'Onde vou dormir essa noite?', diz moradora de Itapuã que perdeu móveis na chuva

Famílias tiveram casas e comércios alagados 

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  • Eduardo Dias

Publicado em 31 de dezembro de 2019 às 09:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Eduardo Dias/CORREIO

A comunidade de Água Suja, situada na região da Rua Álvaro Baqueiro, em Nova Brasília de Itapuã, sofreu com as fortes chuvas que caíram sobre Salvador durante a madrugada desta terça-feira (31). Segundo os moradores, os estragos são incontáveis. Os prejuízos vão de móveis, eletrodomésticos e mercadorias do comércio. 

Dona de uma sorveteira e pizzaria no local, Julivania de Jesus, 36 anos, foi surpreendida pelos estragos em seu estabelecimento quando abriu as portas às 8h da manhã desta terça-feira (31). Ela, que havia se programado para trabalhar na última noite de 2019 sem hora para parar, teve o desprazer de ver seu comércio debaixo d'água. 

"Ainda não consigo nem avaliar o prejuízo total aqui. O ponto é alugado, o prejuízo foi de mercadoria, mesas e cadeiras, além do espaço todo. A água chegou a 1 metro de altura, a marcas estão na parede. Hoje eu estava me programando para trabalhar sem hora para acabar nessa virada de ano", contou a comerciante, que foi avisada do alagamento pela mãe, que mora em frente ao seu ponto comercial. 

"Estava em casa dormindo, minha mãe me ligou avisando que estava saindo água por debaixo da porta da pizzaria. Quando viemos abrir, estava tudo no chão, molhado. Essa é minha única forma de sustento, vendo pizza, sorvete, a gente se vira como pode no bairro", completou. 

Vizinha da pizzaria, dona Rosa Amélia, 61, mora na comunidade há 50 anos e afirmou que nunca viu uma chuva como a da última madrugada. Ela, que vende balas e salgados na porta de casa, perdeu cerca de R$ 500 em mercadorias estocadas em casa.  Dona Rosa mora no local há 50 anos e diz que nunca viu uma chuva como essa (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) "Eu moro aqui com meu filho, trabalho vendendo essas coisas aqui na porta para poder nos sustentar. Essa noite não sei como vamos fazer, molhou tudo. Onde eu vou dormir essa noite? Meu colchão está encharcado, meus móveis também. Graças a Deus ninguém se feriu ou teve algo grave, foram apenas danos materiais que lutando e trabalhando a gente consegue recuperar um dia", afirmou a comerciante.

Solidária e prestativa, como ela mesma se intitula, Dona Rosa não se preocupou apenas com a sua casa durante a chuva. No imóvel da frente, vive a aposentada Elvira, 72, que mora sozinha, e conta com a ajuda dos vizinhos. Quando viu a chuva, dona Rosa correu para ver se a vizinha precisava de ajuda. 

"Quando a chuva começou a alagar, corri e peguei a chave do portão dela que fica comigo e fui lá ver se tinha conhecido algo com ela. Ela estava dormindo. Sempre que tem uma chuva assim, venho olhar ela. Foi tudo muito rápido, não durou nem 30 minutos, mas acabou acontecendo tudo isso. Sinceramente, eu não tenho mais onde dormir, só tenho esse colchão que está encharcado mesmo e um sofá", completou Rosa.

"Que sofrimento, parece que passou um tsunami no bairro", gritavam os moradores ao saírem de suas casas, atingida pelas fortes chuvas. No local, as pessoas que transitam na rua se equilibravam nas paredes, e dividiam os mínimos espaços nos cantos das calçadas por conta da forte lama que se formou nas ruas e travessas do bairro. A chuva trouxe lixo e a lama causou um forte odor pelas ruas. Casas e estabelecimentos comerciais foram os locais mais atingidos. Foto: Eduardo Dias Dono de lan house estima prejuízo de R$ 15 mil Entre os afetados estão o morador do Abaeté, Agnaldo Alves, que mantém uma lan house e xerox no local há 14 anos. Para ele, sempre choveu e nunca houve algo parecido com o que aconteceu na madrugada. Ele, que estava em casa no momento da chuva, foi avisado por um morador sobre o alagamento e avaliou o prejuízo dos equipamentos em cerca de R$ 15 mil entre computadores e impressoras.

"O cheiro está insuportavel na rua, só fede a lama podre. São 14 anos jogados fora em uma chuva só. São oito computadores, só a máquina de xerox vale R$ 3 mil. É um prejuízo enorme, essa chuva pegou todo mundo aqui de surpresa. Um morador me ligou pra avisar que estava tudo alagado, a água estava dando acima da cintura. Agora é trabalhar para tentar recuperar tudo", contou.

Já José Roque Marques, 53, que é proprietario de uma loja de frutas há 17 anos na comunidade, revelou que a água da chuva atingiu mais de um metro de altura dentro de seu estabelecimento causando a perda de mercadorias e equipamentos como balanças e máquinas de cartão de crédito. 

"As frutas caíram tudo no chão e tive que jogar fora. Queimaram as balanças e máquinas de cartão. Cerca de R$ 6 mil em mercadorias. Tive que jogar uma caixa inteira de acerola e 20 de morangos fora, estavam encharcados. Vou ver se arrumo umas máquinas emprestadas para poder funcionar ainda hoje depois da limpeza", afirmou o comerciante.

Por causa das fortes chuvas, o nível de alerta da Defesa Civil foi elevado para o máximo. A previsão para esta terça-feira é de céu nublado e parcialmente nublado com possibilidade de chuvas.  Até às 9h54 a Defesa Civil havia registra 92 ocorrências. Do total, 62 das ocorrências foram entre Itapuã e Ipitanga e 50 delas referentes a alagamento de imóveis. O bairro de Itapuã acumulou 116,2mm de chuva nas últimas 24 horas, de acordo com a Defesa Civil.