Pai discorda de laudo sobre causa da queda do avião que matou o filho

Alberto considerou que é difícil falar sobre o laudo, mas destacou que, dentro da técnica, o filho era bastante treinado

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  • Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2018 às 20:28

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

"Tenho certeza que o André estava muito bem, inclusive com relação a voar em cima da água. Todos estávamos bem conscientes do que estávamos fazendo. Acredito que isso nao possa ter sido um fator determinante para o acidente", disse o pai do piloto Robson André Textor, 30 anos, Ruy Alberto Textor, após o o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgar o laudo da morte do filho, enquanto ele fazia acrobacias aéreas, na praia do Farol da Barra, em outubro de 2015. Foi a primeira vez que André fez acrobacias aéreas sobre a água.

O pai avaliou os cinco fatores que o Cenipa considerou que contribuíram para o desfecho trágico da apresentação da Esquadrilha Textor Air Show, composta por André, o próprios Ruy e outro filho: atenção, julgamento de pilotagem, motivação, percepção e aplicação dos comandos - os quatro primeiro fatores são atribuídos ao próprio estado físico e emocional do piloto."O show aéreo pra nós era descontração. Apesar de ser muita responsabilidade, ter muita técnica e treinamento envolvidos", avaliou Alberto Textor.O pai do piloto disse ainda que diverge um pouco da avaliação da investigação. "André nao misturava as coisas. Show aéreo você voa em baixa altura. Demonstração para o público e campeonato de acrobacia você faz mais alto, tem limites. São duas coisas distintas: show aéreo e competição. Tenho certeza de que em hipótese alguma ele iria misturar. Essa manobra que ele fez, a lanceváque", era corriqueira. Ele fez inúmeras vezes e em diversos locais. Nunca teve nenhum tipo de incidente ou teve dificuldade. Então, nesse ponto, vou discordar do relatório". (Foto: Betto Jr/CORREIO) Alberto considerou ainda que é difícil falar sobre o laudo, mas destacou que, dentro da técnica, o filho era bastante treinado."As manobras eram corriqueiras dele, então é muito difícil falar o que eu acho que tenha acontecido. Acho que era a hora dele. Tenho um pouco de formação espírita e prefiro acreditar que ele cumpriu a missão dele na terra. Hoje posso falar com tranquilidade e serenidade coisas que um ano após o acidente era difícil de falar", disse, acrescentando ainda que o filho foi uma pessoa fantástica, que passou por aqui num período muito curto, mas fez muitas coisas que muita gente não faz a vida toda. O laudo apontou, segundo o pai, que durante a pancada, o piloto quebrou a cervical e morreu na hora. "Os danos certamente foi devido ao impacto no mar. Ela (a aeronave) entrou voando e isso causou os danos na estrutura dela bem como o falecimento do André. Nós tivemos acesso aos destroços do avião depois que foi removido do mar. A gente nao acompanhou a  perícia, mas isso certamente o pessoal fez com os maiores detalhes possíveis", disse. O relatório final do órgão foi concluído em março deste ano. O CORREIO teve acesso ao documento completo nesta segunda-feira (16). 

André era piloto agrícola – a família tinha uma empresa do ramo e ele trabalhava diretamente combatendo pragas em lavouras e incêndios florestais. Durante a apuração do acidente, o Cenipa identificou que ele vinha de 15 dias seguidos de trabalho na empresa, devido ao período de safra. Ao fim desse ciclo, na véspera do acidente, ele se encontrou com a família em uma casa de veraneio na Bahia.

Perfil  Durante a acrobacia, a aeronave pilotada por André colidiu contra a superfície do mar da Barra - a 300 metros da praia. O avião afundou após o impacto, ficou submerso a 11 metros de profundidade. Equipes de resgate foram acionadas e conseguiram retirar André da aeronave. O piloto foi removido para um hospital porém não reagiu às tentativas de reanimação e morreu.

Os destroços da aeronave foram retirados do mar cerca de quatro dias após o acidente. Segundo o Cenipa, André era considerado um profissional atencioso, estudioso e comprometido com a aviação.

"Procurava estar sempre atualizado e preparado para a atividade operacional, tendo sua postura profissional marcada pela sistematização e organização. Acompanhava pessoalmente todos os processos de manutenção realizados nos aviões que voava", diz trecho do documento.

Para o relatório, o Cenipa reuniu informações obtidas por meio das entrevistas com familiares e pessoas, que conheciam o piloto. O profissional é descrito como experiente - com mais de 12 anos na aviação agrícola e mais de 10 anos de envolvimento na aviação de exibição aérea.

No entanto, era a primeira vez que o piloto realizava um voo de demonstração aérea com acrobacias sobre o mar - mas já havia executado a atividade sobre rios.

O piloto realizou o curso de Piloto Privado - Avião (PPR) no Aeroclube Rio Grande do Sul, RS, em 2003 e possuía licenças válidas de Piloto Comercial - Avião (PCM) e estava com as habilitações técnicas de Piloto de Acrobacia (ACRO) e Piloto de Demonstração Aérea (DMAE).