Oitenta anos de petróleo no Lobato

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  • Marcio L. F. Nascimento

Publicado em 22 de janeiro de 2019 às 05:00

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Foi em 9 de agosto. Naquele dia jorrou petróleo pela primeira vez no Brasil. Uma magnífica coluna levantou-se a 40 metros do solo, descreveu uma curva no céu e caiu sob forma de chuva negra. Na maior algazarra, entre palmas e assovios, o país proclamava sua independência econômica. A produção, em sua inauguração, chegou a 500 barris diários, segundo a imaginação do autor destas linhas, o escritor, ativista e empresário brasileiro José Bento Renato Monteiro Lobato (1882 -1948) no seu magnífico livro O Poço do Visconde, publicado em 1937.

De fato, o petróleo jorrou no sábado, 21 de janeiro de 1939, no início da tarde, a partir de um poço perfurado no bairro do Lobato, em Salvador, após grande insistência e perseverança do engenheiro geógrafo Manoel Ignácio Bastos (1891 -1940) e de seu sócio, o corretor Oscar Salvador Cordeiro (1890 -1970). Muito antes disto, o anúncio da descoberta de petróleo havia sido publicado numa quinta-feira, 2 de março de 1933, e nos dias seguintes, em diversos jornais do país, pelos mesmos personagens.

Uma curiosa coincidência histórica envolve a região onde se implantou com sucesso o primeiro poço de petróleo brasileiro: o bairro do Lobato. Segundo o Tratado Descriptivo do Brasil, de 1587, escrito pelo naturalista e historiador português Gabriel Soares de Souza (1540 -1591), no capítulo XXI da segunda parte, lê-se que havia um engenho de açúcar, próximo de Tapagibe, de propriedade de Vasco Rodrigues Lobato (c. 1515 - c. 1563). Coincidentemente, o petróleo extraído nesta região também pertenceu a Francisco Rodrigues Lobato, sobrinho de Vasco, que não deixou herdeiros diretos. Desta maneira, o nome da localidade, por também coincidir com o do famoso escritor e defensor da campanha do petróleo Monteiro Lobato, foi confundido como uma homenagem que de fato nunca existiu.

Os registros históricos também não deixam dúvidas de que a descoberta do ouro negro se deve unicamente a Manoel Ignácio Bastos, que nasceu no dia 20 de março de 1891 em Salvador. Com a morte dos pais, Bastos teve que trabalhar como revisor no jornal A Tarde. Formou-se na Escola Polytechnica da Bahia em 1922, trabalhando depois como funcionário público na Delegacia de Terras e Minas na cidade de Lençóis, zona diamantífera do sertão baiano.

Ao buscar por auxílio, frente a um bom número de dificuldades, sobretudo financeiras, encontrou na pessoa de Oscar Cordeiro, à época presidente da Bolsa de Mercadorias da Bahia, um importante aliado, principalmente nas longas ausências de Bastos ao trabalho. Ambos lograram êxito, cinco anos depois, com a chegada da sonda e a criação do poço L-163, o primeiro a verdadeiramente jorrar petróleo no Brasil.

Logo após tais notícias, o governo Vargas publicou, via Decreto 3.701, de 8 de fevereiro de 1939, nacionalizando a reserva e proibindo acesso a Bastos e Cordeiro. Infelizmente, Bastos faleceu muito jovem, em 27 de novembro de 1940, vítima de um enfarte. Cordeiro e a viúva de Bastos lutaram durante anos pelo ressarcimento de dívidas contraídas pela pesquisa e exploração do petróleo.

Embora o poço não tenha se mostrado comercialmente viável, este inaugurou uma série de prospecções com resultados altamente positivos, como aqueles encontrados em Candeias, região do Recôncavo baiano, em maio de 1941. Vale ressaltar que, 80 anos depois da descoberta, moradores do Lobato ainda encontram veios de petróleo, que continua ainda a jorrar na Bahia! Graças a Bastos e Cordeiro, descobrimos que o petróleo é realmente nosso, concretizando o sonho de Monteiro Lobato.

Marcio Nascimento é professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Ufba

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