Ônibus incendiado no IAPI quase vitimou idosos: ‘estavam abraçados’

Polícia ocupou região da Liberdade nesta terça; na véspera, segundo coletivo foi incendiado, na Calçada

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  • Bruno Wendel

Publicado em 30 de agosto de 2017 às 01:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

Os ataques a dois ônibus, que acabaram incendiados nos bairros do IAPI e Calçada, na noite desta segunda-feira (28), e motivaram a polícia a ocupar cinco bairros na região da Liberdade, na manhã desta terça, não deixaram nenhum passageiro ou rodoviário ferido, mas quase terminaram em tragédia. 

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Isso porque, as chamas que destruíram o ônibus da empresa Plataforma (linha IAPI/Lapa), atacado por um grupo de encapuzados, por volta das 21h30 de segunda, também atingiram uma barraca de doces e a frente de uma casa, onde mora um casal de idosos, na Rua Conde de Porto Alegre.“Meus pais estavam sozinhos. Eles correram para o fundo da casa, para respirar. Quando os bombeiros apagaram o fogo, entrei na casa e os encontrei abraçados com uma toalha molhada no rosto, para facilitar a respiração”, contou a filha dos idosos, que preferiu não se identificar.Apesar do susto, o casal está fora de perigo. “Graças a Deus, eles estão bem, mas a barraca, onde meu pai vende doces, deve estar tudo destruído. A gente não abriu, mas pela quentura, deve ter perdido tudo”, contou ela, na manhã desta terça, quando o IAPI e os vizinhos Santa Mônica, Pau Miúdo e Calçada, além da Liberdade, tiveram a segurança reforçada.

“Os casos podem ter ligação com a morte de um traficante em confronto com forças de segurança”, afirmou a Secretaria da Segurança Pública (SSP) em nota.

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Guarnições da 37ª Companhia Independente (Liberdade), Rondas Especiais (Rondesp), Esquadrão Motorizado Águia, Operação Apolo, Grupo Gêmeos, Batalhão de Choque/Patamo, além de um helicóptero do Grupamento Aéreo (Graer), além do Gercc, ocuparam as ruas, para impedir novos ataques.

“O que a gente fez foi mobilizar as unidades nos principais pontos da Liberdade e nos finais de linha”, declarou o comandante da 37ª CIPM, major Edimilton Reis.

A outra ação criminosa da noite de segunda, e que também teria sido motivada pela morte de um traficante, ocorreu no bairro da Calçada. Bandidos atacaram o veículo da empresa OT Trans, que fazia a linha Estação Pirajá/São Joaquim, pouco depois das 22h. 

Investigação Segundo o Centro Integrado de Comunicações da Secretaria da Segurança Pública (Cicom), o atentado no IAPI, que também atingiu a rede de energia e interrompeu o serviço telefônico do Samu 192 (ver abaixo), teria acontecido em represália à morte de João Carlos dos Santos Cardoso, 30 anos, o Jota Carlos. Ele atingido por tiros, na manhã de segunda, no mesmo bairro. 

Fontes da polícia disseram ao CORREIO que pouco depois de atearem fogo ao ônibus, o grupo de encapuzados correu para vielas que dão acesso à localidade do Milho, onde há uma aliança entre a facção Comando da Paz (CP) e um grupo denominado de Ordem e Progresso (OP), comandado por um traficante conhecido como Coruja, ex-integrante da facção Caveira. “Com essa aliança, não sabemos se o Jota Carlos pertencia a CP ou a OP”, disse um policial, sem se identificar.

Já o major Edimilson Reis afirmou que o caso é investigado pela Polícia Civil e que a região da Liberdade “tem quadrilhas que brigam entre si”, e que tomou conhecimento de Jota Carlos há 15 dias. 

“Estou no comando da unidade há três anos e só agora tivemos notícias dele. Há 15 dias, prendemos três homens com droga ligados a ele e que vieram da Ilha de Itaparica. Logo em seguida, recebemos ligações da comunidade dizendo que Jota Carlos tinha retornada e que voltar a instalar o pânico na região”, comentou o major Reis. Policiais ocupam ruas da região da Liberdade, após ataques a dois ônibus (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Histórico Jota Carlos foi preso por tráfico de drogas em 2012. “Ainda não sabemos, de fato, se há uma ligação entre a morte dele e o ônibus queimado no IAPI e nem se as duas situações estão também ligadas ao ônibus queimado na Calçada, pois esta última situação pode estar relacionada a outra coisa”, disse o titular da 2ª Delegacia (Lapinha), delegado Luís Henrique Costa Ferreira, fazendo referência ao alegado confronto ocorrido por volta das 16h desta segunda, na Calçada, onde um homem morreu em confrontou com a Rondesp.

Ainda na segunda-feira, Diogo Oliveira Batista, 26, foi morto em via pública, na Rua São Domingos, também na Liberdade. 

Mudança de final de linha Com a presença da polícia, o comércio na região da Liberdade funcionou normalmente, nesta terça. “Graças a Deus, até agora nada aconteceu. Tem polícia para todos os lados”, disse Alfredo de Jesus Lima, 69 anos, dono de um mercadinho no final de linha do Pero Vaz. 

No entanto, o serviço público de transporte chegou a parar, após boatos de toque de recolher, mas retomou logo depois. “No início da manhã, o final de linha dos ônibus chegou a ser deslocado para o Retiro, mas antes das 6h já seguimos o fluxo normal porque o policiamento foi reforçado com grupos especializados da PM, inclusive a tropa nova chamada Patamo", explicou Fábio Primo, vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários.

Problemas no Samu As chamas que consumiram o ônibus na Rua Conde de Porto Alegre, além de atingir a barraca de doces e a casa dos idosos, também danificou postes de iluminação pública, causou interrupção do fornecimento de energia na região e comprometeu a fiação da central telefônica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no Pau Miúdo. Fora do ar, o telefone 192 só voltou a funcionar no final da manhã desta terça (29). O serviço chegou a atender, temporariamente, pelos números 193 e 190.

Ainda pela manhã, técnicos da Coelba trabalharam no local para normalizar a distribuição de energia, interrompida por causa das chamas do ônibus que atingiram a fiação. “Acredito que a região deve voltar ao normal ainda hoje”, disse Daniel Braga, um dos técnicos envolvidos no conserto. O CORREIO não conseguiu confirmar se o serviço foi normalizado ainda nesta terça.