dias. Quem não conhece grupos de homens que usam as redes sociais para compartilhar entre si conteúdo misógino?”, destaca. “Acho ainda que esse caso gerou comoção também por conta da palavra usada, um palavrão ‘mais forte’. Vemos todos os dias situações violentas que passam despercebidas pelo fato de usarem palavras que causam menos impacto”, acredita Paty.

Já a coordenadora geral da ONG Gestos, Alessandra Nilo, acredita que o vídeo reflete o cenário de enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil. “Aquele vídeo é o produto de um País que ocupa os primeiros lugares nos rankings mundiais de violência contra a mulher e que não discute esse assunto, pelo contrário, reduz as verbas das políticas de enfrentamento a essa violência e proíbe em algumas cidades o debate de gênero nas escolas pode ser nas atitudes daquele grupo”, lamenta. Apesar de destacar a gravidade do ato, Alessandra afirma que o momento cria a oportunidade de reflexão para toda a sociedade.

Por mais um dia, Diego Jatobá não se manifestou.

As informações são do Jornal do Commercio