Papa Francisco recebe líder indígena brasileiro Raoni no Vaticano

Na semana passada, indígena encontrou presidente da França e marchou na Bélgica

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  • Da Redação

Publicado em 27 de maio de 2019 às 23:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: AFP

O papa Francisco recebeu, em audiência privada no Vaticano, nesta segunda (27), o líder indígena Raoni Metuktire, que atua no combate à devastação da Amazônia. A visita ao papa faz parte de uma sequência de viagens de Raoni por diversos países em busca de recursos e apoio para a preservação da floresta. 

Na semana passada, o cacique octogenário teve encontro com o presidente da França, Emmanuel Macron, e participou de uma marcha pelo clima, na Bélgica.

“Com este encontro, o papa Francisco quer reiterar sua atenção pela população e pelo meio ambiente da região amazônica e seu compromisso com a proteção da Casa Comum, o nosso planeta Terra”, explicou o porta-voz do pontífice, Alessandro Gisotti.

Considerado o papa mais sensível aos problemas ecológicos após a publicação, em 2015, da encíclica “Laudato Si”, Francisco convocou para outubro deste ano um sínodo ou assembleia de bispos sobre a Amazônia, a fim de proteger os povos desta região que abrange nove países e é considerada o pulmão do planeta.

“A audiência com Raoni também faz parte da preparação para a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Panamazônica, a ser realizada de 6 a 27 outubro, com o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para ecologia”, acrescentou Gisotti.

O líder Kayapó, que viaja acompanhado de outros três líderes indígenas do Xingu, tem sofrido com a devastação de seu vasto território, ameaçado pelo desmatamento, pelo agronegócio e pela indústria madeireira.

Os desmatamentos na Amazônia, inclusive, são um fenômeno que o próprio papa Francisco denunciou quando visitou, em janeiro de 2018, Puerto Maldonado,  uma cidade rural no sudeste do Peru que é cercada pela floresta amazônica.

A preocupação do papa com as ameaças contra esse santuário da biodiversidade coincide com a de muitas populações amazônicas, que estão se engajando cada vez mais para preservar os recursos naturais e os povos da floresta.

Essa também é a primeira vez que a Igreja Católica apoia oficialmente atividades concretas em favor da preservação do meio ambiente, inclusive com incentivo a práticas sustentáveis nas paróquias.

O cardeal brasileiro Cláudio Hummes, que é bastante próximo do papa e relator- geral do Sínodo a ser realizado em outubro, reconheceu, recentemente, em Roma, que a defesa da Amazônia ainda  gera muitas “resistências e incompreensões”.

“Os interesses econômicos e o paradigma tecnocrático são contrários a qualquer tentativa de mudança e estão prontos a se imporem com força, violando os direitos fundamentais das populações no território e as normas de sustentabilidade e proteção da Amazônia”, afirma Hummes.

Segundo o Vaticano, a Igreja de Francisco também está empenhada em proteger “os esquecidos” da Floresta Amazônica, as populações mais pobres.

A Amazônia é habitada por 390 povos com uma identidade cultural e uma língua própria, e tem cerca de 120 aldeias livres em isolamento voluntário. O território, compartilhado por nove países e habitado por cerca de 34 milhões de pessoas, abriga 20% da água doce não congelada do mundo, 34% das florestas primárias e de 30% a 50% da fauna e flora do planeta.

Na semana passada, o site G1 publicou uma reportagem especial sobre o desmatamento na Amazônia em que revelava que, nos últimos 30 anos, a Floresta Amazônica perdeu 953 mil hectares (o equivalente a seis cidades de São Paulo), em áreas onde o desmatamento deveria ser zero. Ou seja, reservas para 100% de  preservação  e que não poderiam ter florestas derrubadas.