Os homens de hoje não sabem o que é teatro

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • D
  • Da Redação

Publicado em 3 de abril de 2019 às 12:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

O mês de março é especial para o teatro brasileiro. Celebramos o Dia do Teatro, 27, como forma de lembrar que essa arte é milenar. Não sabemos ao certo quando começou, mas temos sugestões de historiadores que dizem haver a possibilidade de, na pré-história, o homem já ter imitado os animais, a fim de facilitar a caça e depois encenar para os companheiros, contando como aconteceu no momento do feito.

Temos também um momento marcante na trajetória dessa arte com os cultos ao deus grego Dionisio. O deus da fertilidade, do vinho, do entusiasmo e do próprio teatro era cultuado na Grécia, em cerimônias e rituais, levando em consideração que os deuses gregos tinham semelhança com o homem, seus desejos, suas vontades e seus humores.

Trazendo o raciocínio para o teatro brasileiro de hoje, quero lembrar de mais um marco na história do teatro brasileiro no mês de março, como havia dito. Estou falando do Festival de Curitiba, cujo maior palco do Brasil se instala na cidade com um festival de teatro que toma conta da cidade, trazendo mais ou menos 400 espetáculos de companhias teatrais de todo o país e do exterior.

Segundo os organizadores, o festival atrai, a cada edição, um público de mais de 200 mil pessoas em atividades diversas, como apresentações, oficinas, teatro de rua e tal. É importante chamar a atenção para um agravante.

O festival é realizado pela iniciativa privada com apoio da Prefeitura Municipal de Curitiba desde 1992, ocupando vários espaços da cidade, gerando para o comércio local lucros e devolvendo em dinheiro o investimento daqueles que acreditam nessa arte milenar e seus benefícios. Além de empregar muita gente, espalhar educação, informação e cultura, o festival contribui para o lazer de milhares de famílias que ocupam os espaços da cidade. Isso é um exemplo para o governo do nosso país. Digo isso para não citar aqui as milhões de manifestações culturais que ainda resistem nos quatro cantos do país, reflexo da resistência infinita, imensurável que os artistas brasileiros se propõem a fazer antes de acabarem com suas carreiras, com seus grupos e cias.

Conheço centenas de atores e atrizes, em especial negros e negras, desistentes, que resolveram não continuar alimentando o sonho de serem reconhecidos pelo seu talento artístico por falta de espaço, investimento, reconhecimento e valorização da sua potência artística. 

Hoje estou aqui no festival e me sinto um privilegiado em conseguir subir ao palco, ter 2100 espectadores na platéia do Teatro Guaíra, apresentando 'O Frenético Dancing Days', e contar uma história interpretando um personagem negro. Diga-se de passagem, nesses 27 anos de festival, esse ano é bem diferenciado pela quantidade de espetáculos, técnicos e artistas negros protagonizando nos palcos de Curitiba.

É importante frisar o casamento da iniciativa privada e o poder público nesse evento. Estamos vivendo um momento de total desprezo pela arte e, em especial, o teatro, que precisará se sustentar em tempos de tecnologias tão segregadoras, separatistas e alienantes. Essa atitude de resistência mostra para todos nós que essa arte milenar é tão necessária quanto à saúde, comida, política, economia. 

Só rezo para que Dionisio, ou até mesmo o primeiro homem ou mulher pré-históricos, nos ilumine porque os homens de hoje não sabem o que é teatro.

Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade exclusiva dos autores