Outra vítima: estudante acusa de violência sexual DJ que agrediu ex-namorada

CORREIO encontrou registros de oito mulheres que denunciaram o DJ John Oliver; ele responde a quatro processos, mas nega

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 8 de janeiro de 2019 às 03:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal

Oito vítimas, quatro processos ativos na Justiça baiana por conta de agressões a mulheres e mais uma acusação: a de violência sexual. A lista de mulheres que contam ter sido agredidas por João René Espinheira Moreira, 33 anos, mais conhecido como DJ John Oliver, ganhou mais um capítulo: uma estudante de 22 anos, que se identificou como Lívia, denunciou, nesta segunda (7), o DJ na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam). Os casos vieram à tona depois que uma ex-namorada, Juliana Galindo, o denunciou no sábado (5).

Já o caso de violência sexual, contou Lívia, aconteceu em 30 de dezembro de 2018, quando os dois foram a um motel. “Eu disse a ele que não estava a fim de sexo, porque não estava me sentindo bem. Ele disse que não faríamos nada que eu não quisesse. Mas as coisas não aconteceram assim”, relatou.

Ao chegar no motel, conta Lívia, João insistiu para que transassem e ela “já não aguentava mais dizer não”. Até que ele se descontrolou e disse: “Você achou que não iria me ‘dar’ hoje?”. “A partir daí, eu não resisti mais a nada. Eu só queria que tudo aquilo terminasse e que eu chegasse em casa viva”, contou.

Aquela era a terceira vez que eles saíam, mas os sinais de agressividade já tinham aparecido. A estudante contou ao CORREIO que conheceu o DJ porque ele era muito amigo da madrinha dela, com quem foi morar ao chegar a Salvador para estudar.

Quando se conheceram, Lívia e João estavam namorando. No entanto, os relacionamentos terminaram no mesmo período e ele convidou ela para sair. “Minha família toda, inclusive eu, confiava nele”, disse.

Mas a saída, apesar de ter começado bastante tranquila, acabou virando o início de um pesadelo. “Fomos a um bar e eu, que não costumo beber, acabei tomando whisky. Pedi a ele que fizesse uma dose fraca e, de fato, ele fez. Só que, de uma hora para a outra, eu comecei a me senti estranha, sem ter controle de mim”, declarou Lívia.

Nesse momento, a bacharel em Direito Juliana Galdino, 26, que denunciou o DJ por agressão e conseguiu no domingo (6) uma medida protetiva na Justiça - que o obriga a manter distância mínima de 300 metros dela - entrou no mesmo bar onde ele estava com Lívia e pediu que ele lhe devolvesse um celular. “A todo tempo, ela só pedia a ele o celular e ele se negava a entregar. Ele disse para irmos embora do bar”, relatou Lívia, que entrou no carro e acabou pegando no sono. Segundo ela, o DJ disse que a levaria para casa, mas, quando acordou, o artista falou que era melhor pararem em um motel para passar a noite, porque Juliana poderia estar  seguindo eles.

“Eu não lembro de tudo, mas lembro de estarmos em uma banheira e ele dizer que iria tirar uma foto minha e dizer para minha mãe que eu estava bem”, contou. 

Atos violentos A partir desse episódio, Lívia decidiu manter certa distância do DJ, mas acabou dando uma segunda chance. Ela começou a perceber comportamentos arrogantes e agressivos em João. “Era absurdo. Na primeira vez que saímos de novo, ele se vangloriava de atos violentos, de ter batido em gente”, afirmou a jovem.

Na segunda saída, John a levou  até a casa dele.“Na casa, vi uma foto dele com uniforme de policial e uma arma. Ele me disse que era da polícia e que era muito fácil matar gente”, declarou.Na terceira e última saída dos dois, eles foram a um motel. Foi quando ela contou ter sido forçada a fazer sexo com o agressor. Após a denúncia de Juliana Galdino, Lívia contou tudo à mãe: “Decidimos ir na delegacia para denunciá-lo, apesar de todo o medo. Eu nunca imaginei que passaria pelo que passei”.

Outras vítimas Ao todo, a reportagem encontrou registros de agressões contra oito mulheres, por parte do DJ. O caso mais antigo, em 2008, envolveu duas vítimas, mas o crime prescreveu antes do julgamento. Um deles não foi levado à Justiça.

O segundo caso aconteceu em 2014 e a vítima foi uma mulher com quem ele se relacionava há dois anos. Ao CORREIO, a vítima, que pediu para não ser identificada, contou que as agressões começaram alguns meses após o início do relacionamento.

“Eu já conhecia ele quando começamos a nos relacionar, mas conhecia de balada, de vista. Depois que começamos a namorar, descobri que ele era muito agressivo e, por isso, nós terminamos e voltamos muitas vezes”, afirmou.

Ela contou que as agressões aconteciam por motivos banais e, principalmente, quando ela falava em terminar a relação.  A última agressão foi a mais violenta.

Em 2014, depois de voltar de uma festa, o casal se desentendeu. Segundo a vítima, a confusão começou por conta de uma chave. “Quando ele não encontrou a chave ficou descontrolado e descontou em mim”, contou.

A mulher foi agredida com tapas e, ao pedir para ele parar, recebeu socos e chutes. Um cassetete também foi usado nas agressões, fraturando um dos braços e uma das mãos. A vítima saiu de lá dizendo  que iria trabalhar, mas correu para o hospital e depois para a delegacia. Foram necessárias duas cirurgias.

O tio da vítima lembra do dia como se fosse ontem. Ele contou que recebeu uma ligação da sobrinha no meio da madrugada e que a jovem contou que estava machucada.“Ele bateu muito nela, não dava para acreditar. Nós levamos ela para o Hospital Aeroporto, foi preciso fazer até cirurgia e demorou para ela se recuperar”, contou o homem, que também pediu anonimato.A vítima disse que depois dessa última agressão, João se afastou e os encontros que eles tiveram foram nas audiências judiciais. A última aconteceu no final de 2017. “A última estava agendada para junho de 2018, mas foi desmarcada e ainda não tem data”.

Depois desse caso, João Espinheira voltou a se relacionar e foi citado em outra queixa por agressão a mulher. A vítima desta vez foi uma advogada de São Paulo. Ela procurou a 7ª Delegacia (Rio Vermelho) para relatar as agressões sofridas e foi encaminhada para a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher de Brotas (Deam/Brotas), mas não levou o caso adiante e, por isso, a queixa não virou processo na Justiça.

Registros Além dos casos da Deam, o DJ tem três passagens pela 28ª Delegacia (Nordeste de Amaralina). Todas por brigas. Um dos registros afirma que  o artista entrou em confronto com o dono de um bar em Amaralina depois que o homem tentou separar uma briga dele com uma mulher.

Segundo o boletim, o DJ estaria batendo na mulher. O dono do bar chamou a polícia e, em seguida, tentou intervir. Os dois foram parar na delagacia, mas a mulher se recusou a ir à unidade.

A outra ocorrência é de uma briga envolvendo o DJ e um policial civil na porta da delegacia. O terceiro caso é de uma confusão entre o DJ e dois amigos por causa de um hambúrguer que terminou em socos e tapas.

Defesa Em conversa com o CORREIO, João René Espinheira Moreira, 33 anos, o DJ John Oliver, afirmou que os processos a que responde são casos antigos e que foram revisitados agora, em razão do episódio envolvendo Juliana Galindo, 26, que o denunciou no sábado.“As pessoas sabem que eu sou uma figura pública. Estão querendo destruir a minha vida, querem dinheiro, não sei”, alegou.João Espinheira divulgou uma foto em que aperece com parte do olho roxo e afirmou que o ferimento foi provocado por Juliana durante a briga de sábado. A mulher negou e disse que as marcas são de uma briga em que ele se envolveu na madrugada do Réveillon.

O CORREIO teve acesso ao boletim de ocorrência desse caso. Segundo o registro, João se desentendeu com um empresário e durante a confusão danificou o carro do adversário. O empresário contou que durante a briga deu um soco no olho do DJ. João disse que foi agredido por Juliana, mas ela afirma que marca é de briga que ele teve com empresário no Réveillon (Foto: Acervo Pessoal) Atualmente, o DJ responde a quatro processos na Justiça, todos ligados à Lei Maria da Penha. A denúncia feita na segunda pela estudante Lívia não faz parte dessa conta. No entanto, ele negou todos os casos e disse que o único procedimento ativo no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) é a ação movida contra ele pela própria irmã, em 2017. “Tem sentença de setembro de 2018 me inocentando de uma ação penal”, declarou.

Em 1º de setembro de 2018, a juíza Denise Vasconcelos Santos, da 1ª Vara da Justiça pela Paz em Casa, considerou João Espinheira inocente em um dos casos de agressão, argumentando que não havia prova que comprovasse a “autoria delitiva”, embora os exames de corpo de delito realizados na vítima comprovassem que houve agressão.

Essa ação penal é referente à agressão a uma ex-namorada dele, ocorrida em 26 de agosto de 2012. Na ocasião, uma viatura da Polícia Militar foi chamada pelo dono de um bar na Pituba, onde o DJ e a jovem discutiam.

A mulher afirmou no processo que foi agredida com um murro no rosto e depois arrastada pelos cabelos no meio da rua. Já o DJ, na defesa, alegou que não tinha feito nada e que a jovem, que era ciumenta, não se conformava com o fato de eles não terem um namoro.

Na época, a defesa de João Espinheira pediu à Justiça que fosse decretada a inimputabilidade dele, alegando que ele foi diagnosticado com “quadro psicótico grave” em exame no Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, em 24 de agosto de 2012.

No documento, os advogados afirmaram que ele era incapaz de “compreender o caráter do ilícito”, em razão da doença. Ainda de acordo com a defesa, ele “vinha procurando se tratar de seu estado emocional”. Além desse em que foi inocentado, ainda há quatro processos ativos contra o réu.

25 por dia De acordo com informações da Polícia Civil da Bahia, somente na primeira semana de 2019 foram registrados 175 casos de agressão a mulheres em Salvador - uma média de 25 por dia. Foram 108 casos contabilizados na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Brotas e outros 67 na Deam de Periperi. Ainda segundo a Polícia Civil, 70% dos casos registrados são remetidos à Justiça - ou seja, viram processo.

Veja onde buscar ajuda:

Creas - O Centro de Referência Especializada de Assistência Social atende pessoas em situação de violência ou de violação de direitos. Telefone: 3115-1568 (coordenação estadual) e 3176-4754 (coordenação municipal)

CRLV - O Centro de Referência Loreta Valadares promove atenção à mulher em situação violenta, com atendimento jurídico, psicológico e social. Endereço: Praça Almirante Coelho Neto, nº 1 – Barris, em frente à Delegacia do Idoso. Telefone: 3235-4268

Deam Brotas - (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) - Rua Padre José Filgueiras, s/n – Engenho Velho de Brotas. Telefone: 3116-7000

Deam Periperi - Rua Doutor José de Almeida, Praça do Sol, s/n – Periperi. Telefone: 3117-8217

Disque Denúncia - As mulheres são atendidas pelo Disque 180, da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres

Fundação Cidade Mãe - Órgão municipal que presta assistência a crianças em situação de risco. Endereço: Rua Prof. Aloísio de Carvalho – Engenho Velho de Brotas

Gedem - O Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher do Ministério Público da Bahia atua na proteção e na defesa dos direitos das mulheres em situação de violência. Endereço: Avenida Joana Angélica, nº 1.312, sala 309 – Nazaré. Telefone: 3103-6407/6406/6424.  

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier