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Elton Serra
Publicado em 27 de agosto de 2017 às 04:53
- Atualizado há um ano
Fim de partida. De um lado, um time sai de campo extasiado com a vitória conquistada diante de um rival extremamente qualificado. Do outro, uma equipe resignada com a derrota, algo absolutamente normal num jogo de futebol. Dos dois lados, desgastes físico e mental após mais de 90 minutos de muita intensidade. Nos debates esportivos, a conclusão é: como um time que teve mais posse de bola e finalizou mais conseguiu perder o confronto? O resultado, via de regra, está sempre atrelado aos erros do derrotado.
O futebol, por ser um esporte de alto rendimento, buscou na ciência respostas para inúmeras questões que lhe cerca. A análise de desempenho, presente em praticamente todos os grandes clubes do mundo, ajuda a entender e dissecar cada passo de um atleta dentro de campo. Números que são transformados em informação e auxiliam treinadores a tomar decisões mais inteligentes. Parte da imprensa, por outro lado, tem utilizado esses números de maneira equivocada, decretando resultados baseando-se em percentuais. O futebol, essencialmente, é um esporte orgânico.
Para escrever esta coluna, conversei com dois profissionais importantes do futebol da Bahia. Vagner Mancini, por exemplo, foi um meio-campista de técnica refinada e que jogou numa época em que a posse de bola determinava a estratégia das equipes. Hoje, como técnico, ele entende que o futebol praticado no Brasil ganhou mais variações, e ter um time veloz é fundamental para encarar seus rivais. Mancini acompanhou a evolução do esporte, faz uso da tecnologia, mas diz que um treinador “não pode ser cego e achar que os números te darão alguma vantagem”. O entendimento do jogo é muito maior do que percentuais de posse de bola, apesar de este indicativo trazer elementos que ajudam a entender o estilo de uma equipe e, consequentemente, auxiliam no encontro de soluções para neutralizar adversários. O técnico do Vitória, ao avaliar a interpretação dos números por parte da imprensa, argumenta que “cada partida tem o seu conteúdo”, e a análise precisa ser feita sobre este conteúdo. Uma reflexão mais do que válida.
Preto Casagrande, outro que exerceu com excelência seu papel como jogador num futebol mais cadenciado, também segue a linha de raciocínio de Mancini. Hoje, como treinador, acredita que a velocidade do jogo é determinante. Obviamente inserido num mundo em que a análise de desempenho é peça importante na construção do jogo, o técnico tricolor diz que os números “são importantes, mas não imprescindíveis”. Para Preto, estes dados “são ferramentas que ajudam a decifrar algum tipo de problema ou buscar soluções”, mas que em alguns momentos podem ser desprezados quando se tem um entendimento maior do dia-a-dia do grupo de trabalho. Nestes casos, a imprensa precisa ter mais critério nos argumentos, sobretudo quando utiliza os números para fundamentar opiniões. Outra reflexão interessante.
O estatístico Chris Anderson e o especialista em estratégias David Sally, autores do célebre livro “Os Números do Jogo”, já alertavam para a importância dos números, mas também defendem que a discussão sobre futebol deve girar em torno de fatos, e não sobre ideias empíricas baseadas em percentuais de posse de bola ou algo do tipo. Se soubermos trabalhar melhor o poder da interpretação, o esporte certamente será mais bem compreendido.