Países que investem em educação de qualidade são os mais competitivos

Quanto maior a qualificação, maior o salário e melhor a produtividade do trabalhador e das empresas

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  • Perla Ribeiro

Publicado em 25 de outubro de 2015 às 16:13

- Atualizado há um ano

Um trabalhador com nível superior completo, na Bahia, ganha até seis vezes e meio mais do que um profissional sem nenhuma formação. No Brasil, a diferença é de 5,7 vezes, segundo dados da Pnad Contínua, do IBGE. Em média, enquanto o trabalhador baiano sem instrução ganha R$ 566,22, o de nível superior recebe R$ 3.658,34. Mas quando a comparação parte de um trabalhador com ensino médio para aquele que concluiu o terceiro grau, a diferença fica menor: R$ 1.589,47 contra R$ 3.658,34.Veloso: "Sem escolaridade vai ser difícil fazer a migração tecnológica" (Evandro Veiga/CORREIO)Segundo o PhD em Economia pela Universidade de Chicago e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), Fernando Veloso, a medida que o país se torna mais desenvolvido, passa a demandar trabalhos intensivos em qualificação. Veloso cita como exemplo os Estados Unidos, onde quem tem ensino superior completo ganha muito mais do que quem tem ensino médio e isso tem aumentado desde os anos80. O especialista realizou estudo sobre produtividade no setor de serviços.

“Quando a gente olha no Brasil é um quadro oposto. Os grandes salários em relação ao ciclo anterior estão desabando. O único que subiu foi o ensino superior, mas até a década de 90. Nos anos 2000, caiu”, explica.

Segundo o economista, quem tinha ensino superior completo ganhava três vezes mais do que quem completou o ensino médio no início dos anos 2000. “Hoje em dia, ele ganha apenas duas vezes mais”, compara. Isso ocorre porque, de acordo com Veloso, aumentou muito o número de pessoas com ensino superior no Brasil nos últimos anos. “Como aumentou a oferta, a procura caiu e, consequentemente, os salários também”.

Na avaliação do pesquisador, o fato desse trabalhador qualificado não ter um melhor retorno financeiro retrata uma economia muito pouco dinâmica. “Na economia dinâmica deveria estar girando um enorme aumento desses prêmios, como aconteceu nos Estados Unidos”, explica.

Na Coreia do Sul, 53% dos trabalhadores do setor de serviço têm alta qualificação, no Brasil são apenas 23% e, na China,15,5%. O problema central da produtividade brasileira é a enorme dificuldade da economia fazer a transição para os setores modernos, o que envolve diferentes variáveis.

“Há um grande desafio pela frente porque será um mundo de cada vez mais transformações tecnológicas. Precisamos pensar em uma estratégia porque já ficou muito claro que essas mudanças vão ter impacto no mercado de trabalho”, pontuou o pesquisador do Ibre.

Tecnologia x salários

O Reino Unido lançou mão de uma reforma para se adequar a um mundo no qual qualificações, flexibilidade e receptividade a mudanças tecnológicas são cada vez mais importantes para a prosperidade. Para isso, adotou uma nova estratégia.

“O Reino Unido se preparou para um mundo de flexibilidade nas relações de trabalho. A ideia de que a pessoa não tem mais emprego para toda vida, vai transitar entre vários empregos e que as mudanças tecnológicas terão impacto em várias dimensões.

Definitivamente, a gente deveria estar pensando nesses temas”, sugere Fernando Veloso. Em relação a salários, há o que se comemorar com essas mudanças. Veloso informa que se o Brasil absorver mais tecnologia, não resta dúvida de que os salários vão aumentar.

“Vão ser mudanças que terão um impacto enorme no mercado de trabalho. Nos Estados Unidos, no final dos anos 70, o número de alunos do ensino superior tem crescido menos do que a quantidade necessária. Essa onda não chegou ao Brasil, mas eventualmente espero que chegue e vai ter enorme impacto”, diz.

Veloso lembra que a maior parte da mão de obra está no setor de serviços, que tem baixa produtividade. O setor é dividido em moderno (15%) e tradicional (85%). Números do segmento mostram que 32% dos trabalhadores de serviço moderno possuem 15 anos ou mais de estudo, o que significa, pelo menos, ter cursado o ensino superior completo, enquanto que no serviço tradicional são apenas 15,8% que alcançam essa escolaridade.

“O setor moderno é muito mais intenso em mão de obra qualificada. Esse é um primeiro grande obstáculo para a gente fazer essa transição, seria melhorar a educação”, avalia Veloso.

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