Os idiotas são seres coerentes

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Publicado em 26 de agosto de 2017 às 05:11

- Atualizado há um ano

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Sou obrigado a reconhecer, caro leitor ou bela leitora: o idiota é, antes de qualquer coisa, um insistente.

Ao idiota, não basta ser idiota. Ele tem que bater pé firme na sua idiotice mesmo quando ela é descabida em todos os sentidos. O idiota persevera. Quando você pensa que o idiota vai ficar amuado, no canto, doido para que ninguém perceba quão imbecil ele pode ser, o idiota fala mais alto.

A bem da verdade, otário sou eu que ainda fico surpreso. O idiota nada mais é do que coerente com sua condição.

Observe bem: uma semana depois que um idiota botafoguense foi detido por injúria racial contra familiares do jogador Vinícius Júnior, do Flamengo, não é que me aparece um idiota flamenguista para ser detido por igual motivo?

Imagino que, na cabeça dos idiotas, a coisa deve funcionar mais ou menos assim: no estádio Nilton Santos, o mando era do Botafogo e um torcedor alvinegro foi preso por ser idiota. No Maracanã, com mando de campo do Flamengo, os rubro-negros não podiam ficar pra trás. Logo, é preciso expressar a estupidez humana com toda a eloquência possível.

Semana passada, escrevi aqui sobre o episódio do idiota botafoguense, André Luis Moreira dos Santos. Mirando as pessoas que queria ofender, ele esfregava o braço e dizia uma vez atrás da outra: “tudo macaco”.

Essa semana, o idiota flamenguista, Wagner Marinho Tavares, resolveu dar sua demonstração verbal de indignidade. Diante de um funcionário terceirizado do Maracanã, que tentava organizar a passagem dos torcedores pelas catracas, Wagner botou pra fora sua natureza imbecil. “Ele disse que se eu não sabia trabalhar nisso, eu devia vender banana, porque eu era filho de preto”, contou o trabalhador.

Para azar de Wagner e sorte de toda a comunidade humana, um policial estava bem de junto, flagrou a situação e imediatamente levou o idiota para o juizado especial do estádio.

É realmente incrível como, poucos dias após um caso de grande repercussão, um idiota consegue fazer a mesmíssima coisa, no mesmíssimo evento.

Este é mais um exemplo de que o idiota, para além de perseverante, é acima de tudo burro. Se ele tivesse um tostão de poder cognitivo, poderia até pensar suas barbaridades, mas engoliria seco e guardaria a estupidez dentro de si, podendo seguir tranquilamente como um idiota livre.

Mas como os idiotas gostam de se exibir, o flamenguista Wagner Marinho Tavares e o botafoguense André Luis Moreira dos Santos agora estão proibidos de ver um jogo dos seus time no estádio pelos próximos seis meses. Além disso, têm que ir mensalmente ao Juizado do Torcedor, não podem mudar de endereço sem comunicação prévia e não podem deixar o Rio de Janeiro por mais de dez dias sem autorização judicial. Ou seja, viraram idiotas com movimentos limitados. Ainda bem.

Infelizmente, os idiotas têm muitos apoiadores, claro. Num dos portais da internet que publicou o caso dessa semana, outro idiota comentou: “Lá vem a chatice. Anos atrás todo mundo daria risada”.

Os idiotas se merecem.

* Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados