Panorama exibe documentário sobre o Quilombo Rio dos Macacos

Exibição do filme dirigido por Josias Pires acontecerá sábado (11), no Glauber Rocha, e no domingo (12), na Sala Walter; veja entrevista com o diretor

Publicado em 11 de novembro de 2017 às 13:02

- Atualizado há um ano

O jornalista, pesquisador de cultura popular, envolvido com a série Bahia Singular e Plural (TVE), Josias Pires filmou a realidade do Quilombo Rio dos Macacos e transformou resultado no documentário homônimo, que será exibido hoje (11), às 18h, no Espaço Itaú Glauber Rocha, dentro da programação do Panorama Coisa de Cinema. Para a sessão, ele convidou a comunidade para assistir ao filme e, em seguida, conversar com os presentes no Glauber Rocha. No domingo (12), Quilombo Rio dos Macacos será apresentado, às 19h, na Sala Walter da Silveira, com acesso gratuito. Na trama, o público assiste ao conflito de integrantes da comunidade quilombola pela propriedade da terra que habitam há mais de 200 anos, hoje reivindicada pela Marinha do Brasil. O Quilombo fica entre os municípios de Salvador e Simões Filho. Além de denunciar graves violações de direitos humanos (direito de ir e vir e acesso à água, saúde, educação, moradia e trabalho),  o filme registra processos de negociações visando a solução dos problemas.

Em entrevista exclusiva ao CORREIO, Josias Pires fala sobre seu trabalho. Confira.

O que te motivou a fazer o documentário? A história de Rio dos Macacos é reveladora de como é fraturada a ideia de “nação” no Brasil, que se manifesta, particularmente, na histórica divisão da sociedade entre privilegiados e despossuídos. De outro lado, é motivador perceber a coragem daquelas pessoas em rebelar-se contra o estado de coisas limítrofe em que estavam, a um passo da expulsão do território e, ao reagirem e receberem o apoio da sociedade, fizeram seu protesto ressoar por todo o mundo.

Como foi a receptividade dos moradores à proposta? Nosso contato com os eles começou em 2011, quando fizemos um curta de 10 min, postado no YouTube; e continuou nos anos seguintes. O filme longo (120 min) foi feito com os quilombolas, inclusive temos diversas imagens no filme captadas pelos próprios quilombolas com câmeras de celular. Foi um processo de intensa colaboração deles e de muitas outras pessoas.

Você encontrou resistência da Marinha para a realização? Tentamos formalizar nossas relações com a Marinha, solicitando acesso à comunidade pela entrada da Vila Naval da Barragem, mas nossas comunicações nunca foram respondidas. Sempre tínhamos que entrar na comunidade em circunstâncias de alguma insegurança. Contudo, a Marinha nunca tentou impedir as filmagens.

Por quanto tempo filmou na comunidade? Entre 2011 e 2017, durante circunstâncias diversas.

Houve algum momento de acirramento durante as filmagens? As imagens do filme são de várias procedências. Reunimos cerca de 150 horas de gravações. Dessas, 75 horas foram feitas por nossas equipes e as demais são imagens de televisões, de outros cinegrafistas, muitas delas postas no YouTube e, como disse acima, reunimos também imagens feitas pelos próprios quilombolas, que são exatamente aquelas imagens que registram algumas situações mais graves de enfrentamento.

O que mais lhe impactou no processo de filmagem? A luta de Rio dos Macacos, mobilizando artistas, professores, profissionais de várias áreas, movimentos sociais, estudantes, ou seja, uma luta que mobilizou um grande arco, grande rede de apoio tem imenso potencial de crescer e obter vitórias. Apesar do futuro em aberto, nada está garantido, mas Rio dos Macacos fez uma luta vitoriosa.  Você continua acompanhando a situação no local?  Depois de seis anos envolvido com a realização do filme, continuo acompanhando a situação, porém afastado do território, pois estou engajado também em outras frentes de trabalho.