Oscar Paris: rato de arquibancada

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  • Da Redação

Publicado em 29 de junho de 2017 às 03:36

- Atualizado há um ano

Lembro de anos tenebrosos em que as duas maiores torcidas da Bahia sonhavam com um clássico Ba-Vi na primeira divisão. Quando Bahia e Vitória foram rebaixados à terceirona, o sonho virou pesadelo e o desejo compartilhado por rubro-negros e tricolores pareceu utopia. E foi duro. Foi humilhante. Foram tempos de incertezas. Lembro do Bahia correndo o risco de não passar sequer de fase na fatídica terceira divisão. Lembro do Vitória cair vertiginosa e inapelavelmente para os confins de um futebol nacional, já naquele tempo, vilipendiado e com vergonha de si mesmo. Estávamos na oitava volta da Divina Comédia de Dante. Literalmente no inferno.Era chocante ver os gols do fim de semana e perceber que estávamos apartados do torcedor brasileiro. Daquele rato de arquibancada que sempre soube o que significam escudos como o do Bahia e do Vitória. Parecia que iríamos, com todo respeito, seguir o caminho de Fortaleza e Ceará, Santa C ruz e Náutico e outros nordestinos tradicionais que simplesmente se acostumaram a ficar longe dos holofotes da imprensa e das tabelas de classificação da Série A.            Claro que falo isso porque teremos Ba-Vi na próxima rodada do Brasileirão. Os gols, se ocorrerem, vão passar no Fantástico e aquele rato de arquibancada, vai até, quem sabe, lembrar de como admirava um futebol que já teve Dida, Alex Alves e Paulo Isidoro, Bobô, Zé Carlos e Charles. Mas, ironicamente, o único  clássico estadual do Norte e Nordeste na primeira divisão vai ser de torcida única. E não cabe aqui discutir a decisão da Justiça, vez que a ideia visa a preservação da vida. Aquela frase que diz “o mundo vai ser governado no futuro por um bando de imbecis, não por sua capacidade ou competência, mas pela quantidade”, nunca esteve tão atual. E quem são os imbecis?Evidentemente os que vestem a camisa de uma torcida uniformizada para, em meio à multidão e na impunidade do anonimato, cometer atrocidades. Os bárbaros merecem os aplausos por sermos obrigados a engolir torcida única, num evento que deveria ser de festa e comemorações. Por causa de meia dúzia de vagabundos e/ou criminosos, o coração do estádio não pulsará bombeado pelas duas grandes artérias e, só por isso, o clássico perde o brilho. A delícia e a beleza do estádio dividido em cores, cantos e gritos, ficam para um futuro em que apenas os civilizados terão acesso às arenas esportivas.   Um estádio sem o sobe e  levanta das duas torcidas é um estádio doente, capenga, torto, pela metade. Do que adiantará aos rubro-negros os cânticos provocativos, se os ouvidos dos tricolores não estiverem lá pra receber a galinha pulando? O contrário, no segundo turno, será igualmente sem graça, morno, apático. Futebol de uma torcida só é como beijar com paixão e não ser correspondido. Futebol é a defesa de cores e bandeiras. Sem os rivais nosso estandarte tremula solitário e sem o objetivo mais nobre e mais caro ao torcedor: tirar um sarro com a cara do adversário. Insisto há décadas: um dos cânceres do nosso futebol são as torcidas uniformizadas. Ganham dinheiro vendendo artigos com a marca do clube, mas não revertem um centavo para os cofres dos times pelos quais matam e morrem. Não estudam e não trabalham por motivos óbvios: jogos e viagens domingo, quarta e domingo, uma vez em casa, outra fora. Como manter a assiduidade escolar ou bater o cartão de ponto? Impossível. Ou são milionários que se dedicam a acompanhar o time por hobby ou são vagabundos que extorquem o clube vendendo incentivo, quando torcer deveria ser uma entrega espontânea e não um balcão de negócios. Proponho uma carta aos poderes, imitando aquela de Antonin Artaud, com o seguinte título: devolvam os estádios aos torcedores, acabem com as uniformizadas. Milito pela causa porque eu sou aquele saudoso rato de arquibancada. * Oscar Paris é jornalista