Olha o pasteeel! Conheça vendedora baiana que ficou famosa na net

Há 10 anos o grito inconfundível da ex-empregada doméstica Greice Rodrigues ecoa na praia da Ponte do Crush, na Ribeira; vídeos em redes sociais somam mais de meio milhão de visualizações

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  • Rafaela Fleur

Publicado em 10 de dezembro de 2017 às 09:33

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos de Almiro Lopes

Gleise Rodrigues nunca - nunca mesmo - é chamada pelo seu nome de batismo. Conhecida como ‘garganta profunda’, ‘zuadenta’ e ‘gritadeira’, é da vendedora ambulante de 43 anos o bordão “olha o pasteeeeeeel” - grito mais alto e famoso da praia da Ponte do Crush, na Ribeira. No máximo, para os mais íntimos, ela é Greice. E é assim que gosta de ser chamada. 

Figura conhecida na Cidade Baixa, a fama da vendedora - que já era grande - aumentou recentemente, quando um vídeo em que ela aparecia soltando seu berro ensurdecedor viralizou na internet.

Só no YouTube, o ‘Olha o Pastel’ já soma mais de 300 mil visualizações. No Facebook, contando apenas os grupos públicos da rede social, são 270 mil. “Estou adorando. Todo mundo me respeita, amo trabalhar aqui”, comenta.

O amor é recíproco. Quando não é ela que está gritando, são os outros que gritam para ela. Foi o que aconteceu quando Greice passou pela Rua Alcebíades Barata, onde mora com o marido e os dois filhos. As crianças que estavam por lá pararam a brincadeira para gritar ‘olha o pastel’ e bater palmas para a vendedora. Ela, claro, acenou feito celebridade. 

Moradora da Ribeira há 20 anos, vende pastel há 10, sempre no mesmo lugar. E sem problemas nas cordas vocais. Nem uma rouquidãozinha, garante. “Cadê o dinheiro? Compre logo que só tem mais um, depois não venha reclamar”, diz ela, ainda que restem metade dos 800 pastéis que leva para a praia todos os dias. Cada um custa R$ 0,80. Na promoção, ‘é três por R$ 2’. Cláudia Souza é cliente de Greice há seis anos: “Todo dia eu venho aqui. Ela tem que virar blogueira!” Os sabores? Não tem plural, no cardápio de Greice o sabor é um só: soja. “Quando me chamam, eu vou logo avisando que é de soja. Quem quiser carne vá comer em sua casa!”, orienta a vendedora, que volta todos os dias com o petisco esgotado. “Quem come nem desconfia, capricho no tempero”, salienta.

Entre um papo e outro na beira da praia, o almoxarife Marcos Levi, de 54 anos, comprou exatos 15 pastéis. “Não moro aqui, não conhecia. O negócio é bom mesmo, cai bem”, garante.

Diferentemente de Marcos, Cláudia Souza é cliente antiga: são mais de seis anos comprando pastel com Greice. “Todo dia eu venho tomar meu banho de mar e compro com ela, vale a pena”, relata a vendedora de 49 anos. A relação das duas ultrapassou os limites comerciais e virou amizade.

Segundo Cláudia, o carisma da gritadeira é tanto que ela deveria investir em outra carreira. “Ela tem que virar blogueira!”, sugere. Greice ri, mas não parece muito interessada. “Tá bom assim, eu amo o que eu faço. Sou a pessoa mais feliz da Cidade Baixa”.

O vídeo inspirou até brincadeira com apresentação de Claudia Leitte no The Voice. Assista:

O negócio, que hoje é sua maior fonte de renda, começou por acaso. “Estava em casa com meu marido, sentimos fome e resolvi fazer pastel. Ficou bom e meu filho teve a ideia de vender”, relata ela, que voltou com a caixa vazia desde o primeiro dia em que saiu para a batalha.

Antes, Greice trabalhava como doméstica, ofício que começou a desempenhar na infância, aos 13 anos. “Passei por muitas humilhações. Já aconteceu de não me deixarem abrir a geladeira para beber água, no almoço comia cebola e tomate. Não aguentava mais”, confessa.

A demissão, que veio pouco tempo depois do episódio, não a abalou. “Fui comemorar tomando minha cerveja gelada na Ribeira”, acrescenta. E tomou em boa companhia. Nesse dia, ela conheceu o atual marido. Pouco tempo depois, saiu da Suburbana e foi morar na Ribeira, ao lado do amado. Já são 20 anos juntos. 

Laudelino Santos, 50, ajuda Greice a produzir os pastéis todos os dias e torce pelo sucesso da esposa. “Ela merece ficar conhecida no Brasil inteiro, é boa no que faz”, enaltece o pai de Cauã, 13, e Iure, 20.

Apesar dos filhos e das duas décadas de relacionamento, o casamento de papel passado nunca aconteceu. “Pra que casar? Tá bom assim, não tenho vontade nenhuma!”, conta.

A fama inesperada ainda não rendeu frutos financeiros. Apesar de vender bem e ser querida pelos clientes, nem sempre o dinheiro que ganha - em média, R$ 1.000 por mês - é suficiente para os gastos. “Às vezes, não tenho condições nem de comprar o óleo”, lamenta. “Meu único sonho é reformar meu cantinho, comprar um fogão melhor e continuar vendendo pastel”, completa.