Operação Chuva: Salvador terá mais três sistemas de alarme contra deslizamento

Capital também ganhará estações hidrológicas e meteorológicas

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  • Tailane Muniz

Publicado em 18 de março de 2019 às 18:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/CORREIO

Abril é um mês que costuma preocupar os soteropolitanos que vivem próximo às encostas. A maior incidência das chuvas, nesse período do ano, tende a causar deslizamentos e desabamentos em bairros populosos da capital, como Liberdade, São Caetano e Pau da Lima, que são as primeiras entre as 88 áreas classificadas como de risco na capital.

Como medida de redução de danos, a prefeitura anunciou, nesta segunda-feira (18), um plano de ações de prevenção e alerta que busca diminuir os danos às comunidades. O Sistema de Alerta e Alarme, já em funcionamento em oito pontos, de acordo com a Defesa Civil de Salvador (Codesal), também vai ser implantado em Sete de Abril, Castelo Branco e São Caetano.

Aliadas ao sistema, que emite o som de alerta às famílias que residem em áreas de risco, as novas estações meteorológicas e hidrológicas serão implantadas até junho, e vão medir as condições de tempo e clima, além de monitorar o volume de água de um dos maiores rios da cidade, o Camarajipe, que vai de São Caetano à orla de Salvador. Juntos, os novos equipamentos somam um total de R$ 271 mil de recursos investidos. 

O prefeito ACM Neto explicou que a operação está dividida em duas etapas, que devem ocorrer de maneira simultânea. Uma delas é a preparatória, que corresponde à intensificação das ações preventivas. A outra etapa, de alerta, prevê a adoção de ações de monitoramento e resposta a situações de risco ou desastre durante a operação.

Estão incluídas na primeira as ações do Centro de Monitoramento e Alerta da Defesa Civil (Cemadec), além da regularidade na realização de vistorias técnicas, produção de gerenciamento de alertas por meio de mensagens de SMS. A aposentada Maurícia e a filha, a assistente social Tatiane Magna já abandonaram a casa, notificada pela Codeal (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Ainda nessa fase, é prevista a execução dos protocolos de estabelecimentos do Plano Preventivo de Defesa Civil (PPDC), para acompanhamento e avaliação do quadro evolutivo dos fenômenos climáticos que oferecem risco à população. As ações preparatórias, segundo Neto, compreendem, principalmente, as instalações das estações e do sistema de alerta. 

A operação é coordenada pela Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (Secis) e Codesal. Ao todo, nove secretarias municipais estão envolvidas na ação, que prevê o investimento total de cerca de R$ 28 milhões.

Drama De acordo com a prefeitura, em 2018, as chuvas de abril não ultrapassaram a média histórica de 913,3 mm - marca superada pela última vez em 2015, quando ocorreu a tragédia da comunidade de Barro Branco, quando 11 pessoas morreram após deslizamento de terra - e, em 2019, é previsto que o índice siga abaixo da máxima. 

Ainda assim, ACM Neto comentou que Salvador não está livre de ser castigada, já que as chuvas poderão se concentrar, em poucos dias, o que ocasiona a possibilidade de desastres."A administração está toda organizada. Estão previstas obras de contenção de encostas, aplicação de geomantas, macro e microdrenagem, recuperação de escadarias drenantes, aplicação de lonas e tecnologia, com o sistema de alerta e alarme", destacou o prefeito.Não importa a previsão do tempo, todos os anos, as lembranças de um desabamento, na década de 70, na Vila Picasso, na Capelinha de São Caetano, retornam como um flash para aposentada Maurícia Magna, 68 anos, moradora do local há 48. Ao detalhar o desastre, ocorrido em 1978, apontou para a linha do trem, na altura da Calçada, "onde a terra foi parar"."O que a gente vive não é medo. É desespero. Eu nunca vou esquecer daquele dia que eu vi a terra descer sem vontade de parar. As pessoas falam que não vai cair, que não vai cair, mas uma hora ela cai", contou à reportagem, acrescentando que a casa onde mora, já foi notificada pela Codesal.Com todo o risco, Maurícia confessa que não pretende sair do imóvel próprio, onde mora com filhos, genros e netos. Para ela, no entanto, medidas de prevenção não são colocadas em prática pelos próprios moradores. "Muitos não têm consciência, infelizmente. É muito lixo, entulho de obras, que acabam facilitando as tragédias", pontuou ela, que já ouviu a sirene do Sistema de Alerta e Alarme soar de perto, a 200 metros de casa.

O CORREIO esteve lá, no ponto de onde saem os alertas para que as pessoas desocupem seus imóveis. Em um raio de cerca de 300 metros ocupados por residências, ao menos 15 famílias residem. A maioria, assim como a aposentada Maurícia, convive com o medo há mais de dez anos.

"Quando a sirene soou em abril do ano passado, foi um desespero só. Saímos todos de casa e fomos para o Colégio Municipal Antônio de Carvalho Guedes, aqui na Capelinha mesmo. A minha vida inteira aqui foi assim, e eu vi menos coisa que minha mãe", lembrou a assistente social Tatiane Magna, filha de Maurícia.

Estado de alerta De acordo com o prefeito, os moradores que se sentirem ameaçados devem procurar a Codesal, por meio do 199, para que o caso seja avaliado e as medidas possam ser tomadas. "Além disso, faço um apelo aos cidadãos, para que eles colaborem, nessa fase de alerta, não deixem de procurar a prefeitura. Vamos avaliar as condições de cada um desses imóveis, e dar todo suporte, pagando o aluguel social, abrigando as famílias em locais seguros". A doméstica Maria Barbosa mora em frente a uma sirene de alerta (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) A operação das chuvas realizou simulados de evacuação de áreas de risco em 14 escolas municipais da cidade, e prevê, na etapa de ações preparatórias, a formação de 36 Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil (Nupdecs), além da capacitação de como lidar em situações de alerta para 1.989 moradores de área de riscos. A Codesal também realiza o projeto Defesa Civil nas Escolas para cerca de 2.476 alunos, em 38 unidades da rede municipal.

A doméstica Maria José Barbosa, 44, vive na Vila Picasso desde que nasceu. Ela, que convive com a sirene de alerta, localizada em frente ao pequeno imóvel parcialmente rebocado em que mora, comentou que não importa a intensidade da chuva para que o medo se faça presente."Quando março vai acabando, a gente já fica preocupado. Se chover dez dias, são dez dias fora de casa".Apesar de notificada, a casa de Maria aguentou todas as chuvas de abril. A doméstica até sai, mas sempre retorna ao local, que afirma ser o seu lugar. "A gente cansa dessa vida, estou muito cansada. Mas é difícil deixar tudo pra trás, só quem vive isso sabe como dói. Sempre vou preferir voltar, daqui ninguém me tira", reiterou, desejando que o local seja contemplado com a implantação de uma encosta.

Segundo o diretor geral da Defesa Civil, Sósthenes Macêdo, R$ 14.060.435, serão investidos em instalação de geomantas, para proteção de áreas como as da Vila Picasso. De janeiro a março de 2019, ainda segundo Sósthenes, 13 mil metros quadrados de lona plástica foram utilizados para proteger 108 áreas que são observadas pela Defesa Civil.

"Periodicamente, equipes de arquitetos e engenheiros, vistoriam as áreas de maior risco, que são os miolos, como Liberdade, São Caetano e Pau da Lima, regiões que sofrem mais. O Cemadec acompanha os 38 pluviômetros expostos em toda cidade, estarão também nesse mesmo intuito de levar à população informações. Elencamos uma graduação desse risco. Não conseguiremos alcançar todas as localidades, mas muito já foi feito", ponderou o diretor da Codesal.  Vila Picasso tem alerta de alarme desde 2017 (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Prevenção Embora reconheça a responsabilidade sobre ação e prevenção dos problemas das chuvas, o prefeito ACM Neto comentou que os moradores devem prezar por hábitos que não contribuam para o aumento da instabilidade das áreas de risco. "Às vezes, são ações simples, como não jogar lixo nas encostas, o que pode ajudar a evitar um desastre".

De acordo com Sósthenes Macêdo, a contribuição da população é mais importante do que alguns imaginam. "É um trabalho feito a quatro mãos. A população não deve, por exemplo, colocar entulho ou lixos nas cristas das encostas, assim como nas vases. Não plantar vegetação, como bananeiras, por exemplo. Nas chuvas elas encharcam, pesam e rompem o talude, gerando o deslizamento".

Parte das ações de prevenção prevê a aplicação de grama em 33 metros quadrados, além de poda e supressão de árvores, manutenção da rede de macro e microdrenagem, drenagem de 20 canais (6,67km), limpeza de 1.900 caixas coletoras e desobstrução de 27.135 metros de galerias de drenagem

De acordo com balanço divulgado pela prefeitura, em 2018 a operação realizou 6.581 vistorias, cadastrou 3.098 famílias, distribuiu 191.058 metros quadrados de lonas e beneficiou, ao todo, 1.558 grupos familiares.