Pai pediu desculpas por abusos antes de matar a filha, diz mãe

"Ele estava calmo, conversando. Até pediu desculpa", relembra

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  • Da Redação

Publicado em 4 de outubro de 2018 às 14:12

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Horácio Nazareno Lucas, 28 anos, acusado de matar a própria filha de 13 anos a facada, chegou a pedir desculpas para a mãe da menina, Tamires Tanzi, antes do crime. Ele atacou e matou a facadas Letícia Tanzi na madrugada de quarta-feira (3) em São Roque (SP) e está foragido. Horácio estava preso pelo estupro da cunhada e foi solto para responder ao crime em liberdade. Irritado com uma nova denúncia de abuso feita pela filha, ele voltou para casa para exigir que o boletim de ocorrência fosse retirado.

"Ele não pode ficar impune de novo, não. Matar a própria filha? Isso não se faz", disse ao G1 Tamires, ainda abalada com a perda da filha. Horácio foi condenado a oito anos de prisão por estupro da cunhada em 2010. Ele foi preso em junho deste ano em cumprimento ao mandado de prisão judicial por conta do crime. Quando ele estava preso, a família descobriu que em 2017 ele também abusou da filha. Uma nova queixa foi feita.

Logo que voltou para casa após ser solto, Horácio arrombou a porta para entrar. Apesar disso, ele não estava ameaçador, chegou tranquilo e pediu até desculpas à filha."Ele estava calmo, conversando. Até pediu desculpa para a filha dele. Eles se abraçaram e até choraram juntos", contaSó depois Horácio pediu que a filha retirasse a denúncia contra ele e quando ela se negou a calma dele foi embora. "Ele queria que ela mentisse, que ela falasse que ele não tinha feito nada com ela. Nisso ele foi ficando nervoso", lembra. A própria Tamires foi a primeira a ser agredida por Horácio. "Ele estava atrás de mim, com medo que eu ligasse para a polícia. Ele ficou nervoso porque eu tinha escondido o celular e, quando encontrou, ficou mais nervoso ainda. Ele me grudou pela garganta e depois me deu um murro no nariz", diz.

A mãe conseguiu fugir e foi para a casa de uma vizinha, onde chamou a polícia. Com ela fora da casa, o agressor trancou o filho de 6 anos em um quarto e partiu para cima da filha, que foi esfaqueada várias vezes. O menino ouviu que a irmã estava sendo atacada. Ele conseguiu escapar por outra porta do quarto que dá para uma área externa da casa. "Ele saiu e se deparou com a irmã em cima da cama. Ele saiu para a rua e encontrou a polícia, que já vinha subindo a rua. Foi ele que contou que a irmã estava ensanguentada em cima da cama que tem na sala. Eu cheguei depois e não me deixaram entrar", diz Tamires.

Ela diz que nem chegou a ver a filha ferida. "Nem vi a minha filha ferida. Agora meu sentimento é de culpa porque se eu não tivesse saído correndo de lá...não sei. Na hora do nervosismo a reação da gente não se explica. A minha reação foi sair correndo para pedir ajuda", afirma.

Ameaças Letícia tinha contado semanas antes do crime para a tia que o pai a ameaçou de morte caso ela denunciasse o estupro. Ela tinha medo de um possível retorno dele para casa. Mãe foi agredida mas conseguiu fugir A primeira denúncia contra Horário é de 21 de junho de 2010, quando, segundo a ocorrência, ele estuprou a cunhada, que tem problemas mentais, na frente de Letícia. A filha tinha então apenas 5 anos. Mesmo depois dessa denúncia, Tamires conta que ficou com Horário e o perdoou. Ele foi preso somente oito anos depois do caso. "Quando a polícia o prendeu fiquei até mal porque tinha passado tanto tempo já essa história. Mas, depois de um mês mais ou menos, eu descobri que ele estava abusando da minha filha, que era filha dele também", conta.

Quando descobriu os abusos contra Letícia, o Conselho Tutelar foi envolvido. "O Conselho Tutelar foi até a escola e lá ela contou tudo direitinho o que ele fazia. Ela tinha medo dele. Tinha medo de contar e ele fazer alguma coisa. Depois que fui chamada, fizemos a denúncia contra ele. Pensei que ele ia ficar um bom tempo lá. Continuei morando no mesmo lugar. Ele foi condenado, mas ficou quatro meses (preso)", lamenta.

O abuso contra Letícia foi descoberto depois de denúncia anônima durante o período de prisão do suspeito.