Ônibus param de circular no Jardim Santo Inácio após crimes

Polícia Militar garante que reforçou policiamento no bairro

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  • Da Redação

Publicado em 25 de março de 2019 às 14:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Os ônibus estão sem entrar no bairro do Jardim Santo Inácio desde esse domingo (24) - no dia anterior à decisão do Sindicato dos Rodoviários, no sábado (23), o encarregado de vendas Djalma do Patrocínio Santos Júnior, 44 anos, e o estudante Eduardo Bispo Santos, 18, foram baleados e mortos em um lava a jato do bairro. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (25) pelo vice-presidente da categoria, Fábio Primo. "Desde ontem decidimos não entrar mais lá, por conta da insegurança. Também percebemos, pela movimentação, que há policiamento, mas como estão acontecendo muitas ações policiais por lá, preferimos preservar nossos rodoviários. Amanhã (terça-feira) vamos nos reunir para avaliar a possibilidade de voltar a entrar no bairro".

O último ponto que os ônibus estão parando, segundo Primo, é justamente o que fica na entrada do bairro.

Através da assessoria de comunicação, a Polícia Militar enviou uma nota e confirmou que "o policiamento segue reforçado no bairro Jardim Santo Inácio. Além do efetivo da 48ª Companhia Independente da PM (CIPM/Sussuarana), com o emprego do motopatrulhamento e guarnições do Pelotão de Emprego Tático Operacional (PETO), a Companhia de Policiamento Tático Operacional (CIPT)/ Rondesp Central, está presente no bairro, garantindo a tranquilidade da comunidade".

Disse ainda que "a decisão sobre o restabelecimento do transporte público não compete à Polícia Militar". Policiais reforçam segurança no Jardim Santo Inácio (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Enterro O corpo de Eduardo foi enterrado na manhã desta segunda-feira (25), no Cemitério Municipal de Pirajá. Por volta das 9h30 dois ônibus lotados de parentes e amigos chegaram ao local. Todos estavam muito abalados. "O rapaz era cristão, frequentava assiduamente a igreja, não era envolvido com nada. Eles tiraram Eduardo de dentro do carro que estava lavando e mataram", lamentou um dos parentes da vítima. O lava a jato, onde o jovem foi morto, era perto da igreja que a vítima frequentava e também do ponto de acarajé da mãe dele. A baiana e o marido testemunharam a morte do filho e, por pouco, também não foram assassinados. Amigos e parentes pedem paz no Jardim Santo Inácio (Foto: Evandro Veiga) "O pai pediu para eles não matarem Eduardo. Aí, um dos criminosos virou e atirou contra o casal, que se abaixou. Por pouco não morreram", disse um amigo da família.

Após o enterro, parentes e amigos de Eduardo, seguiram para o Jardim Santo Inácio, onde protestaram. Usando camisas pretas e balões brancos, amigos carregavam faixas e cartazes pedindo por justiça. "A gente já não aguenta mais com essa violência. Mães choram diariamente pelos sangues dos filhos. Até quando isso?", questionou uma das manifestantes.

Cerca de 100 pessoas participaram do protesto no final de linha. A adesão contou também com alunos de duas escolas públicas, que não tiveram aulas, e de alguns comerciantes do bairro.

Já o corpo de Djalma foi liberado pelo Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) no domingo (24). Ele foi enterrado no mesmo dia, no cemitério Campo Santo, na Federação.

Através da sua assessoria de comunicação, a Polícia Civil informou que "equipes da 2ª Delegacia de Homicídios - Central investigam o caso. Incursões estão sendo realizadas para identificar e prender os autores, alem de outras medidas de Polícia Judiciária que estão sendo adotadas".

Não foi informado quantas pessoas já prestaram depoimento. 

Relembre o caso Dois homens foram mortos a tiros do bairro de Santo Inácio, na noite deste sábado (23). Djalma e Eduardo, que tinha um lava a jato, foram baleados por homens que, segundo moradores do bairro, estavam encapuzados.

As vítimas estavam no estabelecimento quando foram surpreendidas pelos assassinos. Depois de cometerem o crime, os bandidos escreveram no carro de Djalma a sigla "BDM", iniciais da facção criminosa Bonde do Maluco. 

Ainda não há informações sobre quem era o alvo do ataque, que aconteceu na Rua Água de Cheiro, depois da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro. Como de costume, Djalma foi lavar o seu Renault Captur no bairro do Jardim Santo Inácio, onde mora um amigo. Era por volta das 19h quando Eduardo terminava de enxugar o carro, enquanto Djalma aguardava ao lado."Foi quando desceram de um carro um grupo de homens armados e começaram a atirar. Eles estavam encapuzados", contou um parente de Djalma, na manhã deste domingo (24) no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR). A família de Djalma foi informada do crime horas depois. “Já era de tarde, quase meia-noite quando chegamos no local. Encontramos ainda algumas viaturas da polícia. Não achamos a carteira dele (Djalma) e nem o celular”, disse um outro parente da vítima. 

Questionado sobre o motivo do crime, uma outra pessoa da família respondeu: “Ele era um pai de família, trabalhador. Não era vagabundo. O restante só Deus é quem sabe”.

Djalma trabalhava numa concessionária de carros, era casado e tinha dois filhos - um menino 11 anos cadeirante e uma menina de um ano e dez meses.  Moradores contaram que Eduardo havia montado o lava a jato para ajudar os pais (Foto: Reprodução) 'Cara limpa' Uma outra versão, também apresentada por moradores do bairro, nega que os atiradores estivessem encapuzados. Segundo testemunhas, o grupo chegou ao local dividido: uns a pé, outros de carro. Uma testemunha contou que eram mais de 40 pessoas, armadas e com coletes à prova de balas. Eles atiraram contra outras pessoas, mas apenas Eduardo - que lavava o carro, foi tirado de dentro do veículo e morto diante da mãe - e Djalma, que era cliente antigo do lava a jato, foram atingidos. "Foi uma correria, gente se escondeu até atrás da geladeira do mercado, crianças apavoradas correndo, foi um desespero", disse um morador, que não quis se identificar. Eduardo, conhecido no bairro como Tim, havia montado o lava a jato na frente de casa para ajudar os pais no sustento da família. No imóvel, moravam ele, o pai, a mãe e mais quatro irmãos. "Eduardo era um menino nascido e criado no bairro. A rotina era igreja pela manhã, depois trabalho e depois escola. Um menino de boa índole, pais maravilhosos", contou outro morador. Neste domingo (24), mensagens de luto foram escritas no local. Mensagem de luto em homenagem a Eduardo, conhecido como Tim, foi deixada no bairro (Foto: Reprodução) Em nota, a Polícia Militar (PM) informou que policiais “da 48ª CIPM foram acionados logo após informações de disparos de arma de fogo com duas vítimas na Rua das Águas de Cheiro, bairro Jardim Santo Inácio, na noite de sábado (23). A guarnição encontrou no local um homem, 44 anos, ferido, porém já sem vida. Segundo informações de transeuntes, a outra vítima, um rapaz de 18 anos também ferido nos disparos, foi socorrida por populares a UPA de Jardim Santo Inácio, mas não resistiu aos ferimentos”.