Os achados dos garis no lixo do Carnaval: até dente já foi localizado

Agentes de limpeza também se divertem na avenida e se surpreendem com os achados

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  • Da Redação

Publicado em 11 de fevereiro de 2018 às 07:30

- Atualizado há um ano

Tem gente que só sai do Carnaval no lixo, mas também há quem só entre na folia por causa dele. É o caso do batalhão de agentes de limpeza que trabalha para deixar a Barra limpa, mas também o Campo Grande, o Pelourinho, antes e depois da passagem dos trios e foliões.

Mas engana-se quem acha que a participação é só na varrição, no recolhimento de resíduos e outros materiais no caminho da alegria. “Também dá pra curtir entre um trio e outro, pai. Aqui não tem tempo ruim. A galera trabalha unida na agonia e na alegria”, conta José Santos, 45 anos, que todo Carnaval fica na expectativa da passagem de Bell Marques. “Nos últimos anos eu não vi. Desde que ele saiu do Chiclete, nada. Mas esse ano vai dar certo”, espera o coletor, garantindo que vai trabalhar os seis dias sem agonia.

Antonio Mota, 46 anos, 25 dos quais na função de coletor, também garante que entre um recolhimento e outro dá pra tirar um tempo pra descontrair. “Geralmente a gente se diverte, na passagem entre um trio e outro. Trabalhando e se divertindo ao mesmo tempo. Dá pra dar uma dançadinha, pára, mas sempre focado no serviço”, afirma ele, que diferente de José, já tem a garantia que não verá sua cantora preferida em ação, este ano. “A única que eu paro mesmo, de graça, é Ivete. Mas esse ano não vai ter”, lamenta Antonio. (Foto: Leandro Lago/Divulgação) E não há nada de errado em brincar, desde que dentro da razoabilidade, como afirma Tadeu Coqueiro, gerente de operações da Revita, empresa de engenharia ambiental que presta serviços à Prefeitura. "Geralmente, o nosso serviço é após o Carnaval, depois que os trios passam, com exceção da equipe que fica ali no Campo Grande, na passarela. Esses conseguem curtir um pouco mais que os outros", conta ele, que é responsável por comandar uma equipe formada por 850 funcionários. Eles ficam subdivididos em aproximadamente 50 grupos, espalhados por todos os circuitos da folia.

Achados e perdidos Além da diversão, há espaço também para surpresas durante o trabalho. As equipes de varrição e coleta, por exemplo, costumam encontrar coisas inusitadas, que vão desde um dente (há quem costume esquecer coisas do tipo, após uma briga) até camisinha usada ou, menos mal, dinheiro…

“Mas o que se acha mais, geralmente, é sandália, tênis, roupa rasgada... Quando eles acham alguma coisa (de valor) eles não avisam pra a gente, não. Mas a orientação que a gente dá é que eles procurem um módulo policial e entreguem”, explica Coqueiro.

Foi o que fez José Santos quando achou o que parecia ser o documento de identificação de um estrangeiro. “Tinha umas coisas escritas em outra língua. Não dava nem pra saber de onde era”, conta ele, descrevendo um homem calvo, branco, de olhos claros. José também já viu um dente, mas deixou onde estava.

O coletor Antonio Mota, no entanto, confirma a banalidade da maioria dos achados e perdidos. "No circuito é mais garrafa plástica, bagaço de cana, copinho, refrigerante, saco de gelo", conta ele, que pra não dizer que nunca achou nada interessante em mais de duas décadas de labuta momesca, se deparou com um relógio... funcionando!

Hora da limpeza Falando em relógio, a hora que o bloco da limpeza entra na avenida varia de circuito para circuito. "A gente vai limpando de acordo com o que vai acabando. Costuma-se acabar primeiro o Pelourinho, por volta de 2h, e a primeira equipe começa a trabalhar. Porto da Barra e Campo Grande também a gente começa cedo, entre 3h e 4h. Avenida Sete um pouco mais tarde, e por último a região do Farol da Barra até Ondina. Aí só lá pelas 7h", explica Coqueiro, que nesta quinta-feira tirou apenas um cochilo, no final da noite, pra já estar rodando os circuitos com o início das operações, às 2h desta sexta.

O único trecho que recebe tratamento diferenciado na questão da limpeza é o trecho de cerca de 300 metros do início dos desfiles no Circuito Osmar. “Se dá uma prioridade, de muito tempo, de que a passarela fique limpa entre um trio e outro. Então, quando o trio passa, a equipe entra, varre, e limpa a passarela pra entrar o próximo trio, que é quando fecha o portão e abre pra entrar um novo. No restante dos percursos não têm esse espaço pra trabalhar. As equipes só entram completas depois que acabam as atrações”, comenta.

Ainda conforme Coqueiro, o dia e local que mais dá trabalho é a segunda-feira na Barra. “A região da Barra-Ondina sempre é mais pesada, até pelo seguinte: como a Barra fica sem ter como fazer a coleta domiciliar, isso se junta (ao Carnaval) e termina tendo um peso maior”, explica.

O sacrifício das equipes que encaram situações como essa, no entanto, é recompensado. “Todo mundo recebe uma gratificação de Carnaval, que pode chegar a quase um salário, a depender da função, por seis dias de trabalho”, comenta.

"O dinheiro ajuda bastante, ainda mais nesse início de ano, que tem a escola dos meninos", comemora Antonio, que mora em Sete de Abril e tem dois filhos.

Fiscalização Já José admite que a grana extra, em outros anos, já serviu foi pra bancar a própria diversão na festa que trabalhou. “Já saí em bloco e tudo, mas hoje não, que a patroa não deixa”, brinca ele, que já não brinca mais como antes, pois 'prefere' pegar o caminho de casa quando o serviço acaba.

E quem planeja usar essa grana extra pra enfiar o pé na jaca antes de pegar no batente, um aviso. Segundo o gerente de operações da Revita, Tadeu Coqueiro, os funcionários passam por um controle para evitar, principalmente, que os motoristas de caminhões coletores trabalhem alcoolizados. “Tem o controle da bebida, pra poder trabalhar inteiro. Ele é feito durante o serviço. Todos os motoristas, 100%, passam pelo exame de alcoolemia antes de iniciar a jornada”, avisa. Somente da Revita, são 34 caminhões compactadores, cada um com seu motorista. Cinquenta caminhões, ao todo, prestam serviço de limpeza à prefeitura no Carnaval.