'Os ricos reclamam dos tiros de longe. Matam em nossas portas', diz vizinho ao Horto

Comunidades do entorno do Horto são alvo de disputa entre Comando da Paz (CP) e Bonde do Maluco (BDM)

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 13 de junho de 2017 às 05:45

- Atualizado há um ano

Comunidades do entorno do Horto são alvo de disputa entre facções rivais (BDM) (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)No entorno do Horto estão comunidades que enfrentam disputas de traficantes. As localidades de Canjira e Baixa da Égua, no Engenho Velho da Federação, são controladas pela facção Comando da Paz (CP), que vem sendo alvo de ataques dos rivais do Bonde do Maluco (BDM), de Brotas. “A situação está sem controle. É tiro toda hora. Se os ricos, que estão relativamente distantes, reclamam dos tiros, o que nós vamos dizer? Que estão matando em frente de nossas portas?”, disse ao CORREIO, uma  moradora da Baixa da Égua.

Horto Florestal registra 4 casos de balas perdidas em dois meses

Na Chapada do Rio Vermelho, onde as ordens no complexo do Nordeste de Amaralina – que incluem também os bairros de Santa Cruz e o Vale das Pedrinhas – são dadas pelo CP, traficantes de algumas áreas estariam rachando a facção devido à insistência do BDM em invadir o local. “Apesar da região de todo o Nordeste ainda ter uma presença muito forte do CP, tem havido confrontos não só com o BDM, quando algum deles tenta invadir, como briga com os próprios integrantes que querem ir para o lado do grupo rival e com isso quem paga é a população, que fica no meio num tiroteio quase que diário”, disse um investigador da 28ª Delegacia (Nordeste de Amaralina). Ainda de acordo com ele, é provável que em um confronto, as balas possam atravessar a Avenida Juracy Magalhães e atingir um dos imóveis do Horto Florestal. “Aqui é uma região de morros e nenhum traficante aqui usa revólver, uma arma obsoleta em relação às demais”, concluiu.  

No mesmo dia, O CORREIO esteve no Candeal, que há dois meses viveu momentos de tensão com tiroteios, assassinatos e arrastões, quando a região, dominada pelo BDM, sofreu ataques do CP do complexo do Nordeste de Amaralina. “Hoje a situação melhorou. Antes ninguém podia sair na rua. Teve gente com medo que entregou os pontos alugados”, contou um operador de banca de jogo de azar.  

Alcance dos projéteisSegundo o major César Castro, comandante da CIPT Rondesp BTS e diretor da Associação Baiana de Tiro uma bala pode sim percorrer distâncias como um ou dois quilômetros. Para isso, o projétil tem que ser disparado de um ângulo de 45 graus, fazendo uma trajetória de parábola.

“As pessoas não imaginam que um tiro saído de uma arma simples, pode atingir 800, mil metros. Um cara de uma comunidade vizinha pode atirar para cima e atingir um reboco de um prédio, uma janela”, disse.Bala pode percorrer distâncias entre um ou dois quilômetros (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

A distância percorrida pelo projétil vai depender do calibre da munição. Se for de calibre 38, pode chegar até mil metros. Já se for de calibre 40 chega a 800 metros. Se o disparo for feito em linha reta, a capacidade de alcance diminui bastante. Um revólver 38 atinge somente de 50 a 80m.

O major ressalva que com o avançar da trajetória, o projétil vai perdendo força. Depois de percorrer boa parte da distância, a bala não tem força suficiente para atravessar uma parede, em cuja constituição tem concreto, ou causar uma lesão grave ou a morte em um ser humano.

Casos de violência Os casos de violência no Horto Florestal não ficam restritos às balas perdidas. No dia 14 de março deste ano, cerca de dez homens armados invadiram e roubaram a delicatessen Almacen Pepe, na Avenida Santa Luzia. Os bandidos renderam os seguranças do mercado, levaram as armas e o dinheiro do caixa.

Ninguém do estabelecimento aceitou falar com o CORREIO. No entanto, uma funcionária de uma lavanderia próxima ao local, informou que o assalto mudou a rotina do local de trabalho. “Os pedidos delivery aumentaram. As pessoas têm medo de vir aqui. Quando chegam, ficam constantemente olhando para trás. O medo se vê nos olhos e na agonia de cada um”, contou.

Ainda segundo ela, trabalhadores são vítimas de ladrões em motocicletas e até bicicletas. “É muito difícil transitar por aqui. Estão roubando todo mundo que caminha e quem anda são os empregados, como nós. Levam celulares, bolsas. Os bandidos são meninos, que estão de moto e bicicletas”, contou a fonte.

No dia 27 de fevereiro, quatro pessoas foram baleadas após um assalto na Drogaria São Paulo, na Rua Waldemar Falcão.  Um homem e dois adolescentes invadiram a farmácia e iniciaram um assalto. Segundo a polícia, uma equipe da 26ª CIPM que fazia rondas na região conseguiu abordar o trio. Houve troca de tiros no local e um homem e dois adolescentes de 17 e 16 anos foram baleados. Uma mulher estava em um restaurante localizado ao lado quando foi baleada por um dos bandidos em fuga.