Obras Sociais Irmã Dulce podem suspender atendimento por falta de material

Entidade sofre com falta de materiais hospitalar e de limpeza, além de alimentos, devido à greve dos caminhoneiros

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  • Raquel Saraiva

Publicado em 30 de maio de 2018 às 03:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Almiro Lopes/CORREIO

A maior instituição filantrópica do norte e nordeste, e uma das maiores do Brasil, está pedindo socorro. As Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) estão com o estoque de insumos médicos em nível crítico por causa da falta de abastecimento durante a paralisação dos caminhoneiros. Alimentos perecíveis, como frutas e verduras, também estão em falta na instituição. A organização disse que, caso a situação não se normalize nos próximos dias, terá de suspender cirurgias. “Falta hortifruti, que não tem como estocar. E também todo o restante falta porque nosso período de reposição do estoque é no final do mês”, explica a gestora de Saúde das Osid, Lucrécia Savernini. “Nosso maior medo é ter o paciente internado e não ter o que fazer. Quem está internado não pode ter tratamento interrompido”, ressalta.Atualmente, a instituição conta com 954 leitos em Salvador. São realizadas cirurgias em mais de 30 especialidades médicas na instituição, dentre elas pediátrica, de tireóide e vascular. 

As frutas já foram suspensas nas refeições dos pacientes nesta terça-feira (29). Um produtor de Salvador doou melancias para as Osid, mas a doação foi suficiente apenas para um dia. Por mês, 8 mil bananas, 5 toneladas de coxas de frango e 2 toneladas de tomates, dentre outros ingredientes, são utilizados para a preparação de 160 mil refeições para 20 mil pacientes que são atendidos diariamente.  “Quem não se alimenta bem não melhora rápido, e não podemos suplementar a alimentação [com vitaminas] porque elas também não estão chegando”, diz Lucrécia.  São oferecidas cinco refeições diárias para os pacientes e acompanhante; com os estoques em baixa, as frutas foram suspensas dos lanches (Imagem: Raquel Saraiva/CORREIO) Bloqueios Mesmo com a liberação das estradas, nenhuma carreta tem chegado na sede das Osid, no Largo de Roma. “Estávamos confiando que os caminhões estavam na estrada e seriam liberados dos bloqueios. Só ontem soubemos que os caminhões nem tinham chegado às fábricas. Deu desespero!”, diz Lucrécia. 

Das 16 empresas das quais a entidade compra alimentos, material de limpeza e insumo hospitalar, apenas três dispensaram caminhões para Salvador. Nas outras 13, os caminhões nem chegaram às empresas para pegar os produtos. A maioria dos caminhões parte do sul e no sudeste do país, onde o material é produzido, e as viagens podem durar mais de oito dias.  Os estoques da instituição estão em níveis bastante reduzidos. Faltam os principais medicamentos, incluindo antibióticos, soros e medicação de suporte básico, além de componentes de laboratório e materiais médico-hospitalares, a exemplo de seringas, gazes, agulhas e esparadrapos; também fraldas e luvas. Estoque de material está no fim e as cirurgias em mais de 30 especialidades podem ser suspensas; R$ 60 mil são investidos diariamente só em material médico (Imagem: Raquel Saraiva/CORREIO) Alguns medicamentos estão em situação crítica, como o salbutamol, utilizado para o tratamento de asma. “Tem paciente que utiliza 800 ampolas por dia. Se alguém precisar agora eu não sei o que vamos fazer”, conta um profissional que atua nas enfermarias.

A situação não é pior porque, já pensando no feriado do dia 31 de maio que poderia atrapalhar as entregas, a instituição conteve ainda mais os gastos que já são normalmente regrados. 

“Tínhamos um estoque de segurança que está acabando. Nunca vivemos um período tão longo de restrição. Estamos tentando restringir até as trocas de lençóis, mas há limite por causa do risco de infecção hospitalar”, explica Lucrécia.  Estoque da Osid está chegando ao final - cirurgias podem ser suspensas (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) O músico Moisés Brandão, 42, veio de São Paulo, onde mora, para acompanhar o pai que foi internado na enfermaria na última segunda-feira (28). Ele demonstra bastante preocupação com a situação das Osid. “Eles [Osid] lidam com crianças e idosos que precisam de mais cuidado”.  As Obras Sociais administram ainda hospitais estaduais em três municípios: Barreiras, Irecê e Santa Rita de Cássia. No total, são 1.336 leitos em Salvador e no interior do estado sob administração da entidade.Dificuldade Os problemas vêm sendo enfrentados pela instituição desde o início dos bloqueios. Na semana passada, um catéter para um paciente recém-nascido, com 15 dias de vida, foi enviado para o Hospital do Oeste por um turista que estava viajando de Salvador para Barreiras.  “Pedimos na rodoviária de Salvador para o passageiro levar e o diretor do hospital foi à rodoviária de Barreiras receber. Deu tudo certo. Foi um risco, mas a criança também estava em risco e alguém se solidarizou”, lembra um funcionário do hospital. O transporte de material normalmente é feito por transportadoras, que não estavam realizando atividade.  O paciente Jarilton Farias, de 68 anos, está internado há 15 dias na enfermaria das Osid e não tem previsão de alta. “Ele tá com o coração grande, veio para cá todo inchado. Tá melhorando depois do medicamento”, conta sua acompanhante, a autônoma Gleide Valente, 49. Ela faz muitos elogios ao atendimento no local e às refeições que recebe, que tem direito como acompanhante, e diz que tomou um susto quando soube dos estoques das Osid em decorrência dos bloqueios nas estradas. “Os pacientes precisam do tratamento pra melhorar e pra que possam sair daqui”. 

A instituição ressalta que qualquer doação é necessária na Osid, principalmente nesse momento. “Toda ajuda é bem vinda! Tem pessoas que acham que só um pacote de fraldas não ajuda, por exemplo, mas pense a diferença que faz se várias pessoas trouxerem cada uma um pacote”, ressalta Lucrécia. 

As Osid abrigam um dos maiores complexos de saúde 100% SUS do Brasil, com 3,5 milhões de atendimentos ambulatoriais por ano. Veja como fazer doações:Obras Sociais Irmã Dulce Endereço: Avenida Bonfim, 161, Largo de Roma, Salvador – BahiaRecebimento de doações: das 7h às 19h, todos os dias (inclusive domingos e feriados)Informações: (71) 3310-1105Site: https://www.irmadulce.org.br/portugues/colabore