Ópera Lídia de Oxum é apresentada no TCA de hoje a sábado

Na noite de quarta (20), equipe fez ensaio aberto ao público para ajustar luz e som

  • D
  • Da Redação

Publicado em 21 de novembro de 2019 às 05:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr/ CORREIO

Como pode uma peça escrita há mais de 20 anos, com intuito de ser lançada nas comemorações da Abolição da Escravatura, dialogar com o tempo presente? Quem foi ontem ao Teatro Castro Alves, em pleno Dia da Consciência Negra, assistir ao ensaio aberto da ópera Lídia de Oxum teve algumas pistas. Na trama, estão contidas críticas ao sistema patriarcal, ao machismo, ao racismo, à intolerância religiosa e, claro, à escravidão.

"A história fala da falsa abolição que aconteceu. O Brasil ainda precisa de mais uma ou duas abolições para tentar arrumar a injustiça e a tragédia que foi feita ao trazer os negros para cá”, comenta o diretor artístico Gil Vicente Tavares.

No palco, dançarinos, atores e músicos misturam requebros, cânticos, textos falados, atabaques e instrumentos sinfônicos. Grandiosa, a ópera reúne 164 artistas no palco - sendo 75 músicos da Orquestra Sinfônica da Bahia, 60 coristas e 20 bailarinos."O público que me interessa é o público comum, que não costuma ver ópera, que não tem relação com esse gênero" - Gil Vicente TavaresNo ensaio aberto, a equipe experimentou "tudo para ver o que não estava funcionando para amanhã". A ópera segue em cartaz de hoje a sábado, na Sala Principal do Teatro Castro Alves. Um dos problemas percebidos foi o alcance vocal dos atores, que não usam microfones. "Ópera não tem microfonação, então temos que fazer uma sintonia fina com a orquestra. Além disso, tem uma coisa muito cruel é que os baixos e barítonos, como são mais graves, são mais difíceis de ouvir. Por isso, vamos usar um sistema de legenda, que ajuda muito e é bem comum em ópera", adianta Gil Vicente.

"Vendo algumas reações, percebi que o público entrou em algumas ondas nossas. Houve uns risos em relação ao ridículo que é essa família tradicional, austera, que é meio cafona... Hoje a gente só está passando algumas pequenas ideias, então acho que depois que som, luz e outros ajustes acontecerem, vai dar tudo certo", avalia o diretor. (Foto: Betto Jr./Correio) O protagonismo feminino estampado desde o título, no entanto, deixa a desejar. Apesar de Lídia de Oxum (Irma Ferreira), filha de ex-escravo, ser uma das articuladoras do levante contra os senhores de engenho, suas aparições no espetáculo estão muito ligadas aos homens que a rodeia. Seja Tomás (Miguel Nador), um líder negro e revolucionário que foi criado junto com Lídia e nutre paixão por ela; seja Lourenço (Rafael Siano), o filho do patrão branco, que depois de voltar de uma viagem da Europa volta inspirado pelas ideias abolicionistas, cai de amores por ela, e se diz disposto a abrir mão de seus privilégios para ver a liberdade caminhando junto a si.

A ligação entre os dois mundos, o preto e o branco, se dá através do escravo Romão (Carlos Eduardo Santos), que passeia entre a senzala e a casa grande se constituindo como uma chave importante para a trama - até mesmo pela boa atuação do tenor, selecionado em audição.

Contraditórios, não cabe a nenhum deles o lugar de herói redentor. Por mais que as analogias sejam possíveis, são personagens de uma história que se passa no século XIX, escrita por Ildásio Tavares nos anos 80, e agora remontadas pelos seus filhos. 

"Esse projeto é fruto de uma promessa, desafio, trabalho empreendedor e amor por meu pai, pela arte dele", diz Ildazio Junior, diretor geral do espetáculo, que também está à frente da Coleção Ildásio Tavares, que celebra os 80 anos do multiartista com atividades ate 2021.

Serviço: Teatro Castro Alves. De hoje a sábado, às 21h. Ingressos: R$ 80 | R$ 40 (filas de A a Z) e R$ 50 | R$ 25 (Z7 a Z11). Bilheteria do TCA, SACs dos shoppings Barra e Bela Vista e ingressorapido.com