Orlando Tapajós estava escrevendo livro sobre trios elétricos e vida em família

Família contou em velório que não sabe se obra foi concluída; enterro é nesta segunda

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  • Carol Aquino

Publicado em 17 de junho de 2018 às 22:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

“Tem uns cinco ou seis anos que ele começou a escrever um livro. Só não sei se estava pronto. Ele não deixava ninguém mexer, só nos disse que era sobre coisas de trio elétrico ou ligadas à família”, contou um dos netos do construtor de trios Orlando Tapajós. O avô de Orlando Neto escrevia a obra à mão, e desta e de outras tantas maneiras mostrava que apesar da idade avançada, não deixou de produzir.

A confidência foi feita pelo neto durante o velório de Tapajós, que foi aberto ao público às 17h deste domingo (17).“Se a gente mexer nas coisas dele, vai ter um monte de projeto. De festa, de trio”, acrescenta Neto. Orlando Neto falou sobre obra citada pelo avô (Foto: Marina Silva/CORREIO) A única mulher entre os onze irmãos do construtor, conhecida como Tia Gal, também falou sobre as obras em progresso. “Todo ano ele desenhava um trio novo e tentava colocar no Carnaval. Ele nunca perdeu a esperança”, comentou. 

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As dificuldades em arrumar patrocínio, a queda da demanda por construção de novos equipamentos, e de conseguir inserí-lo no circuito, foram empecilhos para a obra de Tapajós, inventor do trio elétrico moderno, de colocar um caminhão nos circuitos Dodô e Osmar. Porém, ele sempre arrumou um jeitinho de participar da sua grande paixão: o Carnaval. “Mesmo quando o Carnaval largou ele, ele não largou o Carnaval. Ia no trio dos artistas que ele ajudou a lançar, visitava camarotes. Eu fazia de tudo para levá-la. Era que o dava mais quatro ou cinco anos de vida, era uma forma de renovar as energias”, contou o produtor Orlando Filho, lembrando dos truques para não deixar o pai perder o ânimo. Como bom festeiro que era, ele também adorava produzir um evento. “Ele ia oferecer as festas os prefeitos e desenhava até o outdoor”, contou a filha, a cantora Carina Tapajós, que usava este truque para mantê-lo animado no tempo que ele esteve internado no hospital. “Meu pai, vamos fazer o São Pedro de Retirolândia”, falando sobre o festejo que o velho Orlando ajudava a produzir há mais de 30 anos.  Carina Tapajós, filha do carnavalesco (Foto: Marina Silva/CORREIO) Essa alma festeira, cheia de vigor, foi perdendo aos poucos o ânimo, debilitada pela idade. “No Carnaval, ele saiu todos os dias e estava andando. Depois, ele foi perdendo a vontade de comer. De um mês e meio para cá ele foi ficando debilitado, fraco. Surgiu uma infecção urinária e ele foi internado. Para a surpresa de todos nós veio um infarto e depois um AVC”, contou a irmã Gal, sobre o estado de saúde de Tapajós nos últimos meses. 

Quando os médicos chegaram à conclusão que o estado de saúde dele era irreversível, até ofereceram a opção de entubá-lo para prolongar a vida, mas a família decidiu deixar tudo “nas mãos de Deus”.

Até quase seus últimos momentos, Seu Orlando manteve-se como um “embaixador da alegria”, como era lembrado por amigos próximos. Estava lúcido e não tirava da cabeça a ideia de ir para Retirolândia no São Pedro.“Ele promoveu a Bahia do seu próprio bolso. Pra onde ele ia, levava capoeiristas, berimbau, acarajé, fitinhas do Senhor do Bonfim. Foi um grande embaixador do nosso estado, do Carnaval, da alegria”, relembra o amigo, produtor e dono de trios Waldemar Sandes, que credita a Tapajós tudo que aprendeu da maior festa de rua do planeta. "Como dizia o velho Osmar, ele e Dodô inventaram o trio elétrico. Tapajós ajudou a cuidar e criar como um filho", comparou o presidente da Associação Baiana de Trios Independentes (ABTI). E para prestar a devida homenagem a esta grande figura do Carnaval, a ABTI vai propor que o velho Orlando seja tema da folia de 2019. 

Despedida O velório será reaberto nesta segunda-feira (18) no Palácio do Rio Branco, entre 8h e 11h. Depois, o corpo será levado em cortejo que seguirá em um carro do Corpo de Bombeiros pela Rua Carlos Gomes, dando a volta na Casa D’Itália e parando na Praça Castro Alves.

Lá será feita uma homenagem com trios elétricos e promessa da presença de grandes artistas baianos. O sepultamento acontecerá no Cemitério Jardim da Saudade, às 14h. 

Orlando Campos, o Orlando Tapajós, morreu aos 85 anos e deixou 11 irmãos, 7 filhos, 11 netos e 5 bisnetos.