Oito livros eternizam legado de Mãe Stella

Coleção Odú Adajó é dedicada ao oráculo jogo de búzios

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  • Roberto Midlej

Publicado em 11 de setembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos: reprodução (esq.); Marina Silva/Arquivo CORREIO (dir.)

Mãe Stella de Oxóssi (1925-2018), que foi ialorixá do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá por quatro décadas, já dizia que “o que não se registra, o tempo leva”. Daí, a importância de sete livros dela que estão sendo lançados e mais um oitavo que ganha uma nova edição. Todos os volumes da coleção Odú Adajó (Autorale Edições) são dedicados ao oráculo jogo de búzios. Cada volume é sobre uma caída do jogo.

Para marcar o lançamento, será realizada uma live no Facebook da Fundação Portal da Lua, amanhã, às 19h. O dia marca também os 81 anos da iniciação de Mãe Stella. Participarão o babalorixá Raimundo de Airá; a yalorixá Palmira; pai Dionata de Xangô; Babálojá Ojélekê; Bàbálawo Elésire; Ed Machado D'Oxóssi; o fotógrafo Antonello Veneri e a jornalista Flávia Oliveira.“Esta coleção é muito importante porque o oráculo é visto como um processo de adivinhação, mas não é. Ele serve para entrar em contato com o momento presente”, diz Graziela Domini, filha de santo de mãe Stella e que morou com a sacerdotisa até o fim da vida dela. Graziela também estará na live.

Todo o conteúdo do livro foi transmitido oralmente por Mãe Stella a Graziela, que realizou o registro escrito. “Por dez anos, morei no terreiro e, depois morei com Mãe Stella, na casa dela. Ela escrevia algumas coisas para ela mesma e, inicialmente, não pretendia publicar. Mas passei a organizar aqueles escritos. E então passamos a escrever juntas todos os dias, quando acabavam os rituais. Praticamente, um turno de cada dia era dedicado a esses livros”, lembra-se Graziela. Dessas conversas, resultaram 16 volumes. Os oito restantes serão lançados em breve.

Segundo Graziela, os livros já estão sendo procurados pelos religiosos e também por parte do público acadêmico que estuda o candomblé. “É um material não apenas para iniciados [no candomblé], mas para estudiosos da cultura africana, porque é um conhecimento profundo escrito de maneira leve”.

Tradição Oral

Embora Mãe Stella tivesse profundo respeito pela tradição oral do candomblé, ela defendia o registro escrito, pois assim iria perenizar seus ensinamentos, segundo Graziela. A filha de santo acrescenta outra razão para a publicação dos livros: “Em outros tempos, as mulheres não trabalhavam e viviam no terreiro, então tinham todas as condições para aprender. Mas o mundo mudou. Mãe Stella não tinha como passar seus conhecimentos [oralmente] para todos e meu dever é replicar o legado dela nos meios de comunicação”.

A ialorixá Palmira, do Rio de Janeiro, além de ser uma das convidadas da live, escreveu a orelha do livro Ejonile. “Estes livros são um legado importante porque a oralidade pode ser mal interpretada  ou se perder”, diz Palmyra.“O livro Ejonile fala dos caminhos que regem a nossa vida. Cada um vem predestinado ao mundo com um caminho. Quem ler o livro vai se conhecer melhor e vai saber por que passa por tantos tropeços na vida”, acrescenta.Segundo Palmira, a obra de Mãe Stella também ajuda a diminuir a intolerância contra o candomblé: “Ela presta esclarecimentos importantes. Por que animais são sacralizados? Por que se joga água na terra? Quem lê Mãe Stella entende a importância desses e de outros atos no candomblé”.

O artista plástico Ed Ribeiro foi convidado para ilustrar a capa do livro Osa. “Pintei uma Iemanjá. ‘Stella’ significa ‘estrela, ‘luz’. Então, não poderia ser diferente: pintei uma Iemanjá com uma luz muito forte, É a luz que nos guia, como faz Mãe Stella. Ela nos guia a levar o bem e as boas energias”, afirma o artista, que faz questão de se referir à religiosa no tempo presente.Coleção Odú Adajó.

Serviço

Lançamento: sábado (12), às 19h

Onde: em live no Facebook da Fundação Portal da Lua

À venda: whatsapp (71) 9 9633-9838

Preço: R$ 100 (cada livro)