Orquestra de capoeira liderada por Tonho Matéria homenageia Moa do Katendê 

Ato abriu a Semana da Igualdade Racial - parte do Novembro Negro

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  • Tailane Muniz

Publicado em 6 de novembro de 2018 às 21:51

- Atualizado há um ano

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Mais uma vez, a capoeira, maior simbologia da vida de Romualdo Rosário da Costa, o Moa do Katendê - assassinado após discussão política há um mês -, lembrou a resistência, o amor e a luta contra a desigualdade racial, pregados pelo mestre ao longo de seus 63 anos.

Desta vez, na abertura da Semana da Igualdade Racial, promovida pela Secretaria de Promoção da Igualdade Social (Sepromi). O evento, que começou nesta terça-feira (6) - e acontece até a próxima sexta-feira (9), no Hotel Sol Victoria Marina, no Corredor da Vitória -, é parte do Novembro Negro. Confira aqui a programação dos próximos dias da Semana da Igualdade Racial. 

Sob a regência do cantor e capoeirista Tonho Matéria, a Orquestra da Capoeira - também composta por Raniere da Costa, 39, filho mais velho de Katendê -, saudou o mestre de Capoeira Angola que, para o primogênito, "perpetuou seu legado". 

Simultâneo ao som dos berimbaus, detalhes da vida de Moa foram narrados ao público predominantemente negro que compareceu ao evento."É um prazer imenso participar de mais um ato de amor ao meu pai. Ele, que foi o meu braço direito e sempre me incentivou, mesmo quando eu não queria viver a capoeira", lembrou Raniere, acompanhado da irmã mais nova, Jassemai da Costa. Embora tivesse, ainda jovem, alguma simpatia pela expressão cultural, o filho de Moa conta que achava os movimentos "complicados". "De início, não queria a capoeira. Eu tinha medo de sofrer pressão das pessoas, por meu pai ser quem era. Lembro que ele dizia: 'ir devagar também é pressa. Com pressa, você não vai chegar a lugar nenhum'. E ele tinha razão, essa estrada é muito grande", comentou o capoeirista.

À frente da orquestra, Tonho Matéria lembrou a representatividade de Moa do Katendê, de quem era amigo. "Este é um espaço importante para a discussão de questões importantes e, claro, mais uma oportunidade de homenagear o mestre - que era um ogan, capoeirista, musicista e compositor de respeito", 

Novembro Negro Conforme a secretária de Promoção da Igualdade, Fabya Reis, a Semana da Igualdade Racial é um espaço que tem o objetivo de promover o debate de ideias acerca de questões como o racismo e a desigualdade racial.

Fabya defende que Moa do Katendê é uma representação precisa desta desigualdade e, ainda, da violência sofrida pelo povo negro. "A importância do Novembro Negro é o respeito à diversidade e à vida. Moa foi assassinado por expressar sua opinião, fazer uma referência", salientou a secretária.

O período é, também, de conscientização da identidade negra. Ao menos, é no que acredita a vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra, Lindinalva de Paula."Colocar em pauta uma discussão desconhecida é complicada. Pelos dados do IBGE, na capital, a informação é que o número negros passa a 82%. E as pessoas desconhecerem que estamos falando de racismo e promoção de igualdade, é complicado", afirmou Lindinalva.E considerou: "Porque há um racismo muito presente, mas há, também, o institucional, presentes em estruturas privadas e públicas. A estrutura do racismo, especialmente na Bahia. Nunca tivemos um prefeito ou governador negro, isso é racismo. Se somos a maioria, já deveríamos ter ocupado esses cargos".

A abertura do evento contou, ainda, com a apresentação da cantora Lu Santana. Também compuseram a mesa principal do evento, a secretária de Cultura da Bahia, Arany Santana, a secretária de Política para as Mulheres, Julieta Palmeira, a deputada estadual Olívia Santana, entre outras autoridades.