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Olhando em volta do campo


 

  • Da Redação

Publicado em 20/04/2019 às 05:00:00
Atualizado em 06/05/2023 às 03:36:08
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Para além do campo de jogo, com a disputa da Copa do Brasil, o Bahia ganhou manchetes essa semana graças ao lançamento de uma campanha em defesa das comunidades indígenas.

A geração da mídia espontânea é ótima para o tricolor devido à circulação da sua marca. Entretanto, bem mais importante que isso é o entendimento que o clube passou a ter, de uns tempos pra cá, do papel social que exerce uma instituição da dimensão do Bahia.

Ao defender a #demarcaçãojá (porque sem ela não há o jogo), o clube encontra uma metáfora perfeita pra tratar de relações humanas e culturais e respeito à memória, num momento em que as instituições brasileiras marcham para rasgar a própria história.

Antes desta ação, o Bahia já tinha levado a campo iniciativas ligadas às causas negras e LGBT, além de ter deixado claro que é contra qualquer tipo de ditadura. Tem torcedor que torce o bico, talvez porque precise de mais tempo para tirar o foco direcionado somente para o gramado e olhar um pouco em volta.  

Futebol é troca social, é linha de costura nas relações comunitárias, é símbolo de identidade. Futebol é esporte coletivo e deve traduzir a coletividade em todas as suas nuances. Futebol é, e sempre foi, como (quase) tudo na vida, parte da engrenagem política.

Pra ficar só no exemplo da vez: não é de agora que há um genocídio indígena em curso no Brasil, mas o monstro cresce bem mais rápido quando o Estado brasileiro passa a alimentá-lo, o que ocorre neste exato momento. Defender a demarcação é tão somente a obrigação do Bahia – e de qualquer marca que tenha clareza do seu papel como entidade popular.  

Então, se alguém encher o peito pra dizer que não se deve misturar esporte com política, chame essa pessoa pra uma boa conversa, caro leitor ou bela leitora. É uma pena, mas ela não faz a menor ideia de como chegamos até aqui.

Rumo à urna Já escrevi bastante aqui sobre o processo eleitoral do Vitória, mas é sempre bom deixar um lembrete de última hora.

Na próxima quarta, dia 24, os sócio-torcedores aptos vão escolher a nova diretoria e os membros dos conselhos Deliberativo e Fiscal. Os candidatos à presidência estão enfileirados e cada um votará no nome que achar o melhor para comandar o clube por três anos e meio.

É essencial conhecer o que planeja cada um deles caso seja eleito. Qualquer discurso que vá de encontro ao cenário democrático que, gradativamente, vai tomando forma na Toca do Leão, deve ser rechaçado pela torcida.

Também vale lembrar da importância do Conselho Deliberativo, pois é esta instância que fiscaliza as ações diretivas e pode (ou não) frear iniciativas danosas ao Vitória.

Os conselheiros devem atuar com independência e precisam ter a seu alcance ferramentas de vigilância, o que só será possível com uma atualização do estatuto. É este estatuto que vai ditar os rumos da Democracia e permitir (ou não) mais eleições como esta que o Vitória vivencia agora.

Em outros tempos, no meio de uma crise como a atual, a “solução” nasceria nos bastidores, em reuniões marcadas em algum restaurante bem climatizado. Agora, o poder é dos torcedores. Os rubro-negros não deveriam abrir mão disso.    

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados