Outubro chega e frutas ficam até 285% mais caras

Clima afeta a produção no campo, há casos de frutas que ficam mais baratas

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  • Georgina Maynart

Publicado em 1 de outubro de 2018 às 05:41

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo CORREIO

O inverno passou e levou embora a safra mais forte de limão taiti. Com a fruta mais escassa no mercado, o preço da caixa de quinze quilos, vendida na Ceasa de Simões Filho, região metropolitana de Salvador, subiu de R$ 40 para R$ 120 nos últimos quinze dias. Um aumento de 200%. Além da passagem do período de safra, muitos pomares estão sendo afetados por pragas.

O caju também subiu. Há três meses, no início do inverno, a caixa estava custando R$ 70 reais. Agora atingiu R$ 200, uma elevação de 285%.

O maracujá, agora na entressafra, subiu 28% nas últimas duas semanas. A caixa com 15 quilos que estava sendo vendida no início de agosto por R$ 35, agora custa R$ 45.

E o que dizer da tangerina que ficou 168% mais cara, ao subir de R$ 30 para R$ 80 reais nos últimos quinze dias?

“É assim todos os anos. Sempre que diminui a produção no campo, reduz a oferta, os preços sobem. Além disso, tem gente exportando para fora. Em algum momento teremos que repassar para o consumidor”, diz o feirante Luiz Ribeiro.

Do outro lado da balança, estão as frutas que caíram de preço. Goiabas estão mais baratas nesta época do ano (foto: Georgina Maynart)

A caixa de vinte quilos da acerola, que chegou a custar R$ 100 mês passado, agora está sendo vendida por R$ 60, cerca de 40% a menos.

Com uma boa safra sendo colhida no Norte do estado e na região de Santana do Livramento, área central da Bahia, a manga também começou a cair de preço. A caixa de vinte quilos reduziu de R$ 80 para R$ 30.

Outra fruta que registrou uma das maiores reduções foi a banana. No início do ano ela custava até R$ 100. Com uma ótima safra sendo colhida em Bom Jesus da Lapa e no Baixo Sul da Bahia, o preço despencou para R$ 40.

Acrescente, neste lado mais baixo da balança, a goiaba. A fruta terminou a semana sendo vendida a R$ 50 a caixa de vinte quilos. Cerca de 60% mais barata do que os R$ 80 cobrados no início do mês de agosto.

Esta gangorra de preços, bem poderia ser um efeito da tão falada “mudança da estação”. Mas nada é tão simples.

Meses, não estações

A variação acompanha os meses do ano, mas não necessariamente as mudanças das estações.

Segundo os especialistas, há muito tempo, as estações não podem ser apontadas como principal motivo de elevação de preço. Já que a moderna tecnologia de cultivo de alimentos permite que a produção de frutas se estenda durante todos os meses.

Faça chuva ou faça sol, frio ou calor, seja inverno, verão, outono, ou primavera, como agora, muitas frutas permanecem nas prateleiras. Tem sido assim com as mangas, as uvas e as laranjas. Percebeu como o abacaxi floresce o ano todo?

Elas fazem parte de uma imensa lista de frutas que desafia as tão citadas “frutas da estação”, e podem ser encontradas, sem intervalo, nos mercadinhos, feiras livres e supermercados.

Os preços também podem oscilar por outras causas. Do aparecimento de pragas que destroem lavouras ás leis de mercado que levam o produtor rural a produzir apenas para exportação.

Mas como explicar a enxurrada de frutas que começam a aparecer com mais frequência agora na primavera?

“Vários fatores podem influenciar na produção de uma fruta. Mas a temperatura é predominante. Durante o inverno, as frutas que chamamos de tropicais passam por uma condição de dormência, de hibernação, o metabolismo fica mais lento. Ao contrário da primavera, quando a temperatura sobe. Aí a partir de agora elas florescem e conseguem produzir frutos”, explica Felipe Barroca, engenheiro agrícola e especialista em agricultura irrigada.

É por este motivo que algumas frutas ganham robustez a partir de outubro. São frutos de cultivos tradicionais, ainda realizados nos moldes antigos. Ou frutas

da agricultura moderna, onde o período de colheita coincide com o início da primavera.

Listamos abaixo algumas destas frutas, que se destacam pelo sabor e vigor. Tem acerolas da caatinga, goiabas do sertão, cacau do Baixo Sul e caju do Agreste. Sejam eles, frutos da ciência ou das estações naturais, guardam aromas peculiares, história e qualidades nutritivas. Confira: 

Goiaba dos trópicos 

A partir deste mês, uma fruta dos trópicos vai começar a aparecer com mais frequência nas bancas: a goiaba.

Os agricultores do Baixo Sul da Bahia estão em fase de colheita. Assim como os produtores da região central do estado, concentrados nos municípios do território de Irecê.

Em Várzea Nova, os produtores rurais começaram a cultivar a fruta há quatro anos. Atualmente, os pomares já ocupam mais de 40 hectares no município.

A goiaba cultivada é a Paloma, uma variedade de grande porte e com uma polpa de um vermelho intenso.

“É uma variedade tanto boa para mesa, quanto para polpas e sucos. E se adaptou bem aqui na região. Ela dá o ano todo. Mas durante o inverno ela fica um pouco mais tímida e os pés diminuem a produção. O frio inibe o amadurecimento. Mas agora, no segundo semestre, ela floresce mais naturalmente e produz mais”, diz o produtor rural Fred Jordão.

Na região produtora, o preço da caixa, de 25 quilos, está variando de R$ 21 (fruta madura) a R$ 35 quilos (fruta verde). A colheita vai até o fim de outubro. Depois de atravessar o estado, a goiaba está chegando na Ceasa de Simões Filho por R$60 a caixa, preço com tendência de queda.

Atualmente a fruta é cultivada em várias partes da Bahia. Além disso, pode ser encontrada em qualquer lugar. Dos quintais aos pomares comerciais. Ano passado, os agricultores do estado produziram mais de 38 mil toneladas, segundo o IBGE.

Além de saborosa, a goiaba tem valor nutricional. “A goiaba é uma fruta rica em vitamina C e complexo B. Mas ela tem tendência a provocar prisão de ventre. Por isso o consumo deve ser associado a uma fruta laxante, como por exemplo o mamão”, explica o nutricionista Moisés Feitosa.

Acerola do sertão

Os pés de acerola já estão em floração. Daqui a 25 dias, o produtor rural Romilson Maia deve começa a colher a safra de 5 toneladas da frutinha.

“Ela produz o ano todo. Só no inverno ela não produz. Mas terminou o tempo frio, o pé começa a aflorar. Gosta de tempo quente. Quando ela amadurece é rápido, se não colher, perde a safra”, diz o produtor rural que cultiva acerola em plena caatinga há quase nove anos.

No campo, ao longo do ano o preço da caixa de acerola, com 22 quilos, atingiu até R$ 25. Neste momento, está variando de R$ 30 a R$ 35.

Rica em substâncias antioxidantes em vitamina C, a acerola tem sido indicada no combate a gripes e resfriados.

Pinha fora de época

O pico de colheita passou, acabou em março. Mas no mês de outubro, não é raro encontrar trabalhadores colhendo pinhas nas plantações do município de Presidente Dutra, na região central da Bahia, no território de Irecê.

Em plena caatinga, o município se orgulha de ser a Capital Mundial da Pinha. Até o portal que dá acesso a entrada da cidade carimba o título. As lavouras crescem graças ao sistema de irrigação, que mantém os pomares úmidos e permite até três colheitas por ano.

Na primavera o ritmo reduz, mas não para. “No pico da safra, saem das fazendas cerca trinta carretas carregadas por semana. Nesta época são em média 10 a 15 carretas”, diz o produtor rural Aderbal Machado.

Os preços também sofrem oscilações. No campo a caixa está saindo por R$ 90. Já em Salvador, o valor atingiu esta semana R$ 150. Bem acima do preço praticado no primeiro semestre, quando a caixa da pinha foi vendida até por R$ 60.

A maior parte da produção baiana é levada para o sudeste do Brasil, onde os produtores encontram melhores preços.

Originária do Caribe, a fruta-do-conde ganhou este nome porque a primeira muda da espécie foi trazida para o Brasil em 1626, pelo governador Diogo Luis de Oliveira, o Conde de Miranda. Ano passado, a Bahia produziu oito mil toneladas de pinha.

Além de sabor, os gominhos guardam também nutrição. Quando madura, as escamas se desmontam, e as polpas, com caroço, se soltam facilmente.

Segundo os nutricionistas, entre outros benefícios, a pinha é um alimento funcional. Com grande quantidade de fibras, ela melhora o sistema digestivo e previne a prisão de ventre. A fruta tem ainda nutrientes capazes de fortalecer o sistema imunológico, como as vitaminas A, do complexo B e vitaminas C.

“A vitamina A por exemplo, tem uma particularidade interessante, por que entre outras funções, ela melhora a visão. Além disso a pinha é rica também em ferro e magnésio”, diz o nutricionista Moisés Feitosa.

Caju do Brasil

O preço ainda está nas alturas, mas tem tudo para cair. Nos próximos dois meses, os pomares de caju vão começar a dar os primeiros frutos. Eles começaram a florescer esta semana.

O caju brota em vários pontos do litoral brasileiro e na Bahia pode ser encontrado na faixa litorânea do sul ao norte. Mas é no sertão que ele ocupa densos pomares.

Na cidade de Ribeira do Pombal são milhares de hectares plantados. A castanha é beneficiada e vendida pelas cooperativas de produtores rurais da região. Já a polpa pode ser consumida in natura, em sucos ou doces.

De acordo com os nutricionistas, o caju é rico em selênio, um antioxidante. “Além disso, todas as frutas aquosas, como o caju, são ótimas para o controle da pressão arterial”, acrescenta Feitosa.

Cacau da Bahia

Nas fazendas do Baixo Sul da Bahia o ritmo de colheita é intenso. Os pomares estão cheios de cacau e a colheita, da terceira safra, deve prosseguir até o início de novembro.

A Bahia produziu no ano passado mais de 88 mil toneladas de cacau, segundo o IBGE. Volume que garantiu ao estado a retomada do posto de maior produtor do Brasil.

Nos supermercados de Salvador, o fruto pode ser encontrado in natura, com amêndoas já secas, inteiras ou trituradas, ou processado, em formato de polpas.

“O cacau tem uma ação antioxidante que é indicada para as pessoas que se expõem a poluição, como aquelas que usam tabaco do cigarro. Mas por ser uma importante fonte de cafeína também é estimulante e melhora a concentração. A ressalva é para as pessoas que tem refluxo, gastrite e úlcera. Neste caso, o cacau pode prejudicar, explica o nutricionista Moisés Feitosa.

Bahia é o segundo maior produtor de frutas do Brasil

Nas últimas quatro décadas, a tecnologia permitiu ao Brasil alcançar o terceiro lugar no ranking mundial de produtores de frutas.

Apesar de problemas como falta ou excesso de chuva, a fruticultura no país tem registrado seguidos avanços.

Na Bahia, o aumento da produção no campo alavancou o estado para segunda posição no ranking nacional dos que mais produzem.

Um volume grandioso que em 2017 gerou mais de 3,38 bilhões de reais no estado.

Ano passado mais de 3 milhões de toneladas de frutas saíram dos pomares baianos, de acordo com o IBGE. Os principais polos de produção estão concentrados na região de Juazeiro, na Chapada Diamantina, no Baixo Sul e no Território de Irecê.

Cada fruta, um valor

Cada fruta tem propriedades nutritivas particulares. Veja as dicas do nutricionista Moisés Feitosa.

*Em geral as frutas não têm contraindicação. Mas devem ser consumidas com equilíbrio.

*O recomendado é o consumo de pelo menos 3 frutas de cores diferentes por dia. Seja in natura ou em salada de frutas, como um mix.

*Se partir a fruta, o ideal é consumir de forma imediata. Se guardar o restante para depois, algumas características podem se perder, como as propriedades antioxidantes.