Para convidados do Segundou, filantropia é investimento de longo prazo

Edu Lyra e Preto Zezé foram os convidados de Joca Guanaes e Carola Matarazzo

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  • Roberto Midlej

Publicado em 16 de agosto de 2021 às 22:04

- Atualizado há um ano

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A filantropia é um investimento que trará resultados a longo prazo e, por isso, exige paciência, principalmente por parte daqueles que doaram seu dinheiro ou trabalho. Esse foi um dos destaques no Segundou desta segunda-feira (16), que teve a participação de Edu Lyra, da ONG Gerando Falcões, e de Preto Zezé, da Cufa (Central Única das Favelas).

O programa apresentado no Instagram do CORREIO por Joca Guanaes está, em agosto, com uma série especial de entrevistas, com personalidades ligadas à filantropia. Neste mês, Joca tem dividido a apresentação com Carola Matarazzo, diretora do Movimento Bem Maior, que é parceiro do CORREIO nesta série especial, Segundou - Agosto da Filantropia.

Edu comparou a filantropia que deseja resultados imediatos a um restaurante de fast food, onde uma pessoa que está com pressa busca satisfação rápida: "É filantropia fast food porque às vezes a gente bota um dinheiro na filantropia e quer que tudo mude em cinco meses. E não muda. A gente está tentando tirar um passivo de centenas de anos no Brasil, envolvendo racismo, escravidão e desigualdade". 

Em seguida, Edu ressaltou que a filantropia precisa ser resiliente e não pode depender de questões partidárias ou ideológicas: "Se um governo começou algo, o governo seguinte não pode interromper".

Para Preto Zezé, a filantropia não pode substituir o papel do Estado, que recolhe impostos e deve aplicar em políticas públicas o valor que arrecada. "O que a gente faz, além de cobrar e colaborar, é dar uma resposta imediata aos nosso pares que estão morrendo. Então, não dá para assistir a 19 milhões de pessoas que estão morrendo de fome".

O líder da Cufa destacou também a importância das favelas e da população negra na economia nacional, ressaltando que ali se produz muita riqueza: "Além do carnaval, do futebol, da comida... falo da tecnologia, da inovação e dos milhares que estão indo para a universidade, da galera que tá fazendo negócio. Antes da pandemia, a favela movimentava R$ 119 bilhões [por ano] e a maioria que vive lá é negra e a população negra movimenta R$ 1,7 trilhão [por ano]". No entanto, ainda assim, essas pessoas muitas vezes estão excluídas das decisões do pais.

Edu concorda com o colega: "Queremos ser os principais atores da sociedade, queremos entrar na sala de decisão. Houve um erro brutal no Brasil nas últimas décadas: decide-se o que vai se fazer pelos pobres e as políticas caem na favela como um meteorito. Niguém pergunta o que relamente faz sentido para aquela população ou qual a demanda social daquele território".

O racismo também foi assunto do encontro. "O Brasil impõe que a gente tenha que ser preto 24 horas por dia. E o que é isso? É você ter que andar com a nota fiscal da coisa que você comprou, é você morar num bairro nobre e o porteiro pensar que você veio entregar comida e não é morador", disse Preto Zezé. 

O convidado disse também que o olhar estigmatizado sobre a favela precisa ser alterado. Para ele, as pessoas de fora dali não precisam ter um olhar de pena ou misericórdia sobre aquela comunidade: "Queremos um olhar que diga 'pô, eu quero ser sócio desse pessoal. Quero abrir um negócio com o pessoal da favela".

Zezé disse que a Cufa não parou de produzir novos projetos mesmo na pandemia. Uma das criações da organização neste período foi o Alô Social, que distribuiu mais de 500 mil chips a mulheres que residem nas favelas. "Notamos que principalmente as mães solteiras não tinham celular ou não tinham dados. Então, criamos o Alô Social, parceria da Cufa com a Favela Holding, de Celso Athayde. Isso aconteceu porque, numa pesquisa, notamos que 30% da renda na favela vem de negócios na internet", argumentou Zezé.

O Segundou da próxima semana (segunda, dia 23), às 19h, será com Eugênio Mattar, cofundador do Movimento Bem Maior.