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Espetáculo faz estreia mundial na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, no sábado (14)
Laura Fernades
Publicado em 11 de março de 2020 às 06:00
- Atualizado há um ano
Assistir à Ópera dos Terreiros é como assistir a um filme: o cenário pega fogo (ou pelo menos as projeções fazem o espectador pensar assim), o amor proibido dá uma dose de dramaticidade à cena e a música preenche a trama. Espécie de versão baiana de Romeu e Julieta, o espetáculo do Núcleo de Ópera da Bahia vai rodar a Europa em 2021, mas antes faz sua estreia mundial em apresentação única na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, sábado (14).
“Ópera não morde, muito pelo contrário. A gente pode se apaixonar, se sentir próximo de um dos protagonistas, exatamente como se emociona e se vivencia um filme”, compara o maestro ítalo- baiano Aldo Brizzi, 59 anos. Libretista, ou seja, quem escreve a história da Ópera dos Terreiros, Brizzi também está compondo uma ópera com o cantor Gilberto Gil que terá estreia em Paris, em novembro, mas ainda não tem previsão de vir a Salvador.
Sobre o trabalho que estreia neste fim de semana, na capital baiana, Brizzi explica que o enredo valoriza a cultura ancestral afro-brasileira e a trilha destaca a percussão. “A Ópera dos Terreiros é muito forte. Acho que o público vai se emocionar muito. É como assistir a um filme, com muita ação, muita melodia, dramaturgia clássica misturada a elementos totalmente diferentes e com todas as simbologias”, convida.
Dendê O mote da Ópera dos Terreiros é a complicada história de amor entre Nzailu e Dara, um negro banto e uma negra nagô. Durante 1h30 de espetáculo, sem intervalo, o público entra em contato com as diferenças étnicas dos povos escravizados no Brasil: enquanto os nagôs foram destinados aos serviços domésticos, os bantos foram forçados ao trabalho pesado nas lavouras de cana-de-açúcar e café.
Apesar da rivalidade familiar, Nzailu e Dara têm os destinos cruzados pelo orixá Exu. “A gente quer mostrar que quando os negros vieram para cá, existiam crenças diferentes, religiões e hierarquias. Mas eles tinham que ‘sumir’ para ganhar força e lutar contra o que estavam passando. A história do Brasil surgiu da união desses povos escravizados na Colonização”, destaca a produtora geral da ópera, Renata Campos, 46.
O sincretismo “vai ao extremo nessa ópera”, acrescenta a cantora lírica Graça Reis, 43, intérprete de Oxum e da Dona do Tempo, mãe de todos os orixás. “Tem muita força percussiva, muita força ancestral”, destaca Graça, que idealizou o Núcleo de Ópera da Bahia na tentativa de dar oportunidade a cantores e cantoras negros na ópera do Brasil e do mundo.
A cantora soprano Irma Ferreira, por exemplo, que faz parte do grupo desde 2016, protagonizou a última versão da Ópera Lídia de Oxum, do compositor baiano Ildásio Tavares (1940-2010). Agora, na Ópera dos Terreiros, assume o papel da protagonista Dara.
“Existe um grupo de vozes belíssimas. Vozes trabalhadas com muito suingue, muito dendê. É uma característica só nossa”, comemora Graça, apesar de lamentar a pouca valorização dos cantores líricos de Salvador. “Precisamos de todo esse calor”, defende. E avisa: “Aconselho a todos que tragam um lencinho para a ópera, porque é para chorar de emoção”.
Serviço O quê: Ópera dos Terreiros Quando: Sábado (14), às 18h30 Onde: Concha Acústica do TCA (Campo Grande) Ingresso: R$ 30 | R$ 15 Vendas: TCA, SACs dos Shoppings Barra e Bela Vista e canais Ingresso Rápido